terça-feira, 26 de outubro de 2010

Foi Bolinha de Papel

Partido Alto Bolinha de Papel - Tantinho da Mangueira e Serginho Procopio

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Galera, eu já narrei aqui no blog a história do cantor e compositor Naire que acaba de ter sua música "Companheiro" na trilha da novela Araguaia da TV Globo. Agora acabo de receber do meu amigo Sidney de Goiânia o link da postagem que ele fez no YouTube com a abertura da novela Araguaia com a trilha original de "Companheiro" com o próprio Naire. Achei super bacana! Ah, só para assegurar os créditos: o Sidney foi a pessoa que me apresentou a música do Naire.

Classe Média - Max Gonzaga e Banda Marginal

O link abaixo apresenta a música "Classe Média" com Max Gonzaga e Banda Marginal. Ele me foi enviado pelo meu amigo Manoel Napoleão que o recebeu do aluno João Victor de Souza Cyrino, aluno dele no Campus Avançado da UFG em Jataí/Goiás. Eu já conhecia a música e achei bastante oportuno postá-la nesse momento da campanha presidencial em que a classe média brasileira está novamente mostrando os seus "medos" e preconceitos dos mais variados. Falando de preconceitos acabei me lembrando da música "Nuna Existiu Pecado" do grupo Barão Vermelho que aborda muito bem esse tema. Então decidi postar também o Barão levando esse rock balada super visceral.

"A rapidez velha do tempo
Revive inquisições fatais
Um novo ciclo de revoltas
E preconceitps sexuais

Por mais liberdade que eu anseie
Esbarro em repressões fascistas
Mas tô a margem disso tudo
Desse mundo escuro e sujo"



Nunca Existiu Pecado
(Roberto Frejat - Guto Goffi)


A rapidez velha do tempo
Revive inquisições fatais
Um novo ciclo de revoltas
E preconceitps sexuais

Por mais liberdade que eu anseie
Esbarro em repressões fascistas
Mas tô a margem disso tudo
Desse mundo escuro e sujo

Não tenho medo de amar
Pra mim nunca existiu pecado
Essa vida é uma só
Nesse buraco negro eu não caio

A esperança é um grande vício
Cuidado com suas traições
E não deixe de cuspir no lixo o gosto amargo das decepções

A humanidade tá um porre amenos
Não aprendeu a respirar
Quebrou pra esquina errada
E avançou os sinais

O dia em que até a Globo vaiou Ali Kamel


O chefe conduz a equipe para a vergonha

Passava das 9 da noite dessa quinta-feira e, como acontece quando o “Jornal Nacional” traz matérias importantes sobre temas políticos, a redação da Globo em São Paulo parou para acompanhar nos monitores a “reportagem” sobre o episódio das “bolinhas” na cabeça de Serra.
A imensa maioria dos jornalistas da Globo-SP (como costuma acontecer em episódios assim) não tinha a menor idéia sobre o teor da reportagem, que tinha sido editada no Rio, com um único objetivo: mostrar que Serra fora, sim, agredido de forma violenta por um grupo de “petistas furiosos” no bairro carioca de Campo Grande.
Na quarta-feira, Globo e Serra tinham sido lançados ao ridículo, porque falaram numa agressão séria – enquanto Record e SBT mostraram que o tucano fora atingido por uma singela bolinha de papel. Aqui, no blog do Azenha. você compara as reportagens das três emissora na quarta-feira. No twitter, Serra virou “Rojas”. Além de Record e SBT, Globo e Serra tiveram o incômodo de ver o presidente Lula dizer que Serra agira feito o Rojas (goleiro chileno que simulou ferimento durante um jogo no Maracanã).
Ali Kamel não podia levar esse desaforo pra casa. Por isso, na quinta-feira, preparou um “VT especial” – um exemplar típico do jornalismo kameliano. Sete minutos no ar, para “provar” que a bolinha de papel era só parte da história. Teria havido outra “agressão”. Faltou só localizar o Lee Osvald de Campo Grande. O “JN” contorceu-se, estrebuchou para provar a tese de Kamel e Serra. Os editores fizeram todo o possível para cumprir a demanda kameliana. mas o telespectador seguiu sem ver claramente o “outro objeto” que teria atingido o tucano. Serra pode até ter sido atingido 2, 3, 4, 50 vezes. Só que a imagem da Globo de Kamel não permite tirar essa conclusão.
Aliás, vários internautas (como Marcelo Zelic, em ótimo vídeo postado aqui no Escrevinhador) mostraram que a sequência de imagens – quadro a quadro – não evidencia a trajetória do “objeto” rumo à careca lustrosa de Serra.
Mas Ali Kamel precisava comprovar sua tese. E foi buscar um velho conhecido (dele), o peritoRicardo Molina.
Quando o perito apresentou sua “tese” no ar, a imensa redação da Globo de São Paulo – que acompanhava a “reportagem” em silêncio – desmanchou-se num enorme uhhhhhhhhhhh! Mistura de vaia e suspiro coletivo de incredulidade.
Boas fontes – que mantenho na Globo – contam-me que o constrangimento foi tão grande que um dos chefes de redação da sucursal paulista preferiu fechar a persiana do “aquário” (aquelas salas envidraçadas típicas de grandes corporações) de onde acompanhou a reação dos jornalistas. O chefe preferiu não ver.
A vaia dos jornalistas, contam-me, não vinha só de eleitores da Dilma. Há muita gente que vota em Serra na Globo, mas que sentiu vergonha diante do contorcionismo do “JN”, a serviço de Serra e de Kamel.
Terminado o telejornal, os editores do “JN” em São Paulo recolheram suas coisas, e abandonaram a redação em silêncio – cabisbaixos alguns deles.
Sexta pela manhã, a operação kameliana ainda causava estragos na Globo de São Paulo. Uma jornalista com muitos anos na casa dizia aos colegas: “sinto vergonha de ser jornalista, sinto vergonha de trabalhar aqui”.
Serra e Kamel não sentiram vergonha.

Acerte a bolinha de papel na cabeça do Serra

Amigos, depois daquela farsa bizzara do Serra indo a uma clínica fazer tomografia da cabeça por causa de uma bolinha de papel só nos resta brincar com a situação. Copie este endereço abaixo e comece a jogar. É o maior barato. Só não gostei da minha primeira perfance atirando as bolinhas de papel pois acertei apenas duas. Mas continuarei jogando. rsrsrs

http://www.gordonerd.com/jogo-acerte-a-bolinha-de-papel-no-serra?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed:+gordonerd+(Gordo+nerd

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Dilma é garantia do processo democrático

É só no governo Dilma que poderemos continuar lutando para transformar o crescimento em um outro tipo de desenvolvimento

Por Giuseppe Cooco


O medíocre desempenho eleitoral de José Serra nesse primeiro turno é consequência do esgotamento do discurso tecnocrático que, durante a breve hegemonia da macroeconomia neoliberal, tinha funestamente reanimado os mornos interesses das elites brasileiras.
Por trás da hipocrisia deslavada (até com a demonização dos direitos das mulheres), só resta a linguagem insensata do fundamentalismo economicista: o Brasil é um "custo" a ser "cortado". É a apologia dos meios (cortes dos custos) contra os fins (todos os brasileiros).
A vitória parcial, mas expressiva, de Dilma Rousseff contém muitos dos elementos inovadores desses oito anos de governo Lula: distribuição de renda, políticas culturais, democratização do ensino superior, formidável criação de empregos formais, demarcação das reservas indígenas e, enfim, uma política externa autônoma.
Contudo, na campanha do PT há também acentos do velho adágio: os fins justificam os meios. O crescimento (os meios) não precisa ser pensado, pois é justificado pelo fim (o desenvolvimento): uma siderúrgica se justifica por si.
A candidatura de Marina Silva foi o fato novo quando ela teve a coragem de dizer que os fins e os meios devem estar juntos. Cultura (desenvolvimento) e natureza não devem se opor, mas qualificar-se reciprocamente, na hibridização que eles são: natureza artificial e artifício natural!
Mas o modo como a "onda verde" juntou os jovens urbanos libertários aos piores fundamentalismos foi dramaticamente paradoxal: os meios e os fins acabaram se opondo entre si, de maneira insustentável.
O segundo turno desenha uma nítida alternativa. Por um lado, uma "coalizão dos meios" se apresenta como novo fundamentalismo abertamente reacionário. Seu regime discursivo é aquele do medo.
Não se sabe o preço social que todos pagaremos pelo leilão de paixões tristes (machismo, sexismo, racismo) atiçado pelos que nada têm a propor, a não ser uma virada protofascista.
Pelo outro lado, a "coalizão dos fins" pode se juntar aos meios e tornar-se sustentável diante dos novos desafios.
Se o capitalismo global inclui (explora) os pobres enquanto pobres fragmentos heterogêneos em competição no mercado, os pobres se organizam cada vez mais enquanto diferenças: favelados, negros, mestiços, mulheres, indígenas, quilombolas, gays, lésbicas, sem terra.
É aqui, nos pobres, que desenvolvimento e natureza estão juntos e o voto ecologista mantém sua potência. Para não ser capturada, a novidade da candidatura Marina deve apostar na democrática hibridização do social ("cultura") e da natureza (meio ambiente), ou seja, na junção da resistência contra a volta da "peste neoliberal" com as políticas dos pobres.
É só no governo de Dilma que poderemos continuar lutando para transformar a quantidade (o crescimento) em qualidade (um outro tipo de desenvolvimento). A sustentabilidade é aquela da mestiçagem das ondas vermelha e verde, para além de e contra os fundamentalismos.

