quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Conselho do Brizola

A canção "Como Uma Onda" do Lulu Santos e Nelson Motta ressaltava: "tudo muda o tempo todo no mundo". Tá aí uma verdade teóricamente incontestável, isso porque até o comercial da poupança do Banco Bamerindus" que profetizava: "o tempo passa, o tempo vôa e a poupança Bamerindus continua numa boa" já nem existe mais, faliu há décadas. Todavia, nesta campanha eleitoral para presidente da república ficou absolutamente claro que algo realmente não mudou no Brasil. Tanto é verdade que o conselho do saudoso Brizola parace que foi dado ontem. Vejam com seus próprios olhos!


A Última Tricotada

O universo do Youtube é mesmo fascinante. Domingo passado eu mostrava para os meus amigos Suzigan e Vilma e para meus afilhados Zé Luis e Nina o belíssimo vídeo "O Acaso e a Borboleta". Daí surge a sugestão do site de outro vídeo relacionacionado. Tratava-se da animação "A Última Tricotada". Fantástico!! Compartilho com vocês aqui no blog. Valeu!!


The Independent: A mulher mais poderosa do mundo


Por Hugh O’Shaughnessy – do jornal britânico Independent, reproduzido na Carta Maior
http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm

A mulher mais poderosa do mundo começará a andar com as próprias pernas no próximo fim de semana. Forte e vigorosa aos 63 anos, essa ex-líder da resistência a uma ditadura militar (que a torturou) se prepara para conquistar o seu lugar como Presidente do Brasil.

Como chefe de estado, a Presidente Dilma Rousseff irá se tornar mais poderosa que a Chanceler da Alemanha, Angela Merkel e que a Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton: seu país enorme de 200 milhões de pessoas está comemorando seu novo tesouro petrolífero. A taxa de crescimento do Brasil, rivalizando com a China, é algo que a Europa e Washington podem apenas invejar.

Sua ampla vitória prevista para a próxima eleição presidencial será comemorada com encantamento por milhões. Marca a demolição final do “estado de segurança nacional”, um arranjo que os governos conservadores, nos EUA e na Europa uma vez tomaram como seu melhor artifício para limitar a democracia e a reforma. Ele sustenta um status quo corrompido que mantém a imensa maioria na pobreza na América Latina, enquanto favorece seus amigos ricos.

A senhora Rousseff, a filha de um imigrante búlgaro no Brasil e de sua esposa, professora primária, foi beneficiada por ser, de fato, a primeira ministra do imensamente popular Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ex-líder sindical. Mas com uma história de determinação e sucesso (que inclui ter se curado de um câncer linfático), essa companheira, mãe e avó será mulher por si mesma. As pesquisas mostram que ela construiu uma posição inexpugnável – de mais de 50%, comparado com menos de 30% – sobre o seu rival mais próximo, homem enfadonho de centro, chamado José Serra. Há pouca dúvida de que ela estará instalada no Palácio Presidencial Alvorada de Brasília, em janeiro.

Assim como o Presidente Jose Mujica do Uruguai, vizinho do Brasil, a senhora Rousseff não se constrange com um passado numa guerrilha urbana, que incluiu o combate a generais e um tempo na cadeia como prisioneira política.

Quando menina, na provinciana cidade de Belo Horizonte, ela diz que sonhava respectivamente em se tornar bailarina, bombeira e uma artista de trapézio. As freiras de sua escola levavam suas turmas para as áreas pobres para mostrá-las a grande desigualdade entre a minoria de classe média e a vasta maioria de pobres. Ela lembra que quando um menino pobre de olhos tristes chegou à porta da casa de sua família ela rasgou uma nota de dinheiro pela metade e dividiu com ele, sem saber que metade de uma nota não tinha valor.

Seu pai, Pedro, morreu quando ela tinha 14 anos, mas a essas alturas ele já tinha apresentado a Dilma os romances de Zola e Dostoiévski. Depois disso, ela e seus irmãos tiveram de batalhar duro com sua mãe para alcançar seus objetivos. Aos 16 anos ela estava na POLOP (Política Operária), um grupo organizado por fora do tradicional Partido Comunista Brasileiro que buscava trazer o socialismo para quem pouco sabia a seu respeito.

Os generais tomaram o poder em 1964 e instauraram um reino de terror para defender o que chamaram “segurança nacional”. Ela se juntou aos grupos radicais secretos que não viam nada de errado em pegar em armas para combater um regime militar ilegítimo. Além de agradarem aos ricos e esmagar sindicatos e classes baixas, os generais censuraram a imprensa, proibindo editores de deixarem espaços vazios nos jornais para mostrar onde as notícias tinham sido suprimidas.

A senhora Rousseff terminou na clandestina VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares). Nos anos 60 e 70, os membros dessas organizações sequestravam diplomatas estrangeiros para resgatar prisioneiros: um embaixador dos EUA foi trocado por uma dúzia de prisioneiros políticos; um embaixador alemão foi trocado por 40 militantes; um representante suíço, trocado por 70. Eles também balearam torturadores especialistas estrangeiros enviados para treinar os esquadrões da morte dos generais. Embora diga que nunca usou armas, ela chegou a ser capturada e torturada pela polícia secreta na equivalente brasileira de Abu Ghraib, o presídio Tiradentes, em São Paulo. Ela recebeu uma sentença de 25 meses por “subversão” e foi libertada depois de três anos. Hoje ela confessa abertamente ter “querido mudar o mundo”.

Em 1973 ela se mudou para o próspero estado do sul, o Rio Grande do Sul, onde seu segundo marido, um advogado, estava terminando de cumprir sua pena como prisioneiro político (seu primeiro casamento com um jovem militante de esquerda, Claudio Galeno, não sobreviveu às tensões de duas pessoas na correria, em cidades diferentes). Ela voltou à universidade, começou a trabalhar para o governo do estado em 1975, e teve uma filha, Paula.

Em 1986 ela foi nomeada secretária de finanças da cidade de Porto Alegre, a capital do estado, onde seus talentos políticos começaram a florescer. Os anos 1990 foram anos de bons ventos para ela. Em 1993 ela foi nomeada secretária de minas e energia do estado, e impulsionou amplamente o aumento da produção de energia, assegurando que o estado enfrentasse o racionamento de energia de que o resto do país padeceu.

