terça-feira, 30 de novembro de 2010

'Dia Santo', o melhor disco do ano de 2009



Há meses escrevi um pequeno texto comentando sobre o "universo paralelo na música brasielira" dada a quantidade de jovens talentos despontando a todo tempo de norte a sul do País, apesar das rádios e as TVs insistirem em tocar apenas dois ou três ritmos.

Mas não voltei aqui para lamentar o leite derramado e sim para contar que me deparei com dois novos talentos incríveis da nossa música que acabaram de lançar os seus discos. Falo de Bárbara Eugênia (carioca residente em Sampa) e Jam da Silva (pernambucano residente no Rio de Janeiro).

O interessante é que você entra num círculo virtuoso fantástico. Eu estava fascinado com a interpretação, composições, voz e arranjos da Bárbara Eugênia e, assintindo um vídeo dela, acabei ouvindo a mesma citar que uma de suas gravações, Haru, era autoria de Jam da Silva. Ela fez questão de ressaltar o talento do garoto. Fui logo procurar o disco que ela comentou que ele havia gravado. Encontrei o cd "Dia Santo". Fantástico!!! O cd está postado no blog Discoteca Nacional. Deixo o link logo abaixo pra quem quiser conhecer o trabalho do Jam.

No blog eu pude também ler o belo artigo do Rodrigo Pinto, jornalista de O Globo, tecendo uma crítica super bacana sobre o trabalho do Jam que eu decidi postar aqui pra vocês.

Por Rodrigo Pinto, para O Globo
Em um ano em que Adriana Calcanhotto, Lenine, Roberto & Caetano, Skank, Frejat, Gilberto Gil, Tom Zé lançaram discos, só pra citar alguns entre os mais conhecidos de nossa música, e novatos e menos conhecidos como, Wado, Os Outros e Momo chegaram com ótimos trabalhos, escolho o melhor disco do ano o de estréia do percussionista e compositor Jam da Silva.

Produzido por ele e Chico Neves, "Dia santo" é um trabalho que despreza datas e rótulos, pronto para o mercado universal da música boa. Jam monta letras e arranjos em camadas, aproveitando o que a edição não linear (ou seja, vc desloca blocos de música sem precisar fazer cópias, colocando-os onde quer em sua linha do tempo musical) trouxe de melhor para a produção contemporânea. Assim, soma sons que coleta nas ruas aos que grava em estúdio, sozinho ou acompanhado pelos muitos participantes no CD.

- É um disco que leva meu nome, mas o processo é bem coletivo - ressalva. - Estas pessoas são muito minhas amigas. Não premeditei nada, nem sabia no que ia dar. Estou envolvido com música sempre. E estas pessoas estariam em qualquer churrasco em minha casa no Rio - complementa, referindo-se a colaboradores como Alberto Continentino, Isaar, Junio Barreto, Marcos Lobato, Iky Castilho, Wysa e Simone Soul.
Aberto a múltiplas influências e referências, o disco passa longe da vulgaridade, do previsível, e tem assinatura inconfundível e inimitável.

- Acho legal ser aqui e de qualquer lugar. Logicamente, uso elementos de coco, frevo, forró, mas a raiz está por baixo da terra, e pode ser que não soe para algumas como música de raiz, mas é.

Para quem não conhece Jam, é preciso dizer que este pernambucano radicado (ou enraizado, por que não) no Rio foi gravado por divas como Marisa Monte e Roberta Sá, integrou a orquestra Santa Massa, que por tanto tempo acompanhou o brilhante DJ Dolores, acompanhou gente como a francesa Camille e a banda FURTO, compôs para o cinema... enfim, o cara tem estrada.

Em "Dia santo", desconsidera formatos convencionais da música pop, desmonta a canção brasileira tradicional, extrapola convenções rítmicas para criar novos clássicos, como a música que dá nome ao CD - com auxílio da também pernambucana Isaar em um ótimo registro, em tom apropriado a sua voz - e ainda "Samba devagar", "O pedido", "Mania", "Dub das cavernas"... Vai tudo maravilhosamente bem, da pista à rede na praia ou ao MPB Player plugado nos ouvidos.

Amigos de Jam têm comentado duas coisas: primeiro, o desejo irrepreensível de que ele não cometa o equívoco que muitos músicos que levam a vida acompanhando outros músicos cometem, o de não dar prioridade à realização dos próprios shows; segundo, a curiosidade sobre como o homem vai tocar essa orquestra de grandes novidades ao vivo. Enquanto não vêm os shows, contente-se em ter "Dia santo". Para mim, o melhor de 2008.