Dias que condesam décadas

O ódio deles tem razão de ser. E seus métodos, é lamentável dizer, tinham de ser esperados por nós. Era previsível que agissem assim. Esperamos uma direita civilizada, ao contrário de tudo que nos diz nossa história. Se tivéssemos compreendido isso no primeiro turno, deveríamos ter nos mobilizado e nos preparado para a hipótese do 2º turno. Estamos vivendo aqueles dias que condensam décadas. Dias que decidem o destino da Nação e do povo brasileiro. Os militantes têm que ganhar as ruas. As pesquisas têm indicado uma consolidação da preferência do povo brasileiro. Isso, no entanto, não nos autoriza a descansar um minuto que seja.

Por Emiliano José

A ilusão na política é uma péssima companhia. De modo geral, esse pecado é cometido não só pela incapacidade de an alisar a correlação de forças como também da ausência de conhecimento histórico. Há muito que comentar sobre essa campanha. Como o Serra conseguiu, de longe, ultrapassar o Collor no jogo baixo, sujo, próximo do gangsterismo, do banditismo, envolvendo não só o que o professor Giuseppe Cocco chamou de leilão das paixões tristes (machismo, sexismo, racismo), como também a montagem de um impressionante aparato clandestino de comunicação, um esquema nacional de telemarketing destinado a caluniar, mentir, difamar, tudo dirigido contra uma mulher, Dilma Rousseff.

Cito esses poucos exemplos, para não fazer uma longa lista, que não cabe aqui. Depois da volta das eleições diretas, é a campanha em que a direita joga mais sujo, e talvez nossas ilusões não permitissem antecipar essa possibilidade. Quem sabe confiássemos num jogo democrático, quem sabe de alto nível. Quem sabe imaginássemos um Serra ainda envolto por sua herança pré-64, verde presidente da UNE. Quem sabe o quiséssemos pronto para o debate limpo, ele defendendo o projeto de Brasil que de fato advoga, o Brasil neoliberal, livre das amarras da presença do Estado, que deve ser, nesse projeto, cada vez mais mínimo, que me desculpem a expressão pleonástica. Um Estado voltado a reprimir, o Estado do uso da força, aliás uma de suas propostas mais caras e claras.

Nossas ilusões, talvez, incluíssem, sem que o quiséssemos, a abolição da luta de classes. Esquecemo-nos de lições antigas. Aquelas que aprendemos no passado, e que a vida democrática, tão prezada por nós e que devemos prezar sempre, pode nos levar a esquecer. Vem de Marx, o velho e sempre atual Marx, a lição de que toda a história da humanidade é a história da luta de classes. E nós podemos dizer, com tranqüilidade, que ela está mais viva do que nunca. E o Brasil dessas eleições é uma evidência disso. Os campos se definem claramente, e agora o que antes poderia parecer um jogo civilizado, deixou de sê-lo, e isso desde o primeiro turno, sem que acordássemos devidamente para isso. Descambou para o que sem medo de errar podemos chamar, como o fazíamos antes, de ódio de classe. Um ódio que faz questão de mostrar a cara.

A campanha do Serra mergulhou atrás do ódio. Tentou plantar na sociedade brasileira pelos métodos mais sórdidos a semente do ódio. Até o bordão de que comunista come criancinha voltou quase que literalmente, para sacrificar a mulher no altar hediondo de um moralismo medieval, como disse num texto para o Terra Magazine. Não importa que tantas mulheres, milhares delas, morram por ano no País devido à falta de atendimento por conta de abortos feitos em condições miseráveis, aviltantes, que atentam contra a dignidade humana. Não importa que ele mesmo, Serra, tenha, como ministro da Saúde, determinado o atendimento a essas mulheres. Ele mente, ele nega, e ele não cora ao mentir. É só lembrar o caso de Paulo Preto, que ele nega hoje, e amanhã o acolhe, temeroso da ameaça pública que o seu auxiliar lhe fez. O senso comum o compararia a Pedro, que negou Cristo três vezes, ou a Judas, que traiu Cristo, como diz a tradição bíblica. Talvez mais, muito mais Judas, do que Pedro.

Nós não tínhamos o direito de nos iludir. Não tínhamos o direito de ignorar as leis da luta de classes, que aprendemos com tanto rigor anteriormente. Será que ao nos convertermos à democracia, e digo nos convertermos porque durante algum tempo muitos de nós, da esquerda, a víamos como algo tático, será que então pensamos nela como um solene baile de valsa? Como um teatro onde todos se respeitam? Uma democracia onde as regras são aceitas e cumpridas? Onde os projetos são tratados habermasianamente? Todas essas ilusões se firmaram, talvez, porque nem nós mesmos ainda alcançamos a dimensão, o significado do projeto político que estamos encabeçando no Brasil, a importância que ele tem para o povo brasileiro e para o mundo, especialmente para os povos dos países mais pobres, os povos do Sul da humanidade.

Seria possível imaginar que esse projeto era do agrado de todos? Será que não compreendemos que esse era um governo de esquerda para as condições do Brasil e do mundo? E por isso suscetível de gerar tanto ódio? Será que não tínhamos a dimensão de que forças internacionais torcem, e queiramos que seja só torcida, para que esse projeto seja derrotado? Será que não sabíamos que o projeto político que estamos levando à frente criou uma impressionante rede de solidariedade entre nós e a América do Sul, o Caribe, a África, a Ásia? E que isso não pode agradar aos EUA? Será que um projeto que distribui renda como nós o fizemos, a maior distribuição de renda de toda a nossa história, ia ser tratado com punhos de renda pela direita brasileira?

O ódio deles tem razão de ser. E os métodos deles, é lamentável dizer isso, tinham de ser esperados por nós. Era previsto que eles agissem assim. Esperamos uma direita civilizada, ao contrário de tudo o que nos diz a nossa história. E digo isso não para afirmar qualquer coisa na linha de que deveríamos responder na mesma moeda. Se já tivéssemos compreendido isso desde o primeiro turno, deveríamos ter nos mobilizado, estimulado muito mais a nossa militância, deveríamos ter nos preparado para a hipótese do segundo turno, deveríamos também chamar para nós algumas teses caras à nossa juventude, tratado melhor os sonhos de tanta gente, que ainda quer ir além do que estamos fazendo, e ainda bem que há essa gente.

Temos poucos dias. Eles são decisivos. Estamos vivendo aqueles dias que condensam décadas. Aqueles dias que decidem o destino da Nação. O destino do povo brasileiro. Nossa inserção no mundo. Decide-se se o Brasil irá continuar a ser um protagonista central no mundo, um aliado fundamental dos países mais pobres, ou se voltará a ser vassalo dos grandes centros do capitalismo mundial, tal e qual o foi o governo demo-tucano, sob o professor Fernando Henrique Cardoso. Os militantes do PT, com sua vitalidade, seus sonhos de sempre, têm que ganhar as ruas, como estão fazendo mais e mais nas últimas horas. E têm que chamar a todos os que têm compromissos com esse projeto, da esquerda ao centro, para que não descansem até a vitória. As pesquisas têm indicado uma consolidação da preferência do povo brasileiro, que tem amadurecido muito nos últimos anos. Isso, no entanto, não nos autoriza a descansar um minuto que seja. Afirmar a democracia no Brasil é lutar para que esse País continue a distribuir renda e a crescer, e isso só é possível com a vitória de Dilma. O povo brasileiro vencerá.