Ela tinha mil quilômetros de novas linhas de energia elétrica, novas barragens e estações de energia térmica construídas, enquanto persuadia os cidadãos a desligarem as luzes sempre que pudessem. Sua estrela política começou a brilhar muito. Mas em 1994, depois de 24 anos juntos, ela se separou do Senhor Araújo, aparentemente de maneira amigável. Ao mesmo tempo ela se voltou à vida acadêmica e política, mas sua tentativa de concluir o doutorado em ciências sociais fracassou em 1998.

Em 2000 ela adquiriu seu espaço com Lula e seu Partido dos Trabalhadores, que se volta sucessivamente para a combinação de crescimento econômico com o ataque à pobreza. Os dois se deram bem imediatamente e ela se tornou sua primeira ministra de energia em 2003. Dois anos depois ele a tornou chefe da casa civil e desde então passou a apostar nela para a sua sucessão. Ela estava ao lado de Lula quando o Brasil encontrou uma vasta camada de petróleo, ajudando o líder que muitos da mídia européia e estadunidense denunciaram uma década atrás como um militante da extrema esquerda a retirar 24 milhões de brasileiros da pobreza. Lula estava com ela em abril do ano passado quando foi diagnosticada com um câncer linfático, uma condição declarada sob controle há um ano. Denúncias recentes de irregularidades financeiras entre membros de sua equipe quando estava no governo não parecem ter abalado a popularidade da candidata.

A senhora Rousseff provavelmente convidará o Presidente Mujica do Uruguai para sua posse no Ano Novo. O Presidente Evo Morales, da Bolívia,
o Presidente Hugo Chávez, da Venezuela e o Presidente Lugo, do Paraguai – outros líderes bem sucedidos da América do Sul que, como ela, têm sofrido ataques de campanhas impiedosas de degradação na mídia ocidental – certamente também estarão lá. Será uma celebração da decência política – e do feminismo.

Tradução: Katarina Peixoto

De: http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm

O Velho Tim Maia completaria hoje 68 anos





terça-feira, 28 de setembro de 2010

Editorial do Estadão - O mal a evitar

Fiz questão de publicar o editorial do Estadão fazendo um ataque grosseiro ao presidente Lula e aproveitando a "oportunidade" para declarar o apoio do jornal ao candidato do PSDB José Serra. A revista Carta Capital que mantem uma linha editorial coerente e respeitosa com seus leitores declarou logo no início da campanha o seu apoio à candidatura da Dilma. Os outros meios de comunicação que julgam mais importantes (vide Estadão: "...Com todo o peso da responsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas...) não tiveram a decência de tomar o mesmo posicionamento. Entretanto, faltando menos de uma semana para as eleições o "glorioso" jornal da burguesia paulistana decide declarar o seu apoio ao Serra. O curioso é que o faz justo num editorial que endossa todas as palavras do artigo aqui publicado do teólogo Leonardo Boff sobre o abuso de poder da grande mídia tupiniquim. Os crivos no texto são meus. Neles estão todas as evidências do abuso da imprensa burguesa no trato com o governo Lula e a tentativa de espalhar o pânico nacional sobre o futuro de nossa democracia. Mas apesar de todo esforço canalha da velha mídia patética, nós venceremos as eleições. Parafraseando o "velho Lobo" Zagalo: "eles vão ter que nos engolir".

A acusação do presidente da República de que a Imprensa "se comporta como um partido político" é obviamente extensiva a este jornal. Lula, que tem o mau hábito de perder a compostura quando é contrariado, tem também todo o direito de não estar gostando da cobertura que o Estado, como quase todos os órgãos de imprensa, tem dado à escandalosa deterioração moral do governo que preside. E muito menos lhe serão agradáveis as opiniões sobre esse assunto diariamente manifestadas nesta página editorial. Mas ele está enganado. Há uma enorme diferença entre "se comportar como um partido político" e tomar partido numa disputa eleitoral em que estão em jogo valores essenciais ao aprimoramento se não à própria sobrevivência da democracia neste país.

Com todo o peso da responsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas, o Estado apoia a candidatura de José Serra à Presidência da República, e não apenas pelos méritos do candidato, por seu currículo exemplar de homem público e pelo que ele pode representar para a recondução do País ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos. O apoio deve-se também à convicção de que o candidato Serra é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País.

Efetivamente, não bastasse o embuste do "nunca antes", agora o dono do PT passou a investir pesado na empulhação de que a Imprensa denuncia a corrupção que degrada seu governo por motivos partidários. O presidente Lula tem, como se vê, outro mau hábito: julgar os outros por si. Quem age em função de interesse partidário é quem se transformou de presidente de todos os brasileiros em chefe de uma facção que tanto mais sectária se torna quanto mais se apaixona pelo poder. É quem é o responsável pela invenção de uma candidata para representá-lo no pleito presidencial e, se eleita, segurar o lugar do chefão e garantir o bem-estar da companheirada. É sobre essa perspectiva tão grave e ameaçadora que os eleitores precisam refletir. O que estará em jogo, no dia 3 de outubro, não é apenas a continuidade de um projeto de crescimento econômico com a distribuição de dividendos sociais. Isso todos os candidatos prometem e têm condições de fazer. O que o eleitor decidirá de mais importante é se deixará a máquina do Estado nas mãos de quem trata o governo e o seu partido como se fossem uma coisa só, submetendo o interesse coletivo aos interesses de sua facção.

Não precisava ser assim. Luiz Inácio Lula da Silva está chegando ao final de seus dois mandatos com níveis de popularidade sem precedentes, alavancados por realizações das quais ele e todos os brasileiros podem se orgulhar, tanto no prosseguimento e aceleração da ingente tarefa - iniciada nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique - de promover o desenvolvimento econômico quanto na ampliação dos programas que têm permitido a incorporação de milhões de brasileiros a condições materiais de vida minimamente compatíveis com as exigências da dignidade humana. Sob esses aspectos o Brasil evoluiu e é hoje, sem sombra de dúvida, um país melhor. Mas essa é uma obra incompleta. Pior, uma construção que se desenvolveu paralelamente a tentativas quase sempre bem-sucedidas de desconstrução de um edifício institucional democrático historicamente frágil no Brasil, mas indispensável para a consolidação, em qualquer parte, de qualquer processo de desenvolvimento de que o homem seja sujeito e não mero objeto.