A relação das músicas abaixo então no cd "Dia Santo" de Jam da Silva que você baixar através deste link:
http://discotecanacional.blogspot.com/2009/04/jam-da-silva-2009-dia-santo.html

01. Agô
02. Mania
03. Dia Santo, com Isaar
04. Samba Devagar, com Soba
05. Música Branca
06. O Pedido, com Junio Barreto
07. Macumba
08. Dub das Cavernas, com Moussu T
09. Capoeirando
10. Congachic
11. Chuva de Areia

Já que Xico Sá citou Gainsbourg...


Gainsbourg, artista, cantor, poeta, et.

No post anterior, comentando o disco da Bárbara Eugênia, Xico Sá fez questão de ressaltar que a música da garota tinha algo da sonoridade de Serge Gainsbourg:

"...Música cosmopolita contemporânea, maestro, devidamente matizada nas cores dos trópicos, com a Harley Davidson de Gainsbourg ao fundo, please, muito barulho nessa hora." (Xico Sá)

Então, pra quem não teve a sorte de saber desta figura impar na história da música contemporânea deixo os links abaixo. (Desculpem-me se pareço pretencioso. Não é isso, absolutamente. Apesar de ter ouvido muito este grande sucesso de Gainsbourg no Brasil só fui conhecê-lo de fato já na idade adulta)

Je t'aime... moi non plus
(quem de nós que tiver mais de 40 anos e não chafurdou nessa canção nas ondas das rádios AMs desse brasilzão, certamente vivia no exterior ou tinha problemas auditivos. rsrs)



http://dynamite.terra.com.br/blog/townart/post.cfm/mostra-apresenta-as-diversas-facetas-de-gainsbourg

Nasce mais uma estrela!!!!!

Bárbara Eugênia - Journal de BAD (2010)

Por Xico Sá

Não, amigo(a), para o bem ou para o mal, Bárbara Eugênia não é uma cantora/compositora “fofa” nem fez um disco idem. O mais fácil e confortável dos adjetivos da safra não lhe cabe, murmuro, digo, redundo, aposto, carimbo, cutuco: “Journal de BAD” vai além muito além, é disco grande. Guardemos a tentação ou ideia de fofura no bolso ou no palato. Fichas na jukebox, moedas na radiola, prepare seu espírito flamejante para um trilha passional capaz de reacender, num curto-circuito, todos os corações de néon da cidade, esquinas, fachadas, motéis, lares, cabarés, tudo muito romântico. “Bleeding my heart, oh no”, canta a moça, com a justa noção de que o amor cabe e estoura os gomos da pupila na levada psicodélica dos faróis. No acento do rock ou na chanson, principalmente nesta última, o amor cabe mais apertado ainda. Música cosmopolita contemporânea, maestro, devidamente matizada nas cores dos trópicos, com a Harley Davidson de Gainsbourg ao fundo, please, muito barulho nessa hora. Não obrigatoriamente um(a) cantor(a) se parece mais verdadeiro(a) quando interpreta e masca os seus próprios vocábulos, caso da maioria das faixas deste disco. Bárbara Eugênia, carioca que vive em São Paulo cercada de gente do mundo todo, se parece sim, crença nas suas composições, como quem acorda, pega a trilha de sonhos e submete ao assobio do namoro novo ou afoga tudo na quentura da manteiga que derrete nos cafés das manhãs. Na legítima fuga do amor que trava ou enferruja no calendário (“Agradecimento”) ou no medo do goleiro diante do pênalti (“A chave”), cuidado frágil – este lado para cima!-, aí vem a moça cronista do infortúnio e da ventura amorosa, cotidianos em desabridas letras. “Journal de BAD” é também um disco novo com o melhor dos sintomas modernos da música que se faz hoje no Brasil e em São Paulo: o ajuntamento de artistas como Junior Boca (guitarra, violão, produção e direção musical), Dustan Gallas (baixo, piano, órgão, teclados, mixagem e produção) e Felipe Maia (bateria), só para citar um trio de frente. Porque reparando ainda nos créditos, lá vem uma regravação de Fernando Catatau (“O Tempo”, Cidadão Instigado), uma composição de Junio Barreto, outra de Tatá Aeroplano, colaborações de Pupillo e Sá
Dengue (baixo e batera da Nação Zumbi), Otto na goela, Karina Buhr, Juliana R. Um mar de gente e de histórias. Conheci o “Journal de BAD”, com este mesmo título, ainda como uma espécie de newsletter afetiva distribuída por Bárbara Eugênia aos amigos e conhecidos. Aí está a origem do batismo. É o que este CD reverbera com seus arrastões de epifanias e encantos.