Emiliano José é jornalista e escritor.
Publicada na Carta Maior.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Lembrando as mentiras colloridas

Por Wladimir Pomar

A campanha Dilma, mesmo tardiamente, se deu conta de que Serra se parece cada vez mais com Collor na campanha de 1989. Ele está procurando aplicar o mesmo estelionato eleitoral contra o povo brasileiro, combinando uma campanha midiática de promessas com a difusão massiva de mentiras e calúnias contra a candidata do PT.

Promete tudo, mesmo que as contas para realizar o que está prometendo representem dois ou três produtos internos brutos do país. Promete reforçar a Petrobrás, o Banco do Brasil e a CEF, mesmo que seu passado no governo FHC tenha sido o de tentar privatizar essas poucas estatais que sobraram da privataria selvagem daquele governo.

Promete melhorar a educação, embora sua participação no governo FHC tenha contribuído para quase liquidar as universidades e o ensino público no Brasil. Promete implantar o ensino técnico, embora no governo FHC tenha aplicado uma política de desmonte desse ensino e esconda que o governo Lula deu um salto na construção e funcionamento das escolas técnicas federais.

Promete salário mínimo de 600 reais, embora tenha concordado com as políticas de arrocho desse e de outros salários durante o governo FHC. Promete emprego pleno, embora tenha aplicado rigorosamente a política de desemprego pleno e de alastramento da miséria, que caracterizaram o governo FHC.

Promete crescimento econômico e desenvolvimento social, embora tenha contribuído para o desmonte da indústria nacional e para a subordinação do Brasil às ordens do FMI, segundo o qual crescimento causa inflação. Arvora como grande sucesso a implantação do real e do controle da inflação, embora esse sucesso tenha sido obtido à custa da economia nacional, que praticamente quebrou, e à custa do padrão de vida do povo, que desceu a um dos níveis mais baixos de sua história.

O sucesso de uma política anti-inflacionária se mede pelo grau de crescimento econômico e de emprego, como vem fazendo o governo Lula, e não pelo grau de quebradeira industrial e desemprego, como ocorreu no governo FHC. O uso de remédios que fazem o doente morrer "muito melhor", como a política aplicada por FHC-Serra, deveria ser considerado, na melhor das hipóteses, como erro médico ou, na pior, como crime contra o país e o povo.

A campanha suja contra Dilma segue o mesmo padrão de mentiras, lembrando a campanha collorida contra Lula em 1989. Lula seria analfabeto e incompetente, teria casa no Morumbi, possuiria dinheiro em paraísos fiscais, iria acabar com as religiões e fechar as igrejas, liberar o aborto, desapropriar ou dividir as casas, tomar as fábricas e os negócios, implantar o comunismo e dar o calote na poupança. Excetuando o calote aplicado por Collor, a campanha suja contra Dilma acrescentou a essas acusações a de que ela seria terrorista e lésbica, e teria assassinado inocentes.

Tudo isso era esperado por quem acompanhava as ações de PSDB e do DEM no parlamento e na imprensa. No entanto, a coordenação da candidatura Dilma acreditou que a campanha seria de "alto nível", como Serra prometia. Assim, ao invés de utilizar, desde o primeiro minuto do primeiro turno, o antídoto do debate político sobre os temas mais candentes da realidade brasileira, a coordenação da campanha Dilma acreditou que bastava a popularidade de Lula para garantir a vitória já no primeiro turno. Ficou arrogante e fez ouvidos moucos a todos os alertas sobre os perigos de sua política de "salto alto".

Para piorar, achou que a campanha midiática era a principal e desdenhou a experiência anterior do PT e de Lula, de que candidatos do PT só têm chances de vitória se amassarem o barro das ruas sem asfalto, onde ainda mora uma grande parte do povo brasileiro, e se realizarem uma campanha massiva de corpo a corpo com a população, incluindo comícios, carreatas e outras formas de contato direto com o eleitorado.

Em virtude, principalmente, desses dois erros estratégicos, a campanha Dilma permitiu que uma parte da esquerda e da juventude migrasse para Marina, que levantou bandeiras que historicamente eram do PT e da esquerda. O que propiciou a Serra escapar da polarização no primeiro turno, embora em nenhum momento tenha abandonado os dois veios principais de sua estratégia: promessas aos milhares e mentiras e calúnias constantes, neste caso com o apoio explícito de Veja, O Globo e outros jornais da grande imprensa.

Apanhada de surpresa com a ida ao segundo turno, a coordenação da candidatura Dilma, pelo menos na campanha na TV, começou a fazer o que deveria ter feito no primeiro turno. Tem respondido aos ataques de Serra e passou a desmascarar as promessas do candidato tucano, mostrando a incoerência do que fez durante o governo FHC e introduzindo um certo debate político sobre o futuro.

O problema é saber se isso será acompanhado da massificação dos contatos com o povo. Embora o tempo seja curto demais para saldar toda a dívida acumulada nesse terreno da estratégia, tal massificação talvez seja essencial para tirar do marasmo aqueles apoiadores de Dilma que acreditavam na vitória fácil e agora estão deprimidos com a dureza do embate. Sem jogar todas as forças no combate, a candidatura Dilma corre sério risco de assistir às mentiras colloridas vencerem mais uma vez.

Wladimir Pomar é escritor e analista político.
Pubicado em 18-Out-2010

Polícia Federal fecha gráfica do PSDB com panfletos e telemarketing difamatórios montados contra Dilma

18.10.2010

O coordenador jurídico da campanha da coligação Para o Brasil Seguir Mudando, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), anunciou medidas judiciais adotadas contra a distribuição de milhões de panfletos com logomarca da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e que orientam os católicos a não votar em Dilma Rousseff.
Segundo ele, a Polícia Federal vai investigar a origem dos panfletos, mas pelos nomes das pessoas envolvidas há fortes indícios de que a campanha adversária, de José Serra, esteja envolvida com a confecção dos impressos.
“Embora não possamos fazer acusações definitivas, há indícios veementes que esse panfleto pode ter sido produzido pelo nosso adversário. A gráfica tem como sócia Arlety Kobayashi, irmã de Sérgio Kobayashi, que é o coordenador de infraestrutura da campanha do candidato José Serra. É indiscutível a relação da proprietária da gráfica com o PSDB e com o candidato José Serra. Sendo assim, é evidente que não poderíamos deixar de ter postura pública e pedir explicação sobre esses fatos”, analisou Cardozo.
O que a campanha quer, segundo ele, é apontar quem encomendou, quem pagou e quem distribuiu os panfletos. “Não se pode achar que seria feito por amadores. É um custo altíssimo, e a distribuição é difícil. Se fosse o PT, por exemplo, para distribuir esses 20 milhões de panfletos, teria que convocar toda sua militância”, analisou.
Polícia Federal
Ontem, a pedido da coligação, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que a Polícia Federal apreendesse 1,2 milhão de panfletos na gráfica Pana, na região do Cambuci, em São Paulo. Mas, segundo o PT, o dono da gráfica afirmou que o pedido inicial seria de 20 milhões, que ele não teve como atender.
Até agora, ninguém assumiu a autoria dos panfletos. A CNBB divulgou nota dizendo que desautoriza a publicação e que não tinha conhecimento da distribuição dos panfletos. A campanha tucana também se manifestou dizendo que tem não relação com a história.
O presidente estadual do PT, deputado Edinho Silva, contou como o partido descobriu os milhões de panfletos. Segundo ele, um cidadão foi encomendar um serviço da gráfica, viu os panfletos e resolveu denunciar. Ele telefonou no sábado para o secretário de comunicação do partido e, como o diretório estadual estava reunido, foi possível fazer a mobilização.
“Quero dar os parabéns porque a denúncia partiu de cidadão que se revoltou e avisou o PT. E reconhecer a determinação da nossa militância, pois da denúncia até a apreensão teve uma vigília na gráfica para evitar que o material fosse retirado”, disse Silva.
Telemarketing
Cardozo informou também que ainda hoje a campanha ingressará com um pedido de investigação junto ao TSE contra uma campanha de telemarketing que está sendo realizada pelo candidato adversário.
“Há relatos em matérias dos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas de pessoas em todo Brasil que estão recebendo ligações de uma central de telemarketing. Pedem se há algum eleitor de Marina Silva na casa e daí se faz propaganda contra Dilma Rousseff, com calúnias e difamações. Essa é uma prática ilegal. Há que se perguntar quem tem recursos para pagar esse tipo de campanha, que é caro. Estamos diante de uma eleição dura e disputada, mas há regras. Quem faz críticas não pode fazer no subterrâneo. Ética não pode ser usada de forma retórica, quem age com ética faz crítica à luz do dia”, disse o coordenador da campanha.
Ele fez um apelo aos eleitores e cidadãos para desmontar a central de boatos. “Pedimos que se as pessoas receberem telefonemas de telemarketing desse tipo gravem e nos passem, para nós denunciarmos os autores. Estamos criando e-mail em defesa do comportamento ético das eleições (denuncie@btadvogados.com.br). Aquele que receber informações indevidas nos avise para chamarmos os policiais e acionarmos o TSE. Queremos chegar aos autores dessa questão”, pediu.