Se a política é a arte de aliar meios a fins, Lula e seu entorno primam pela escolha dos piores meios para atingir seu fim precípuo: manter-se no poder. Para isso vale tudo: alianças espúrias, corrupção dos agentes políticos, tráfico de influência, mistificação e, inclusive, o solapamento das instituições sobre as quais repousa a democracia - a começar pelo Congresso. E o que dizer da postura nada edificante de um chefe de Estado que despreza a liturgia que sua investidura exige e se entrega descontroladamente ao desmando e à autoglorificação? Este é o "cara". Esta é a mentalidade que hipnotiza os brasileiros. Este é o grande mau exemplo que permite a qualquer um se perguntar: "Se ele pode ignorar as instituições e atropelar as leis, por que não eu?" Este é o mal a evitar.

Publicado no Editorial do Jornal O Estado de São Paulo em 29/09/2010 (segunda-feira)

A Mídia comercial em guerra contra Lula e Dilma

Por Leonardo Boff

"Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta", escreve Leonardo Boff, teólogo.
Eis o artigo.

Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso” pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o “Brasil Nunca Mais” onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.

Esta história de vida, me avaliza fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a mídia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de ideias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.

Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando vêem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e xulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico, assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem deste povo.

Mais que informar e fornecer material para a discussão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.

Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido à mais alta autoridade do pais, ao Presidente Lula. Nele vêem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.

Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.

Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma) “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e não contemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo, (Jeca Tatu), negou seus direitos, arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continua achando que lhe pertence (p.16)”.

Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles tem pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascendente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidente de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.

Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados de onde vem Lula e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coronéis e “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa mídia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da mídia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palavra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.

O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.

Outro conceito inovador foi o desenvolvimento com inclusão social e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento / crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituídas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.

O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, ao fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial.

A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA (faz questão de não ver), protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.
O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: Que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e no fundo, retrógrado e velhista ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes.

Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das más vontades deste setor endurecido da mídia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construído com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.

Leonardo Boff, teólogo - 24/09/2010 (Do Site da Unisinos)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Fila Anda

*Neymar: "Just do It"

Por Tostão

Neymar e muitos jovens querem se exibir e mostrar que são ousados. Sempre foi assim. Hoje, mais

É PRECISO SEPARAR as coisas. Neymar tem chances de se tornar outro fenômeno do futebol. Muitos marcadores tentam pará-lo na trombada. Alguns acham ainda que Neymar quer humilhá-los.

Se Messi tentasse, no Brasileirão, driblar como fez nessa semana contra o Panathinaikos, passando a bola algumas vezes por debaixo da perna dos marcadores, receberia muitas pancadas.

Outro fato, que não anula o anterior, é que Neymar está exibicionista. Com quedas teatrais, tenta levar vantagem, chamar a atenção e enganar os árbitros. E ainda desrespeita o companheiro e o técnico do Santos.

René Simões, treinador do Atlético-GO, profissional respeitado, um dos raros que tentam dar um pouco de delicadeza e humanismo ao futebol, disse, ao escutar as palavras de Neymar durante a partida, que nunca viu, esportivamente, um jogador tão mal-educado e que estão criando um monstro.

Quis dizer monstro no sentido de não ter limites. Isso não é novidade na sociedade.
A necessidade de Neymar de mostrar que é ousado é a mesma de muitos jovens. Alguns chegam até a tirar a roupa e espalhar as imagens pela internet.

Neymar foi criado, desde menino, dentro do clube e por empresários, para se tornar um craque e uma celebridade, e não para ser um cidadão.
Precisam também parar de chamar Neymar de criança. Ele já tem 18 anos e é responsável por seus atos.

No passado, muitos atletas famosos eram também deslumbrados e transgressores. Como hoje, havia a transgressão salutar e desejável, a de não repetir a hipocrisia da vida social, e a transgressão inconsequente, como a de Neymar e a de outros jovens. O exibicionismo e a transgressão apenas ficaram mais exagerados.

Antes, as pessoas se sentiam culpadas por desejar o que não era permitido, mesmo se não fizessem nada. Hoje, a culpa é por não fazerem tudo o que desejam, mesmo o que é proibido. É uma sociedade gananciosa e narcisista.

O ex-craque Dirceu Lopes, que pecava por não ter nenhum deslumbramento, afirmava que ninguém estava preparado para a fama. Além disso, a fama empobrece o ser humano.
A sociedade do espetáculo, expressão criada por Guy Debord, em 1967, tem pressa. Neymar se tornou uma celebridade antes de se tornar um craque habitual da seleção brasileira.
Publicado no Jornal Folha de São Paulo em 19/09/2010 (Domingo)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Rádio Web Boca Livre, o show não pode parar!


Olá, amigos e parceiros da Rádio Web Boca Livre!

Lá se vão cinco anos desde que iniciamos este trabalho em favor da grande música brasileira. Mas a verdade é que o que parece simples tornou-se uma tremenda aventura. O universo virtual é, sem a menor dúvida, um grande desafio. Durante esses cinco anos enfrentamos todos os tipos de dificuldades para manter a Boca Livre na web que jamais poderíamos imaginar. Mas aqui estamos! Felizes por continuar a realizar um trabalho extremamente gratificante, afinal, que ofício poderia ser mais prazeroso que distribuir “pérolas musicais” nesse universo infinito. Certamente atingimos pessoas dos mais distantes lugares do planeta levando a fantástica música brasileira.

Depois de vencermos um por um dos problemas surgidos ao longo desse período, continuamos na luta. Os parceiros mais antigos perceberão a mudança no visual de nosso sítio, entretanto, a sua é essência continua a mesma, ou seja, tocar o melhor da produção musical brasileira. Nesse amplo cenário de possibilidades estéticas, rítmicas e melódicas continuamos pesquisando os grandes talentos do passado e lançando a audição para as novas promessas do presente. Esta é a razão da existência da Boca Livre. Divulgar os grandes artistas tupiniquins e sociabilizar com nossos parceiros ouvintes os tesouros musicais que surgem por todas as regiões deste imenso Brasil. Sim, “pérolas” belíssimas que, geralmente, são “pisoteadas” ou jogadas nos porões das gravadoras e dos grandes impérios da comunicação pelos “porcos” capitalistas que só visam lucros aviltantes com a comercialização da música, preferindo sempre a opção mais lucrativa divulgando criações menores de fácil aceitação popular em detrimento da imensa capacidade dos músicos brasileiros de criarem obras imortais.

