terça-feira, 31 de maio de 2011

Dream Team do Futebol

LOS GRINGOS - JUAN PABLO VARSKY

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Muito mais que histórico, este Barcelona é simplesmente impossível de se repetir
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EM 1992, Pep Guardiola conquistou a Copa dos Campeões em Wembley. O Dream Team estava em Barcelona. Mas não se tratava de seu time de futebol, treinado por Cruyff. O verdadeiro Dream Team disputou o ouro do basquete na Olimpíada de Barcelona. O time de Jordan, Magic, Bird, Pippen, Malone... venceu todas as partidas com imensas vantagens, deu espetáculos sempre, redefiniu seu esporte e, acima de tudo, deixou a sensação de que jamais voltaríamos a ver algo tão extraordinário.

Quando descobrimos o valor do que não pode ser repetido, esse registro do prazer vivido contrasta com certa nostalgia antecipada. "Saudade", diriam os brasileiros. Foi assim que saí do estádio de Wembley. Sentia ao mesmo tempo a certeza de ter visto tudo, o desejo de escutar pelo menos mais uma canção e a dúvida quanto a se poderia continuar a vê- los jogando juntos por muito tempo.

Num imenso e imponente pub no subúrbio de Londres, com quase 90 mil espectadores, assistimos a uma jam session inesquecível. O contrabaixista Xavi ditou o tempo com um conceito ao mesmo tempo simples e difícil: jogar com dois toques e se movimentar para oferecer opção de passe. O pianista Iniesta usava as teclas para mudar o ritmo. O baterista Villa mudava a partitura e complicava com seus movimentos em diagonal. E o trompetista Messi (mais Dizzy que Satchmo) fez soar os alarmes. Quando está em sua faixa preferida do campo, é impossível detê-lo. Vê-lo ao vivo representa outra dimensão.

Espanta por ter se tornado tão solidário com o time. Sabe como, quando e onde. Sempre. Esse timaço demora uma hora a perder a bola e três segundos a recuperá-la. Defende quando ataca e ataca quando defende. Seus atletas são solistas e acompanhantes ao mesmo tempo. A banda os potencializa. A perfeição existe. O futebol total também.

Deixa para trás o paradigma da fragmentação porque é "lírico" e "de resultado", "espontâneo" e "trabalhado". Está bem "preparado" fisicamente e é forte no plano mental. Oferece técnica individual e rigor tático. Deixa para trás preconceitos e rótulos.
E, acima de tudo, é um grupo de amigos, capaz de oferecer ao francês Abidal, que se recuperou de um tumor, o emocionante privilégio de erguer a taça como capitão. Em 2011, Pep Guardiola voltou a vencer a Copa dos Campeões em Wembley.
O Dream Team está em Barcelona de novo. Mas agora é o seu time. Muito mais que histórico e maravilhoso: simplesmente impossível de se repetir.
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Tradução de PAULO MIGLIACCI