Professores denuncial bonapartismo de Serra

*Manifesto em Defesa da Educação Pública

Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.
Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das Universidades federais.
Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política de sucateamento da Rede Pública. São Paulo foi o único Estado que não apresentou, desde 2007, crescimento no exame do Ideb, índice que avalia o aprendizado desses dois níveis educacionais.
Os salários da Rede Pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores qualificados e a desestimular quem decide se manter na Rede Pública. Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.
Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se. As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas. Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados.
No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais. Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor.

*Este manifesto foi assinado por várias centenas de professores de univerdidades públicas do Brasil.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Flagrante: Panfletos Falsos da CNBB - Apreensão em SP

A Hora da Escolha

Por Silvio Caccia Bava - Le Monde Diplmatique

A campanha eleitoral do PSDB e das elites conservadoras neste ano traz características surpreendentes, porque consideradas superadas há muito tempo. É um renascer conservador que usa de todos os métodos, manipula, distorce, falseia, na tentativa de seduzir o eleitor sem dizer a que veio sem apresentar sequer um programa de governo.
Temas como a crença em Deus, o aborto, a liberdade de imprensa, a corrupção, dominam a agenda eleitoral e, em si, já demonstram que não é o futuro do Brasil que os preocupa, mas desclassificar e derrotar seus adversários por quaisquer meios. E é tal a manipulação que, neste momento eleitoral, apresentam estes temas como se fossem da alçada de decisões da Presidência da República, o que não é verdade.
A separação entre a Igreja e o Estado é um dos princípios que funda o Estado moderno, que também é assegurada na Constituição de 1988 e em todos os países ocidentais. Crer ou não em Deus, ter ou não uma religião, são temas da vida privada, de foro pessoal, e assim devem continuar para garantir o respeito à diversidade e pluralidade culturais, fundamentos da democracia e da paz, ou voltaremos aos tempos das inquisições e da fogueira para sacrificar os hereges.
A descriminalização do aborto não é uma “política para matar criancinhas”, como declara solertemente a oposição. É uma questão de saúde pública que se propõe para evitar a morte de milhares de mulheres, condenadas a enormes riscos ao realizarem seus abortos de forma precária e clandestina, sem qualquer apoio do poder público. E é importante frisar que também aqui, neste caso, a decisão por adotar estas políticas não é da Presidência da República, mas sim do Congresso Nacional.
A questão da corrupção, ela sempre esteve presente na política brasileira, na democracia das elites, que se servem deste expediente na defesa de interesses privados, afrontando a dimensão pública e o interesse coletivo. Se é verdade que os expedientes do “dá lá, toma cá”, estão presentes também no atual governo, o que é lamentável e demanda uma reforma política para instituir controles democráticos efetivos sobre Executivo, Legislativo e Judiciário, não dá para o PSDB posar de vestal, basta lembrar as denúncias da compra de votos que permitiram a FHC modificar a Constituição e ter seu segundo mandato.
Esta agenda eleitoral, fundamentalista e despolitizada, que não trata das questões que importam para o futuro do país, só ganhou importância pelo destaque que a mídia lhe deu – TVs e jornais – que atuaram de maneira articulada, impondo sua versão dos fatos e tentando transformá-la em realidade. Nunca é demais lembrar que uma das questões centrais da democratização de nosso país é retirar do controle de apenas 9 famílias estes meios de comunicação. A tão propalada ameaça à liberdade de imprensa nada mais é que a defesa deste oligopólio, que por sua vez representa o conservadorismo, agora mais radical neste fim de campanha eleitoral.
Assistimos a um deslocamento ideológico onde o PSDB passa a ocupar o lugar do DEM, e o PT o lugar do PSDB. Esta situação abriu um espaço à esquerda no espectro político. Se Marina tivesse se aliado aos pequenos partidos à esquerda, que nasceram como dissidências do PT, poderíamos ter tido uma opção eleitoral à esquerda, mas este não foi o caso, como se pode ver com o alinhamento informal do PV à candidatura do PSDB. Marina paga agora o preço de sua ingenuidade.
A expressiva votação de Tiririca para deputado federal combina com a despolitização desta campanha e com um sentimento de rejeição pela política e pelos políticos de importantes setores da população, que desconfiam da falsidade das campanhas eleitorais e desta manipulação midiática. Afinal, como as candidaturas à presidência prometem mais creches, escolas, saúde, se estes equipamentos e serviços são responsabilidade dos governos municipais? Por que não falam de cambio, política externa, integração regional, projeto de desenvolvimento?
A verdade é que as candidaturas se dobraram à lógica das pesquisas eleitorais e das estratégias de marketing. Falam o que o eleitor quer ouvir. Prometem como sempre prometeram, a cada eleição. O importante nas condições atuais é construir critérios para avaliar as opções. E um deles pode ser o de comparar os governos que estes dois partidos realizaram e avaliar não só o quanto cumprem de suas promessas, mas o que fizeram pelo povo brasileiro.
Embora eles não estejam enunciados com clareza, existem dois projetos para o Brasil em disputa. O do PT é a continuidade de um processo de crescer favorecendo as grandes empresas nacionais e redistribuindo alguma (pouca) riqueza, permitindo a inclusão dos mais pobres. É a isso que se chama social democracia, uma antiga bandeira do PSDB. Já o projeto do PSDB é radical no sentido de favorecer o livre mercado, como se estivéssemos nos anos 90... E o livre mercado não tem nenhum projeto de desenvolvimento autônomo para o Brasil e nem se preocupa com o interesse público. Não é preciso dizer que esta opção só favorece as elites tradicionais, que se transformam em sócias menores do capital internac ional, quando o fazem. Nesse caso, nossas riquezas irão beneficiar outros senhores e a desigualdade aumentará.
Mas, mesmo com estas condições que deixam tanto a desejar, temos que fazer uma escolha. Para muitos não será uma escolha pela sua identidade pessoal com um projeto político. Terá de ser uma avaliação em função das opções concretas. Falo especialmente para os que votaram em Marina no primeiro turno, para os que anularam o voto, para os que se abstiveram.

Publicado originalmente no Le Monde Diplmatique
Silvio Caccia Bava
Diretor e Editor Chefe

Manifesto Mulheres com Dilma por um Brasil soberano, justo e igualitário.

Nós formamos uma onda, nós somos um movimento que se espalha pelo país. Nós somos Mulheres com Dilma Para Presidenta do Brasil. Somos negras, somos brancas, somos trabalhadoras, somos indígenas, somos mães, somos lésbicas, somos rurais, somos urbanas, de todas as regiões, com diferentes credos e convicções políticas. E, assim como Dilma, somos mulheres que sempre lutaram pela Democracia e por um país com justiça social.

Nestas eleições, queremos dizer ao mundo que não podemos abrir mão de todas as conquistas sociais e do trabalho, construídas nos oito anos do Governo Lula. Não queremos retrocessos. Queremos avançar na construção de um Estado democrático, com soberania nacional. Queremos um Estado que respeite todas as religiões, mas que não seja controlado por nenhuma delas

Vamos seguir em frente organizadas e decididas a nos manter em movimento permanente pela democracia no país e no mundo. Queremos construir novas formas de organizar a vida social, com paz, com direitos, queremos uma nova economia, justiça ambiental e redistribuição da riqueza produzida. Queremos uma vida sem violência, com liberdade e com autonomia. Queremos partilhar e transformar os espaços públicos de poder e decisão.