A Boca Livre segue seu caminho na contramão desse mecanismo perverso. Aqui desfilam gênios musicais como Moacir Santos, Pixinguinha, Radamés Gnatalli, Capiba, Noel Rosa, Villa-Lobos, João do Vale, Cartola, Itamar Assumpção, Chico Buarque, Almir Sater, Lenine, Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo, Cazuza, Tom Jobim, João Gilberto; intérpretes sublimes como Elis Regina, Clara Nunes, Tânia Maria, Maria Bethânia, Flora Purin, Clementina de Jeus, Milton Nascimento, Miltinho, João Nogueira, Nelson Gonçalves, Tim Maia, Roberto Ribeiro; instrumentistas fantásticos como Ernesto Nazaré, Milton Banana, Wilson das Neves, Arthur Moreira Lima, Jacob do Bandolin, Altamiro Carrilho, Márcio Montarroyos, Hélio Delmiro, Nico Assumpção, Airto Moreira, Sivuca, o magnífico “bruxo dos sons” Hermeto Pascoal e novos talentos como Tereza Cristina, Pedrinho Miranda, Marcos Sacramento, Céu, Moyseis Marques, Bena Lobo, Rodrigo Campos. Evidente que a lista é quase infindável diante da qualidade musical de nossos conterrâneos, mas a citação destes nomes sugere a dimensão do potencial da Boca Livre.

Então, amigos e parceiros, cá estamos seguindo o nosso sonho de compartilhar com as novas e velhas gerações de todos os lugares do planeta, especialmente com nossos irmãos brasileiros, a diversidade e a riqueza de nossa música. A missão é não deixar que tanta coisa linda se perca de nós.

Beijo a todos!

www.radioweb.bocalivre.org

domingo, 19 de setembro de 2010

Trivial de Jimmy Hendrix

Há 40 anos Jimi Hendrix beijou o céu

Por Nilson Fernandes

Há 40 anos, no dia 18 de setembro de 1970, uma sexta-feira, pouco depois da meia-noite, James Marshall Hendrix, 27 anos, capotou afogado em seu próprio vômito devido a uma overdose do barbitúrico Vesperax, de sua namorada alemã Monika Dannemann (1946 - 1996), misturado com bebidas, principalmente vinho. O efeito foi tão forte que ele ficou entorpecido e não conseguiu reagir quando fortes golfadas de vômito lhe subiram pelo esôfago como uma reação do organismo. O líquido invadiu-lhe os pulmões, seu coração entrou em taquicardia enquanto ele se afogava e, finalmente, parou. O óbito ocorreu no quarto de Monika no Samarkand Hotel, em Notting Hill, Londres.
- Leia mais atavés do link abaixo extraido do Blog do Nassif. Vale a pena! Trata-se de um bom resumo da meteórica e marcante passagem de Hendrix pelo universo sonoro do Rock'n'roll. Foram postadas excelentes fotos da carreira de um dos maiores músicos de todos os tempos.

Aliados de Serra tratam derrota como favas contadas

Tucano fez a conta e concluiu que não há tempo para virada; Seria preciso retirar de Dilma cerca de 9,4 milhões de votos

Josias de Souza

A 15 dias do encontro dos eleitores com as urnas eletrônicas, integrantes das cúpulas do PSDB e do DEM jogaram a toalha.
O signatário do blog ouviu, nas últimas 48 horas, três caciques da oposição -dois tucanos e um ‘demo'.
Para atalhar as declarações protocolares, o repórter comprometeu-se a preservar a identidade dos interlocutores.
Sabendo-se protegidos pelo anonimato, os interlocutores discorreram sobre o desânimo que viceja ao redor de Serra.
Alcançado pelo celular na noite desta sexta (17), um líder tucano disse que a inviabilidade de Serra tornou-se "evidência matemática".
Munido de cálculos que encomendara à assessoria, o grão-tucano contabilizou o tamanho do desafio.
Para evitar que Dilma Rousseff prevaleça já em 2 de outubro, seria necessário retirar dela algo como 9,4 milhões de votos.
Dito de outro modo: até a data da eleição, a pupila de Lula teria de perder pelo menos 627 mil votos por dia.
"Se a gente olha os percentuais das pesquisas, fica desanimado. Quando o percentual vira número de votos, entende-se o por quê", disse o tucano.
Os cálculos foram feitos com base no último Datafolha. Consideraram-se apens os votos válidos, sem os brancos e nulos e os indecisos.
Os 57% atribuídos a Dilma correspondem a cerca de 74 milhões de votos. Os 30% de Serra, 36 milhões. Por trás dos 12% de Marina Silva, estão 16 milhões de eleitores.
Outro tucano que falou ao repórter realçou o fato de que Serra, "com erros e acertos", já fez "tudo o que podia na campanha".
No início, posou de oposicinista light. Repisou na propaganda a tese segundo a qual tudo o que funciona sob Lula seria mantido numa gestão tucana.
Alvejava Dilma, mas preservava Lula. Chegou mesmo a levar a imagem do presidente à televisão. A estratégia revelou-se improdutiva.
A partir do noticiário sobre a violação do sigilo fiscal de tucanos, o marketing de Serra elevou o timbre da campanha. E nada.
Sobreveio o episódio do tráfico de influência que produziu a queda da ministra Erenice Guerra (Casa Civil). O tucano resumiu:
"O Serra de hoje está distante do Serra dos primeiros dias da campanha como a Lua da Terra. E as pesquisas mostram que os dois Serras foram mal recebidos".
O cacique do DEM que se dispôs a falar ao blog revelou maior afeição pelo segundo Serra, o candidato de discurso mais agressivo. Porém...
Porém, mesmo líder ‘demo' disse que, a essa altura, o par de escândalos alardeados por Serra não devem abalar o favoritismo de Dilma.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Paixão de argentino pelo PT vira instalação na Bienal