Para nós Dilma é parte da heróica geração que cumpriu um papel democrático na luta contra a ditadura militar, é parte das forças que impulsionaram a democracia ativa no nosso país, é parte comprometida com a reconstrução das funções públicas do Estado brasileiro e com a promoção de uma inserção soberana dos países do sul no diálogo internacional.

Estamos com Dilma porque nela reconhecemos coragem, compromisso e ousadia para aprofundar os processos iniciados no Governo LULA.Estamos com Dilma para barrar o retorno ao poder do projeto liberal conservador.Estamos com Dilma por uma educação inclusiva, não-sexista e não-racista, pela garantia da saúde e o pleno exercício dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, por seu compromisso em promover a nossa autonomia econômica. Estamos com Dilma pelo direito a terra, aos recursos econômicos e ao desenvolvimento rural sustentável para as mulheres do campo e pela da ampliação dos investimentos em projetos de infraestrutura, moradia e mobilidade que melhorem a vida das mulheres. Estamos com Dilma pela garantia e compromisso com o enfrentamento a todas as formas de violência contra a mulher, ampliando-se os recursos necessários à implementação do Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres e à adequada aplicação da Lei Maria da Penha. Estamos com Dilma pela garantia do fomento ao desenvolvimento de políticas que viabilizem o compartilhamento das tarefas domésticas e de cuidados, entre homens, mulheres, Estado e sociedade. Sabemos que a eleição de Dilma representa um passo importante na construção da igualdade entre homens e mulheres e que apenas o projeto que ela representa garantirá nosso avanço em direção a uma sociedade mais justa, solidária, igualitária e soberana. Estamos com Dilma porque queremos ser protagonistas das mudanças que farão deste um país mais justo e igualitário.
Nós subescrevemos:

Para assinar clica em emcaminhar, vá ao final da lista coloque o seu nome e enviei para o seu mailing, com cópia para:

manifestomulherescomdilma@gmail.com

DILMA - Oscar Niemeyer, Chico Buarque e Leonardo Boff lideram manifesto de artistas e intelectuais

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Revisitando Maiakovisk. Ou sobre o silêncio pode ser mortal

Por Luiz Mello

Quando adolescente, no final dos anos 70, uma das máximas da resistência ideológica de minha geração era um trecho de poema atribuído ao russo Maiakovski, mas que é de Eduardo Alves da Costa. Intitulado No caminho com Maiakoviski, em um trecho diz assim: “Na primeira noite eles se aproximam / e roubam uma flor / do nosso jardim. / E não dizemos nada. / Na segunda noite, já não se escondem; / pisam as flores, / matam nosso cão, / e não dizemos nada. / Até que um dia, / o mais frágil deles / entra sozinho em nossa casa, / rouba-nos a luz, e, / conhecendo nosso medo, / arranca-nos a voz da garganta. / E já não podemos dizer nada”. Creio que é hora de dizermos:

SOMOS LÉSBICAS, TRAVESTIS, GAYS E TRANSEXUAIS. SOMOS MULHERES E FAZEMOS ABORTOS. REIVINDICAMOS ACESSO IGUALITÁRIO AO CASAMENTO, À UNIÃO ESTÁVEL, AO DIVÓRCIO, À INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL, À BARRIGA DE ALUGUEL, À ADOÇÃO. QUEREMOS TER DOIS PAIS HOMENS OU DUAS MÃES MULHERES. SOMOS CATÓLICOS-AGNÓSTICOS-UMBANDISTAS-EVANGÉLICOS-ATEUS E ESTAMOS EM TODOS OS LUGARES.

Não há nenhuma necessidade real de pertencermos a qualquer desses grupos ou de desejarmos usufruir qualquer dos direitos que lhes são negados. O fundamental é ter a clareza de que não se trata apenas de uma ameaça à cidadania e mesmo à sobrevivência física de pessoas homossexuais, travestis, transexuais e de mulheres heterossexuais, embora a garantia de seus direitos humanos seja um imperativo absoluto. Num nível além das aparências mesquinhas, o que está em jogo é algo precioso para todas as pessoas, por serem princípios fundamentais da vida democrática: a laicidade do Estado, a liberdade e autonomia dos indivíduos, a garantia da igualdade na esfera pública.
Agora são as mulheres e os segmentos LGBT os alvos do desejo de morte física e simbólica dos que se auto-intitulam representantes da única concepção aceitável de vida e de humanidade. Amanhã continuarão a ser eles, concretamente expulsos de seus trabalhos e perseguidos rua afora, por termos feito abortos ou por amarmos um igual... Depois de amanhã, ... poderá ser qualquer um que se torne o o(a)bjeto da ira dos intolerantes seguidores de um deus inventado para justificar uma lógica perversa de manutenção de privilégios, para os de sempre: machos-dominantes-heterossexuais e os que com eles se macomunam. Basta olhar quem são os donos do poder e quem ocupa majoritariamente os espaços de decisão política de nossa sociedade – nos poderes legislativo, judiciário e executivo, nas igrejas, no tráfico de drogas, na estrutura policial, etc.
Não sei se é lenda, mas há alguns anos ouvi uma história incrível: quando os nazistas invadiram a Dinamarca, não conseguiram prender grande número de gays e lésbicas, diferentemente do que ocorreu em muitos outros países durante a segunda guerra mundial. Antes que as prisões se tornassem um fato irremediável, centenas de milhares de dinamarqueses começaram a usar voluntariamente em suas roupas o símbolo do triângulo rosa invertido, empregado por nazistas para identificar homossexuais nos campos de concentração. A solidariedade foi a fonte da resistência. Não é à toda que muitos anos depois a Dinamarca tornou-se o berço dos direitos conjugais de lésbicas e gays na contemporaneidade.
Apenas por muito pouco estamos hoje distantes das mãos dos que se sentem no direito de dizer quem deve e quem não deve viver – e como viver -, seja por razões de Estado, seja por razões religiosas. Isso é inaceitável. Quando um grupo de pessoas se vê na iminência de perder direitos de cidadania e humanos por terem se tornado o bode expiatório da vez, toda a estrutura democrática da convivência humana está ameaçada. Num momento em que o machismo homofóbico é nitroglicerina pura e o combustível ideológico das igrejas nas disputas de poder relacionadas a um projeto de sociedade que nega direitos sexuais e reprodutivos a grupos específicos, um caminho de resistência talvez seja dizermos que somos tod@s ess@ outr@ que querem calar, castrar, excluir e aniquilar. E é urgente fazermos isso agora, desobedientemente, sem medo de assumirmos politicamente a rebeldia do oprimido que se revolta e não aceita as bases da vida desumanizada que lhe está sendo imposta. Se nos calarmos neste momento, talvez amanhã não possamos dizer mais nada.

Prof. Luiz Mello é pesquisador do Ser-Tão e professor da Universidade Federal de Goiás no curso de Ciências Sociais

A movimentação dos bispos pró-Dilma

No segundo tempo a bola vai rolar elegantemente pelo gramado e balançar a rede, é goool do Brasil...

Por Dom Luiz C. Eccel*


Desde que fiquei sabendo das candidaturas à Presidência da República, tive uma só atitude: não quero subestimar nenhum dos(as) candidatos(as), pois não sou melhor do que ninguém, e muito menos dono da verdade.

Pensava: aquele(a) que ganhar fará o melhor pelo nosso Brasil, pois irá se assessorar de pessoas competentes e honestas, e basta.

Passados alguns dias, iniciaram as propagandas eleitorais. Subitamente, a minha caixa de correio foi tomada por uma "avalanche" de e-mails contra uma candidata apenas, a Dilma Rousseff. Preciso dizer com todas as palavras, que fiquei indignado.

É importante dizer que logo que saiu a lista dos candidatos eu fiz a minha escolha.
Mas, o fato de ver diariamente o "tsunami" de "denúncias" contra esta candidata, na minha caixa de correio, revelando total falta de respeito para comigo e também para com a candidata, levou-me a refletir e a pesquisar. Perguntava-me: por que somente contra ela? Devo ser honesto e afirmar que não recebi nenhuma "matéria" contra qualquer outro(a) candidato(a).

A reflexão levou-me até Jesus Cristo, que um dia disse: "Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra" (Jo 8,7).

Por que estão jogando pedras só na Dilma? Em 1Jo 1,10 está escrito: "Quem diz não ter pecados, faz a Deus de mentiroso". Conclusão: Os que jogam pedras não têm pecados. Eis o grande problema. Estão tomando o lugar de Deus. Mas, Ele mesmo, não tendo pecado, não jogou pedras na pecadora. Isto é muito sério. Na verdade quem joga pedras está negando Deus. E o saudoso Beato, Papa João XXIII, que nos chamou a todos, através do Concílio Vaticano II, a sermos uma Igreja misericordiosa e aberta aos novos valores, deixando o ranço de lado, pelo sopro Vivificante do Espírito Santo, disse: "A pessoa que deixa Deus de lado, se torna perigosa para si e para as outras pessoas".

E agora? A conversão é graça de Deus para pessoas abertas a Sua Misericórdia. "Os misericordiosos, alcançarão misericórdia" (Mt 5, 7) Mas as pessoas auto-suficientes, donas da verdade, prepotentes, por isso sempre prontas a jogar pedras nos outros, estão muito longe de "Deus, que é Amor" (1Jo 4,8).

Assim, concluí: Todos somos pecadores, mas uma só pessoa está levando pedradas nesta campanha eleitoral à presidência do Brasil. Aí, eu que já havia escolhido o meu candidato, fiz uma nova escolha. Decidi, diante de Deus, que esta mulher apedrejada é a minha candidata para presidir o Brasil. Tem também um velho ditado popular que diz: "Só se atira pedras em árvores que dão frutos bons". E pesquisando descobri que esta candidata, enquanto ministra, produziu muito e bons frutos.

Procurei me aprofundar mais no conhecimento da minha candidata. Descobri que é uma mulher honrada e séria. Arriscou sua vida, durante a ditadura militar, da tirania do poder que oprime, tortura e mata. Sim, a Dilma foi presa e torturada por querer um Brasil democrático, fraterno, solidário, com vida e dignidade para todas as pessoas e não somente para algumas.

Então pensei: é exatamente isto que o Pai do Céu quis e continua querendo para todas as pessoas. Esta questão somou vários pontos para a candidata.

Nosso saudoso e amado Dom Helder Câmara dizia: "Quando reparto o meu pão com os pobres, me chamam de santo, mas quando pergunto pelas causas da pobreza, me chamam de comunista".

Até hoje, as pessoas verdadeiramente comprometidas com um país mais justo e igualitário, e para isso precisa de projetos sérios de transformação, continuam sendo taxadas assim. Algumas pessoas, por incrível que pareça, em pleno século XXI, ainda conseguem meter medo numa certa camada da população com este jargão.

Analisei também o desempenho da candidata quando era funcionária no governo estadual e federal. Os frutos bons são abundantes, especialmente para os menos favorecidos. Sim, saiu-se muito bem. Mais um ponto para ela.

Percebi também que, levando pedradas, não retribuía, e isto está de acordo com o Evangelho. Mais um ponto para a Dilma.

Comecei a analisar as suas palavras, idéias e projetos. Uma mulher inteligente, sábia, abnegada, perspicaz e atualizada. Outro ponto para esta mulher.

Também fui apurar as "denúncias" que enchiam a minha caixa de correio. Descobri montagens falsas, mentiras e calúnias. Aí novamente lembrei-me de Jesus que disse: "O diabo é mentiroso e pai da mentira" (Jo 8,44).

Não tive mais dúvidas, é na Dilma que irei votar, independentemente de partido político.

Ninguém pode galgar degraus pisando nos outros. Isto não é nem humano, muito menos cristão.

Quem deseja servir o povo, precisa jogar limpo. Pessoa religiosa não é a que fica dizendo Senhor, Senhor..., mas aquela que faz a vontade de Deus. E a vontade de Deus é "que todos tenham vida e a tenham plenamente" (Jo 10,10).

A vontade de Deus é que todas as pessoas vivam como irmãos e irmãs, no respeito à vida de todos os seres. Descobri que a candidata Dilma tem este desejo profundo. Aliás, é o seu grande sonho que, juntamente com todo o povo, quer tornar realidade.

No domingo à noite, dia 10 de outubro, assisti ao debate promovido pela BAND. Um dos dons que Deus me concedeu foi o de conhecer as pessoas pelos seus olhos. Não costumo revelar o que vejo e sinto para todas as pessoas.

Durante o debate meus ouvidos estavam atentos às palavras dos candidatos, mas meus olhos foram atraídos para a expressão da sua face e a delicadeza do seu olhar.

Percebi duas atitudes muito interessantes: 1)Sua face estava sempre serena e seu leve sorriso não era forçado e nem transmitia falsidade. 2)Seus olhos, que são espelhos de sua alma, transmitiam segurança, confiança, ternura e sinceridade. Estas qualidades agregaram mais alguns pontos a Dilma.

Como nós precisamos destas atitudes que na verdade são qualidades e dons de Deus! Dilma você passou pelo gelo da dor, tantas vezes, e por isso chegou ao incêndio do verdadeiro amor que vem do alto.

Nosso saudoso e amado Dom Luciano Mendes de Almeida dizia: "a bondade rompe todas as barreiras". Avante minha irmã! Deus está com você. Cuide-se! Continue sendo bondosa e a confiar nas suas assessorias. Mas mantenha, discretamente, o controle de tudo para evitar desgostos e desgastes maiores e desnecessários, pois somos todos passíveis de erros. Mantenha-se sempre alerta e busque momentos de descanso na oração silenciosa para que Deus, que é Pai e tem a ternura da Mãe, lhe fale ao coração, plenificando-o de alegria e coragem. Dom Angélico, meu grande amigo e irmão, sempre diz: "Quem não reza vira monstro".

Dilma, desculpe eu falar abertamente que não iria votar em você. Busco ser sincero como você. Mas tenha certeza de que continuarei a pedir a Deus que a ilumine e abençoe, chegando ou não à Presidência. Não estou falando em nome da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mas como cidadão e como Bispo da Igreja Católica, santa e pecadora, que deseja o melhor para o Povo de Deus.

Pessoalmente creio que é esta a hora de uma mulher experiente, honesta e competente, como você, chegar lá e continuar a fazer deste país, uma nação que defenda e proteja a vida de todos(as), desde a concepção até a morte natural.

Sim, neste segundo tempo a bola vai rolar elegantemente pelo gramado e balançar a rede!

Caçador, 12 de outubro de 2010 (solenidade de N. Sra. Aparecida. Padroeira do Brasil).

*Bispo Diocesano de Caçador-SC

http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=51642

Marx e religião no mundo presente

Marx, quando escreveu sua obra, tinha razões de sobra para criticar duramente as religiões. A situação atual o assombraria, vendo que o problema não seria mais o do velho idealismo metafísico. Ficaria surpreso com o materialismo pragmático do tempo presente.

Por Luís Carlos Lopes


Se Marx estivesse hoje vivo em carne e osso e tivesse vivido a experiência do século XX, talvez reformulasse uma de suas velhas máximas: “A religião é o ópio do povo”. Ficaria, possivelmente, estupefato com as novas perspectivas que alcançam a todos. Diria, hipoteticamente, que o consumo e a ilusão de classe são as novas drogas que alienam e que impedem que as maiorias compreendam o real. Veria que a luta continua, porém suas bases não seriam exatamente as mesmas. Os inimigos continuariam sendo os de sempre, mas as formas que eles se consubstanciam e parecem ser mudaram bastante.

Certamente, o velho barbudo e calejado pelo tempo teria uma sensação estranha em perceber que a comunicação humana havia se tornado muito mais complexa e incrivelmente maquínica. Ficaria extasiado com o mundo atual. Perceberia que nele existem mil e uma formas de se acessar ao conhecimento. Possivelmente, acharia paradoxal que, mesmo assim, o obscurantismo que conheceu em sua época permanece muito forte, quase inalterado. Entenderia, com alguma ajuda, que as velhas religiões foram modificadas e adequadas aos novos tempos dos sucessos do Capital. Veria que as novas igrejas são ainda mais integradas ao mundo dos negócios, à lógica do consumo e às ilusões de ascensão social.

Não seria difícil que mudasse os seus bordões, reclamando, por exemplo, do ‘culto às mídias’, da ‘teologia da prosperidade’ e da tentativa de se impedir que o ‘espírito laico’, isto é, a separação entre Estado e igrejas vencesse por toda parte. Veria que sua busca profunda por liberdade política e filosófica continua válida e atual, mesmo tendo-se passado quase dois séculos. Não obstante, teria uma surpresa em ver que alguns praticariam suas religiões de modo aceitável, tratando-as como problemas de foro íntimo, isto é, como algo individual, sem invadir outros espaços da vida.