*O artista argentino Roberto Jacob/fotografafo por Marcelo Justo/Folhapress

Por Ricardo Westin

Perto de 160 artistas do mundo todo darão forma à 29ª Bienal de São Paulo. A concorrência será grande, mas o argentino Roberto Jacoby já sabe que terá muitos holofotes voltados para si.
Jacoby, 66, é fã incondicional do Partido dos Trabalhadores brasileiro, e essa paixão será o chamariz de sua instalação nesta edição da Bienal, que será aberta no sábado da semana que vem.
No espaço que lhe coube no prédio do parque Ibirapuera, ele acaba de montar duas fotos gigantescas --de 4 m de altura e 5 m de largura cada uma-- que mostram um carrancudo José Serra (PSDB) e uma radiante Dilma Rousseff (PT).
Ao longo dos dois meses e meio da megaexposição internacional de arte, Jacoby terá cerca de 25 "cabos eleitorais" argentinos distribuindo panfletos, adesivos e buttons do PT e de sua candidata à Presidência da República.
Eles também são artistas e estão ajudando Jacoby na montagem da instalação. Todos estarão uniformizados com uma camiseta vermelha com os dizeres "Dilma" na frente e "Brigada Argentina por Dilma" nas costas.
"Somos a favor da continuidade do governo do PT, que tem sido importante para a democracia e a unidade na América Latina", explica, empolgado, Roberto Jacoby.Essas fotos de Dilma e Serra foram tiradas da internet e escolhidas por terem os direitos autorais liberados.

AMBÍGUA LIGAÇÃO

Para o artista argentino, a presença de Dilma Rousseff na Bienal é inevitável. Por determinação dos organizadores, a "estreita e ambígua ligação entre arte e política" é o mote que deve permear todas as obras.
A instalação de Jacoby leva o título "A Alma Nunca Pensa sem Imagem". Ali, além de verem os candidatos, os visitantes assistirão a palestras sobre arte e filosofia, ouvirão leituras dramáticas e participarão de oficinas de arte. Nas oficinas de serigrafia e desenho, aprenderão a fazer cartazes do PT.
"Tudo é artístico", diz Jacoby. "Estou trazendo para dentro, na forma de arte, o que acontece lá fora." Procurados pela Folha, os curadores da Bienal não quiseram falar dos "cabos eleitorais".

PATROCÍNIO

A Brigada Argentina por Dilma foi organizada só para a Bienal. Segundo Jacoby, não é ligada ao PT.
Os simpatizantes argentinos chegaram a pedir patrocínio ao Partido dos Trabalhadores. A ideia era, com o dinheiro, encher uma parede com estrelas vermelhas. O PT respondeu que não poderia contribuir porque a propaganda eleitoral está proibida em prédios públicos.
Essa instalação recebeu R$ 40 mil dos organizadores. A Bienal arrecadou R$ 30 milhões de empresas privadas, incentivadas pela renúncia fiscal da Lei Rouanet.
Os "brigadistas" ficam animados quando falam do presidente Lula, mas admitem que sabem pouco de Dilma.
"O que conheço é o que está na internet. Sei que é economista, muito capaz, estudiosa e se transformou em especialista em energia elétrica num país tão grande como o Brasil", afirma Jacoby. "De Serra, não sei muito."
Sobre as suspeitas que se levantam sobre a candidata na quebra de sigilos fiscais, minimiza: "Em todos os países há escândalos. Na Argentina, é a mesma coisa". O artista vê semelhanças entre Dilma e a presidente Cristina Kirchner: "Sofrem preconceito por serem mulheres e progressistas e por apoiarem os sindicatos e os sem terra".

*Publicado no Jornal Folha de São Paulo em 17/09/2010 (sexta-feira)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Sinais Trocados

*Verônica Serra, filha do candidato a presidente José Serra.

O jornalisata Leandro Fortes, um dos articulistas da Revista CartaCapital publicou na mais recente edição (613) uma matéria brilhante em que destrincha o envolvimento da extinta empresa de Verônica Serra que expôs os dados bancários de 60 milhões de brasileiros obtidos em acordo questionável com o governo FHC.

Vale a pena ler pra se ter a exata noção do "cara de pau" do Serra que vai ao ar pedindo lisura nas ações nas ações da Receita Federal no governo Lula quando a sua filhinha, supostamente, ganhou uma fortuna graças a informações privilegiadas nos tempos do desgoverno do FHC.


Leandro Fortes é jornalista, professor e escritor, autor dos livros Jornalismo Investigativo, Cayman: o dossiê do medo e Fragmentos da Grande Guerra, entre outros. Mantém um blog chamado Brasília eu Vi. http://brasiliaeuvi.wordpress.com

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Cotidiano – A lei não é pra todos

http://charges.uol.com.br

Outro link do charges.com.br – A charge foi inspirada, segundo o site, no questionamento de um internauta, José (São José dos Campos – SP) sobre a abrangência de uma lei feita para proteger as crianças brasileiras. A questão é bastante instigante, por isso decidi sociabilizá-la com vocês.

Secos & Molhados: Os Gerrilheiros - Pops X O Dragão da Maldade – I


Procurando na web a data oficial do lançamento do primeiro disco do grupo Secos & Molhados encontrei o site http://jeocaz.wordpress.com/2009/11/26/secos-molhados-o-gato-preto-cruzou-a-mpb que, além informar a data exata, faz um histórico detalhado da carreira desta banda que marcou profundamente a música brasileira. Portanto, deixo o link pra que vocês possam assessá-lo e conhecer mais sobre a história do grupo que contribuiu efetivamente com revolucionou na música tupiniquin.

Introduzindo o artigo do Marcelo Dolabela gostaria apenas de ressaltar a importância do Secos & Molhados a partir do olhar e da audição de um garoto de oito anos que vivia numa cidade com uma população entre vinte e trinta mil habitantes. Esse garoto era eu e a cidade Jataí, sudoeste do estado de Goiás.

O disco foi lançado no dia 6 de agosto de 1973. Eu completei 8 anos no dias 5 de agosto. Até então, a minha introdução no universo musical estava assentanda basicamente na música caipira de raiz (redundância), embora já ouvisse através da rádio Difusora de Jataí (AM) alguns sucessos dos Beatles, Stones, Chico Buarque, Caetano Veloso, Tim Maia, Rita Lee e, claro, os cantores populares Amado Batista, Agnaldo Timóteo dente outros. Mas sem dúvida, o forte ainda era Tonico e Tinoco e as grandes duplas caipiras da época.