Veria que entre muitos crentes nas religiões de hoje, existem os que aceitam as conquistas das ciências, que tanto melhoraram a vida humana. Notaria que muitos adeptos de várias igrejas não seguem integralmente os intermediários de suas crenças, quando o assunto é de interesse não-religioso. Quase ninguém dá a menor importância concreta às interdições sexuais propostas por várias igrejas. A contracepção é demonizada por elas, todavia, as grandes maiorias a praticam regularmente, por isso os índices de natalidade baixaram e continuam baixando. Quase ninguém é louco de não praticar sexo seguro porque o Papa disse que é pecado. Muitos exemplos podem ser dados, demonstrando que na vida prática os tabus foram quebrados, faltando um ajuste ideológico.

Na época do sábio alemão, isto não era possível. Ser religioso significava ser escravo dos padres e dos pastores que ditavam o que era certo ou errado, que controlavam as opiniões dos fiéis sobre qualquer assunto. Na maioria esmagadora das vezes, estes intermediários da fé também mediavam o poder das classes dominantes. Trabalhavam para que a ordem fosse mantida intocada. A escravidão espiritual era também sinônima das escravidões sociais e políticas. Por isto, ele comparou a religião a um narcótico, capaz de inebriar e dominar consciências.

No mundo atual, existem igualmente narcóticos poderosos para controlar e impedir qualquer mudança, mesmo que seja uma simples eleição. O problema é que eles não são mais necessariamente administrados de modo direto. Os espíritos estão pré-preparados pelos meios de comunicação e pelos sistemas de poder que os organizam e os direcionam. Quando um padre ou um pastor faz sua propaganda política está pisando em um terreno pronto para que a intriga, a mentira e a cizânia sejam disseminadas. Mídias de péssima qualidade, escolas que pouco ensinam e professores mal-pagos compõem o quadro. A publicidade dissemina as ilusões de classe, fazendo com que pobres se imaginem membros das classes mais ricas, porque melhoraram um pouco de vida. A ignorância é semeada como o trigo de cada dia e há pouco espaço para combatê-la.

Marx, quando escreveu sua obra, tinha razões de sobra para criticar duramente as religiões. A situação atual o assombraria, vendo que o problema não seria mais o do velho idealismo metafísico. Ficaria surpreso com o materialismo pragmático do tempo presente. Neste, se é materialista no que se refere ao consumo e à ascensão social. No resto, é possível acreditar em alguma religião sem que isto exija qualquer transcendência. A busca não é mais por deuses ou santos. O sucesso tomou o lugar dos mesmos e seus representantes são úteis se servem ao processo de se tentar ocupar uma vaga no sol monetário do capitalismo.

O velho autor em tela escreveu, quando vivo, para pouca gente que podia compreendê-lo. De seu tempo para hoje, milhões o leram e muitos ainda o deverão ler. Ele não perde a atualidade. O problema está em leituras religiosas que não o vêem em sua época e não procuram compreender o seu método. Estas leituras e razões de Estado proporcionaram o drama espetacular do socialismo real. Este se afastou em demasia do espírito do imenso trabalho intelectual do mesmo autor. Esse modo de divulgar Marx provoca, ainda hoje, imensos equívocos, que ao invés de aproximar as pessoas comuns, as afastam. Ele não era um deus ou um santo. Era um homem, com qualidades e defeitos como qualquer outro. O que se deve aproveitar é o seu imenso talento para propor um método de compreensão do mundo. Nisto, sua obra permanece viva e recomendável a quem quiser saber mais.

É possível ser religioso e se admirar Marx? A teologia da libertação efervescente em passado próximo descobriu que sim. Vários cristãos morreram, foram presos e torturados na América Latina, sendo adeptos de Cristo e do velho filósofo alemão. Ainda hoje, há quem siga a mesma cartilha, apesar da guerra travada contra eles em vários fronts: o já superado dos recentes Estados ditatoriais, o contínuo dos interesses dos poderosos e o do papado romano, a última monarquia absoluta da face da Terra.

Há quem não precise de religião alguma para pensar, mesmo assim, qualquer homem ou mulher possui crenças, isto é, acredita em algo que o impulsiona na direção do saber, da liberdade e da justiça social. De algum modo, todos crêem, ou melhor, as pessoas com qualidades especiais são as que mais acreditam que é possível viver em um mundo melhor. É preciso reconciliar a todos, respeitar diferentes modos de ver o mundo, com exceção daqueles que são anti-humanos, isto é, os que são construídos contra todos os seres de boa-vontade.

Luís Carlos Lopes é professor e escritor.

Desculpe, Marina, mas eu estou de mal

Por Maurício Abdalla.

Marina, há os que a conhecem de agora, como candidata aplaudida pelos mass media. Esses podem estar de bem com você. Mas há os que a conhecem como a militante cristã, engajada nas causas sociais que os que hoje a paparicam jamais tiveram sequer conhecimento – ou, de qualquer forma, com elas nunca se importaram. Há os que também a conhecem como a doce e ferina oposição ao Governo do PSDB em seu mandato como senadora. Esses, Marina, como eu, estão de mal.
Neutra, Marina? Neutros ficamos diante de questões que nos são indiferentes. É-lhe indiferente o futuro do nosso país? Custa-me crer, pois sua história um dia a posicionou. Posicionou-a, inclusive, ao lado de Lula. Não acredito que para você tanto faça a continuidade do atual Governo ou o retorno dos tucanos. Sabe por que, Marina? Porque não “tanto fez” para você durante os 5 anos e meio em que esteve no Governo. Ou você também ficaria tanto tempo como ministra de um Governo do PSDB/DEM? Ou se o governo Lula fosse igual ao do FHC? Alguma diferença havia de ter, não é verdade? Caso contrário, suas motivações passariam a ser um tanto quanto paradoxais.
Em que pese às decepções que tivemos, Marina, não nos é indiferente – a nós que pensamos nos pobres e na justiça social – o fato de 30 milhões de pessoas terem, hoje, o que comer. Não podemos dizer que tanto faz um salário mínimo de R$ 300,00 ou de R$ 510,00. Que mais 15 milhões de pessoas tenham emprego, em contraste com o presidente anterior que cunhou o termo “inempregáveis” como resposta ao desemprego, é fato que não pode deixar de tocar-nos o coração.
É diferente, Marina, tratar os presidentes de outros países, quando são índios, mestiços e ligados aos movimentos sociais, como legítimos mandatários ou tratá-los como ralé que deveria submeter-se aos EUA e ao sub-imperialismo de nosso país gigante.
Temos severas críticas ao Governo Lula, mas nenhuma delas se assemelha às críticas das elites e de seus meios de comunicação. Nenhuma delas pode ser superada por alguma proposta do Serra. Ao contrário, o retorno do PSDB/DEM apenas aumentará as nossas bandeiras de oposição.
Em situações como esta, a neutralidade é um péssimo exemplo para os jovens. Ainda espero que você se posicione. Ainda aguardo que você volte a ser a Marina, de família de seringueiros, cristã, militante, sindicalista e Silva. E que repita para essa juventude que não conheceu o governo do PSDB/DEM tudo aquilo que você já disse sobre ele no senado.
Ainda espero. Pois eu, ao contrário de Caymmi – e, em certo sentido, ao contrário também de você que ainda rumina uma mágoa mal digerida do Governo – “quando me zango, Marina, eu sei perdoar”.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Chama o povo, Lula!


E faz o pessoal da produtora de TV entender que deve haver relação com campanha na rua e na web.