Mas foi a partir da audição daquelas canções incríveis que o garoto viu seu universo sonoro virar de cabeça pra baixo. Quando me dei conta estava cantando cotidianamente "O Vira", "Rosa de Hiroshima", "Patrão Nosso de Cada Dia", "Assim Assado" e "Sangue Latino". Mas surpresa mesmo foi assistir ao lado de meu pai em setembro de 73, ao vivo e em "preto e branco", o clip de uma canção do Secos & Molhados no programa Fantástico da Rede Globo. Aquela imagem das cabeças cortadas cantando e servidas numa bandeja, certamente, foi um divisor de águas na minha vida. Posso afirmar categoricamente que a música, o visual e a coregorafia do grupo provomeu uma revolução no meu olhar infantil que me influenciaria por toda minha vida.

Daí a meu encantamento com o Secos & Molhados e o desejo de divulgar sempre a sua trajetória apoteótica! Hoje coleciono discos de vinil e devo ter umas doze edições desse primeiro disco. Já agraciei vários amigos com essa preciosidade e, sempre que encontro o disco em algum sebo, não reluto em adquiri-lo.

Há anos fui presenteado pelo amigo Manoel Napoleão com este artigo sobre o Secos & Molhados que publico abaixo. Por muito tempo ele ficou perdido na minha casa. Sempre que comentava sobre o grupo eu mencionava o texto. Confesso que já havia perdido a esperança de reencontrá-lo. Como não havia guardado o nome do autor, realmente, acreditei que guardaria na memória apenas a idéia geral do autor sobre a trajetória do grupo. Todavia, revirando a minha papelada acabei encontrando o artigo que agora compartilho com vocês. Espero que gostem!
Ah, o autor termina o texto avisando que na próxima semana publicará outro artigo sobre "as 13 canções do disco". Consegui estabelecer contato com ele e estou aguardando a referida publicação. Estou super curioso!!!

Marquinho

Secos & Molhados: Os Gerrilheiros - Pops X O Dragão da Maldade – I

Por Marcelo Dolabela

Assim como Deus e o Diabo estão nos detalhes, a História – que é o embate dialético entre essas duas forças (a divina & a diabólica), também está nos detalhes.
Entender os detalhes, que, às vezes, não são tão desprezíveis assim, como já faz a “escola” surgida a partir dos pressupostos de Walter Benjamin, dá uma nova dimensão aos grandes fatos.
No ano passado, comemoramos o trigésimo aniversário de um desses “detalhes” que, de forma nova e inusitada, nos permite ler e entender um pouco mais as etapas e as fases da ditadura militar.
Falo do ano de 1973, apogeu do “milagre brasileiro”, antevéspera da primeira “crise do petróleo”, na penumbra do governo do General Emílio Garrastazu Médici (1905-1985); e do primeiro álbum do grupo Secos e Molhados, o “detalhe” exuberante da “grande história”.
Em tudo, o álbum é surpreendente. Da capa às canções. Dos integrantes ao sucesso.
O Secos & Molhados foi criado em novembro de 1971, em São Paulo. A partir de uma mistura, bem ao feitio tropicalista, de estilos: rock, pop, glitter/glam rock, MPB, música latina, música portuguesa, e muita & boa poesia (Vinícius de Moraes, Cassiano Ricardo, Fernando Pessoa, Júlio Cortazar, João Apolinário – pai de João Ricardo -, Oswald de Andrade, Solano Trindade e Manoel Bandeira).
O núcleo central, em sua primeira fase (11/71 – 08/74), trazia o dublê de cantor ator Ney Matogrosso (Ney de Souza Pereira – Bela Vista – Mato Grosso, 01/08/41); o instrumentista, compositor, vocalista e cérebro do grupo, o português, radicado no Brasil, João Ricardo (João Ricardo Carneiro Teixeira Pinto. Ponte do Lima – Portugal, 21/11/1949) e o instrumentista, compositor e vocalista Gérson Conrad (São Paulo – SP, 15/05/1952).
No acompanhamento, os músicos: Zé Rodrix (teclados e sopros); John Flavi (guitarra); Emílio Carrera (piano, órgão, percussão e gaita); Willy Verdaguer (contra-baixo); Marcelo Frias (bateria); Norival D’Ângelo (bateria) e Sérgio Rosadas (flauta e ocarina).
O Grupo foi o encontro feliz entre idéias e canções de João Ricardo com a postura, a misèen-scene e a voz de Ney Matogrosso, mais a contraforma da contribuição fundamental de Gerson Conrad e os olhos e mente de Moraci do Val, o descobridor e empresário.
O álbum foi lançado, originalmente, no formato de long playing.
A capa do disco foi eleita, pela Folha de São Paulo, em 2001, como a mais importante da história da MPB. Com lay-out de Antonio Duarte Ambrósio, sobre fotografia de Antônio Carlos Rodrigues, a capa traz as cabeças-caras cortadas e maquiadas de Ney, João Ricardo, Gerson Conrad e do baixista Marcelo Frias servidas em pratos de papel-alumínio, entre cebolas, pães, feijão, defumados, tablete de manteiga e garrafas de vinho. Como se, antropofagicamentte, o grupo fosse servido em um banquete pop-popular. A logomarca “Secos e Molhados”, manuscrita e em púrpura, faz o contraste “glitter-underground” com a prosaica mesa de refeição. E remete à dúbia abreviatura do nome. Isto é, S&M também é a abreviatura de “sado-masoquismo”.
A maquiagem do grupo é outro ponto de destaque. Glitter, pré-Kiss e contemporânea de Alice Cooper (inclusive há uma “lenda” que foi a partir do visual do S&M que o grupo Kiss criou suas “personas-máscaras”), amplifica o gesto andrógeno e circense do arquétipo grupo carioca Dzi Croquettes, de Lennie Dalle e Cláudio Tovar.
O figurino potencializa as personas-máscaras. Hippies desnudos – em destaque Ney Matogrosso – reúnem traços de folguedos luso-brasileiros com bijuterias e balangandãs circenses e carmenmirandianos. Amalgamando maquiagem e figurino, a dança erótico-andrógena de Ney.
A parte melódica é de uma simplicidade ímpar. Qualquer aprendiz dos rudimentos de violão é capaz de executar as melodias. Poucos acordes, batida folk-rock com toques lusos, latinos e brasileiros. Base mais do que propícia e sedutora para os excelentes textos das canções. Sem dúvida, uma das seleções mais felizes de toda história da música brasileira.
Treze canções constroem um ópera-pop. Esse número – 13 – não parece ser gratuito, pois nos remete ao universo simbólico e metafórico da “sacis e fadas”, bem ao gosto da ideologia do grupo. Na semana que vem: as 13 canções do álbum.

Marcelo Dolabela, poeta.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Espinha e Fimose - Candidato Lesado 2

Posto mais uma charge do Espinha e Fimose dando sequência à candidatura do amigo "Lesado" (ops! Diego Arnaldo) discursando num palanque de comício.

http://charges.uol.com.br/2010/09/05/espinha-e-fimose-candidato-lesado-2

Organizações Serra marcham unidas rumo ao golpe?


Por Augusto da Fonseca

Estou a trabalho no interior da África, num lugar sem acesso à internet e sem informações do Brasil, que só me chegam através da minha neta de (agora) 4 anos, com quem converso por telefone uma vez por mês, quando vou à capital.

Fiquei sabendo, por ela, que o Serra está acusando a Dilma de quebra de sigilo da sua (dele) filha e de outros ínclitos companheiros de partido. Aproveitei a vinda à capital (que tem acesso discado à internet, acreditem!) para escrever estas bem traçadas linhas.

O fato da falsificação da procuração da Verônica Serra e a detecção da quebra de sigilo dela, dos companheiros do Serra e de mais 130 pessoas ocorreu em setembro de 2009. Nem a Dilma era pré-candidata do PT, nem o Serra do PSDB.

A definição da pré-candidatura única do PSDB (Serra) se deu somente em dezembro quando o Aécio, num lance de gênio, após ter sido humilhado e sacaneado pelo Serra (espero que não tenha sido chantageado com um tão falado dossiê), desistiu da pré-candidatura, deixando o Serra na mão, sem o Aécio de vice.

Como até a minha neta de 4 anos sabe, o Serra é o político brasileiro com mais inimigos políticos: apenas na sua coligação, podemos citar o Alckmin, o Aécio e todo o DEM, entre muitos outros e outras.

Dado esse quadro, algumas perguntas precisam ser respondidas pelo dedo-duro-mór José Serra:

1. É possível que tenha sido montado um dossiê com informações da Verônica, do Eduardo, do Ricardo, do Luiz Mendonça por seus inimigos políticos dentro da sua própria coligação?

2. Se o sigilo dessas pessoas foi quebrado em setembro de 2009, pelos supostos arapongas do PT, porque até hoje nada veio à público para beneficiar a campanha da Dilma?

3. Considerando os fatos de que à exceção da Verônica, todos os demais estão sendo processados, o que haveria de tão sigiloso nas declarações de imposto de renda dos companheiros do Serra que seria tão pior do que o que já é de conhecimento público?

4. O Serra é ingênuo de imaginar que os eventuais e ingênuos arapongas do PT pensariam que nas declarações de renda da Verônica haveria a prova cabal de que ela foi sócia da Verônica Dantas, irmã do Daniel Dantas?

5. O Serra e o PSDB acredita mesmo que acusar sem provas o PT e a Dilma lhe dá votos para exercer a Presidência? Não seria melhor ele se candidatar a algum cargo de promotor, já que gosta de acusar o tempo todo em vez de falar de política e de programa de governo?

6. As Organizações Serra (Globo, Folha, Estadão e Veja, entre muitos outros) precisam responder à uma pergunta não respondida ainda: porque o Aécio Neves, que tanto lutou pelas prévias no PSDB e que tinha o apoio maciço do DEM, desistiu tão facilmente de concorrer à pré-candidatura a presidente e ficou tão fulo de raiva que não aceitou de forma alguma a vaga de vice do Serra? O que o Serra teria feito de tão grave que "convenceu" o Aécio de que ele não poderia ser candidato a presidente? Finalmente, porque as Organizações Serra se calaram diante desse importante fato político e jornalístico?

7. Porque as Organizações Serra não suspeitam do Aécio e do DEM terem preparado um dossiê-antídoto ao do Serra, quebrando o sigilo da sua filha Verônica, só para mostra que podia fazer muito mais?

8. Porque as Organizações Serra não fazem matérias mostrando que, em oito anos de governo, Lula e Dilma não conseguiram desmontar a poderosa máquina PSDB-DEM montada na Administração Pública federal, com milhares de funcionários, com função de estado e concursados, que fazem oposição sistemática ao governo Lula, além de outros "servicinhos" de arapongagem?

Minha tese é essa: ou foi coisa dos profissionais do PSDB-DEM ou era mesmo um balcão de vendas de facilidades.

Porque custo muito a crer que o PT tenha feito todos esse levantamento de informações sigilosas e não tenha dado consequência a nenhuma delas, deixando a Dilma ao Deus dará dos resultados do magnífico governo do qual fez parte. Ou eles sabiam muito bem que a Dilma não precisaria, não precisou, não precisa e não precisará disso para se eleger a primeira Presidenta do Brasil. Para desespero da malta demo-tucana-pepessista.

Após este meu ato cívico, retorno ao interior africano, onde a humanidade começou :)

Abraços lulistas e dilmistas

Augusto da Fonseca
Texto postado no Fórum Permanente de Cultura do PT de Goiás no dia 4/09/2010

Ordem no caos

TOSTÃO

"Tornar simples o que é complexo é uma dificuldade de qualquer profissional"

QUANDO ENTREI no curso de psicanálise, imaginei que jamais entenderia as ideias de Freud. Logo percebi que seus textos eram tão claros, convincentes e simples, que até os mistérios da alma tinham lógica. Freud colocou ordem no caos.
Quando joguei ao lado de Pelé, percebi que uma de suas principais qualidades era tornar simples o que era complexo. Tudo se iluminava à sua frente.
Antes de a bola chegar, Pelé parecia me dizer, com seu olhar vivo e amplo, tudo o que ia fazer. E ele fazia, porque tinha uma excepcional técnica. Muitos pensam e não fazem. Outros fazem (mal), sem pensar.
Há muitos jogadores habilidosos, que ensaiam grandes jogadas, entretanto nada acontece, por falta de técnica e/ou porque não sabem os caminhos mais simples. Enrolam. Parecem talentosos, mas não são.
O talento vai muito além da habilidade. O talento é a união da habilidade, da técnica, da criatividade e de condições físicas e psicológicas.
Nada disso é suficiente se não houver o sopro, a chama, que ilumina e incendeia nossas vidas.
O mesmo ocorre em todas as atividades.
Assim como os melhores professores não são sempre os melhores médicos, os melhores treinadores não são sempre os que têm mais conhecimentos técnicos, táticos e informações. São os que possuem tudo isso e mais a capacidade de observar, intuir e simplificar.
Não existe também o ótimo técnico somente prático, que fala a "linguagem dos boleiros", sem ter conhecimentos científicos. A teoria sem a prática é incompleta. A prática sem a teoria é uma grosseira simplificação.
O jovem técnico do São Paulo, Sérgio Baresi, tem chamado a atenção em suas entrevistas pelo excesso de palavras e expressões técnicas, acadêmicas, algumas incompreensíveis.
Além da insegurança de um jovem, tentando mostrar seus conhecimentos, Baresi, por seus gestos e suas palavras, parece um estudioso, um CDF, que acabou de sair, após longo tempo, de um laboratório de pesquisas.
O repórter José Ricardo Leite, da Folha, mostrou, em uma ótima reportagem, que Baresi comanda treinamentos com cinco gols, cinco goleiros, realiza coletivos com mais de 22 jogadores e outros detalhes, além de distribuir pen drives e DVDs para os jogadores conhecerem os adversários. Tudo com base científica.
Tomara que Baresi não seja apenas um teórico. O futebol precisa de treinadores e de profissionais que saibam como fazer e que saibam fazer.

Publicado no Jornal Folha de São Paulo – Domingo – 05/09/2010

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O Universo Paralelo da Música Brasileira












Falar da pobreza e da monotonia musical brasileira comandada de forma pervessa pela grande mídia nacional já é lugar comum. Num País tão musical como o nosso é terrível ouvirmos nos diversos meios de comunicação sempre as mesmas coisas. Até parece que não temos pelos vários rincões do Brasil centenas de ritmos. Lamentável pra todos nós, mas especialmente pras novas gerações que não vão além da música sertaneja, axés e música estrangeira (leia-se estadunidense) de qualidade questionável.

Mas existe o universo paralelo da música brasileira. Enquanto os meios de comunicação escondem a fatura musical de nossos artistas e oferecem aos pobres mortais espalhados por esse país de dimensões continentais apenas“migalhas” da nossa diversidade rítmica, um outro universo cheio de inovações e criações fantásticas brotam nos morros, favelas, sertão, florestas, litoral e montanhas de todas as regiões do Brasil.

Neste final de semana navegando no http://www.unquetenha.org/ , um dos melhores blogs de postagem grátis de música pela internet descobri dois novos tesouros de nossa criação musical. Falo da dupla Lica Cecato e Romero Lubambo e Rodrigo Campos. A primeira uma intérprete de raro talento acompanhada ao violão pelo talentosíssimo Romero. Já Rodrigo Campos desponta com arranjos inovadores na tradicional MPB. Vale a pena conferir.

Aí vão os links desses discos que revelam mais três jovens talentos de nossa música.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O oito e o dez


TOSTÃO
Com Conca e Deco, dois meias diferentes, o Fluminense joga bonito e com eficiência

NO PASSADO, quando o "Jornal do Brasil", extinto a partir de hoje, era o grande jornal do país, quase todos os principais times do Brasil tinham um ótimo meia-armador, que costumava jogar com a 8, e um ótimo ponta de lança, que geralmente usava a 10.A maior dupla de jogadores dessas posições foi a da seleção, na Copa de 1970, com Gerson, de meia-armador, e Pelé, de ponta de lança. O 8 e o 10.
O meia-armador atuava de uma intermediária à outra. Era muito habilidoso, criativo, marcava e coordenava as jogadas de meio-campo. O ponta de lança era um segundo atacante, artilheiro, que recuava para receber a bola e fazer dupla com o meia-armador.
Os dois se completavam.Com o tempo, o meio-campo foi dividido entre os volantes, que quase só desarmam e quase só jogam do meio para trás, e os meias de ligação ou ofensivos, que quase só jogam do meio para a frente. Praticamente desapareceram os meias-armadores.
O atual meia ofensivo é diferente do ponta de lança. Este tinha características de atacante. O meia ofensivo tem mais características de um armador.
Nas últimas décadas, no Brasil e no mundo, sobreviveram poucos meias-armadores de grande talento. O francês Zidane foi o maior deles. Era uma mistura do antigo meia-armador com o atual meia ofensivo ou de ligação.
Não dá para comparar Conca e Deco com os maiores craques de outras épocas, ainda mais que Conca não é um ponta de lança e Deco não é mais o craque que foi quando jogava no Barcelona. Mas os dois juntos revivem no meu imaginário os grandes jogadores dessas posições.
Deco, meia-armador à moda antiga, gosta da bola, do passe, do domínio do jogo, enquanto Conca, meia ofensivo, gosta de levar a bola rapidamente para o gol e servir aos dois atacantes.
Não confundir esse tipo de dupla, de jogadores diferentes em posições e funções diferentes, com a escalação de dois meias ofensivos, como Montillo e Roger, da equipe do Cruzeiro. Nesse caso, não costuma dar certo.
Com Deco e Conca, o Fluminense tem mais a posse de bola e troca mais passes. Como muitos torcedores e jornalistas não estão mais acostumados a isso, vão afirmar, como já afirmaram durante a partida contra o São Paulo, que o time está lento, demorando a chegar ao gol. Uma ótima equipe precisa saber o tempo certo de reter a bola, cadenciar o jogo e de acelerar.
Conca e Deco fazem isso muito bem.
Corinthians, cem anos. Parabéns!

Coluna publicada no Jornal Folha de São Paulo - 1º/09/2010 (quarta-feira)