Por Ivo Pugnaloni

Ontem à noite, o programa de TV da Dilma inovou, fazendo um chamado, ainda que muito tímido, para que o espectador participe da campanha Dilma Presidente.
Ainda bem. Já era tempo de deixarmos de nos postar frente a essa enorme audiência como se fossem apenas “consumidores finais” de um produto, um sabão, ou um automóvel…
É preciso nunca esquecer que estamos em uma campanha política e não numa campanha publicitária comum. E eleição é participação cidadã e não convencimento ideológico por repetição de conceitos por uma fonte desqualificada.
Os eleitores fiéis de Lula e do PT
Precisamos levar em conta que boa parte dos que assistem o programa já foram eleitores de Lula em 2002 e 2006.
Pesquisas recentes sobre a popularidade dos partidos mostraram que existe um eleitorado fiel que torcem pelo sucesso do Lula, independente de quem seja o adversário.
É natural que essas pessoas se considerem hoje bem mais do que simples eleitores do Lula e do PT.
Elas podem ser chamados simpatizantes, eleitores fiéis, mas que ainda não sabem como podem funcionar como agentes multiplicadores das idéias-força da campanha. Afinal, os efeitos da ditadura militar sobre o sentimento de cidadania ainda não foram bem avaliados.
É exatamente isso que o programa deve mostrar: o caminho da mobilização e da opção do espectador em assumir uma atitude cidadã, de participação na eleição.
É preciso que, no nosso programa de TV, essas dezenas de milhões de pessoas sejam lembradas e valorizadas.
E consideradas como companheiros da mesma luta por um Brasil mais justo, mais humano e cada vez mais forte e independente.
Esses milhões de pessoas devem receber um chamado para sair da passiva atitude de “torcer pela Dilma”, como se fossem apenas membros de uma enorme torcida que só assiste futebol pela “telinha”.
Usando de muito jeito, (para não correr o risco de sermos acusados de estar querendo provocar uma insurreição ou algo assim), devemos chamar todo esse pessoal para participar do processo eleitoral , distribuindo o programa da Dilma nos pontos de ônibus ou de casa em casa, no seu bairro.
Ou então apenas servido como referência qualificada, para seus parentes, vizinhos, colegas de trabalho, etc, fazendo uma lista e tratando de convencer um por um, por telefone, por e-mail ou pessoalmente, nos poucos dias que temos. Sobre isso, leia mais aqui: http://pagina13.org.br/?p=3864
Todos os dias o Lula, em pessoa, deveria, em tom coloquial, bem à vontade, como só ele sabe falar com o povão, dirigir uma chamada especial a essa multidão que lhe dá esse enorme índice de aprovação.
E, com muito jeito, pedir ao povo que não só “vote em Dilma”, mas que faça mais, dando um tempo do seu dia para ajudar a eleger a Dilma.
Precisamos uma chamada que dissesse algo assim:
“Só votar na Dilma não resolve. Afinal, se a gente quer um país melhor para nós e nossos filhos, temos que lutar por isso. Temos que fazer algo mais e melhor do que fizemos até aqui.”
“É preciso participação do povo nas eleições, mas não só no dia 31 de outubro, indo votar na Dilma. Precisamos de todos que puderem participando no trabalho de esclarecimento dos indecisos, mostrando as conquistas que tivemos, nesse que é o primeiro governo que cuidou dos trabalhadores, dos pequenos empresários e até dos grandes grupos produtivos.”
O risco de produzirmos internet e comícios para nós mesmos
Outra coisa que chama a atenção: é um absurdo que em pleno século XXI nosso programa de TV ainda ignore, olimpicamente, nossa campanha pela internet!
Passou da hora do programa mostrar o endereço eletrônico do site da campanha da Dilma…
O que será que existe aí? Ciumeira mal resolvida? Disputa por espaço?
Outra coisa é nossa militância de internet, que teima em mandar e-mails para nós mesmos, quando o necessário é atingir gente ainda não convencida politicamente de votar na Dilma.
Algo parecido precisa acontecer com o tempo precioso perdido nos comícios pedindo aos milhares de presentes que apenas, “votem em Dilma”…
Ora!
Será que o pessoal que comanda essa área ainda não se tocou que, por proibição legal, não tem mais show de cantores sertanejos antes dos discursos? E que, assim, ninguém foi ali para “ver os artistas”???
A grande maioria daquela gente só no comício por que já apóia a nossa candidata!
Poucos foram ali “só para ver o que estava acontecendo”. A grande maioria já é eleitora da Dilma! Para aquele pessoal é muito pouco, pedir só para “votar em Dilma”…
A quem vai nos nossos comícios é preciso oferecer formas concretas de participação tais como: “venha ajudar a distribuir o programa de Dilma nos pontos de ônibus, na porta das fábricas, das escolas e dos mercados. Junte-se a nós, comparecendo no comitê eleitoral aqui do bairro para marcar os horários em que Você pode ajudar”.
Ao mesmo tempo, para poder acolher e dar serviço a toda essa multidão que poderá se somar à campanha a partir do programa de TV, o partido deve preparar-se, promover treinamentos, com verdadeiros “cursos” de uma ou duas horas, sobre panfletagem, de discursos-relâmpagos, convencimento em pontos de ônibus, praças, etc.
Enfim!
Se todo mundo agora descobriu, finalmente, que eleição se ganha na rua e não só pela TV, com “bandeirantes” pagos só para balançar bandeiras, vamos fazer a coisa certa, como era feita nos bons tempos e a militância não tinha outra coisa para fazer senão ir para a rua.
*Publicado no site: http://pagina13.org.br

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Depoimento contudente de Aldir Blanc pedindo o voto pra Dilma

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Pilatos não pode mais lavar as mãos com sabonete verde. Lamentável que Marina e o PSOL estejam “pensando”. Os que morrem de fome, de pancada, os que foram torturados e mortos, esses não tiveram esse confortável tempo para optar. A reação, desde a Comuna de Paris, desde os Espartaquistas, sempre matou mais rápido, enquanto gente de “Bem” pensava...

Votem em Dilma – ou regridam às privatizações selvagens, à perda da Petrobras, ao comando do latifúndio, dos ruralistas, dos banqueiros, de todas as forças retrógradas do País, incluindo os torturadores.

Aldir Blanc – um dos maiores compositores populares do Brasil.

FHC fala sobre a privatização da Vale - Veja.com

Dilma e a Fé Cristã


Frei Betto

Conheço Dilma Rousseff desde criança. Éramos vizinhos na rua Major Lopes, em Belo Horizonte. Ela e Thereza, minha irmã, foram amigas de adolescência. Anos depois, nos encontramos no presídio Tiradentes, em São Paulo. Ex-aluna de colégio religioso, dirigido por freiras de Sion, Dilma, no cárcere, participava de orações e comentários do Evangelho. Nada tinha de "marxista ateia".

Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar, com violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte.

Em 2003, deu-se meu terceiro encontro com Dilma, em Brasília, nos dois anos em que participei do governo Lula. De nossa amizade, posso assegurar que não passa de campanha difamatória - diria, terrorista - acusar Dilma Rousseff de "abortista" ou contrária aos princípios evangélicos. Se um ou outro bispo critica Dilma, há que se lembrar que, por ser bispo, ninguém é dono da verdade.

Nem tem o direito de julgar o foro íntimo do próximo. Dilma, como Lula, é pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica. Na linha do que recomenda Jesus, ela e Lula não saem por aí propalando, como fariseus, suas convicções religiosas. Preferem comprovar, por suas atitudes, que "a árvore se conhece pelos frutos", como acentua o Evangelho.

É na coerência de suas ações, na ética de procedimentos políticos e na dedicação ao povo brasileiro que políticos como Dilma e Lula testemunham a fé que abraçam. Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: se eleito, tomaria as mansões do Morumbi, em São Paulo; expropriaria fazendas e sítios produtivos; implantaria o socialismo por decreto...

Passados quase oito anos, o que vemos? Um Brasil mais justo, com menos miséria e mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos sociais ou privatizar o patrimônio público, respeitado internacionalmente.

Até o segundo turno, nichos da oposição ao governo Lula haverão de ecoar boataria e mentiras. Mas não podem alterar a essência de uma pessoa. Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária ao conteúdo da fé cristã e aos princípios do Evangelho.

Certa vez indagaram a Jesus quem haveria de se salvar. Ele não respondeu que seriam aqueles que vivem batendo no peito e proclamando o nome de Deus. Nem os que vão à missa ou ao culto todos os domingos. Nem quem se julga dono da doutrina cristã e se arvora em juiz de seus semelhantes.

A resposta de Jesus surpreendeu: "Eu tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; estive enfermo e me visitastes; oprimido, e me libertastes..." (Mateus 25, 31-46). Jesus se colocou no lugar dos mais pobres e frisou que a salvação está ao alcance de quem, por amor, busca saciar a fome dos miseráveis, não se omite diante das opressões, procura assegurar a todos vida digna e feliz.

Isso o governo Lula tem feito, segundo a opinião de 77% da população brasileira, como demonstram as pesquisas. Com certeza, Dilma, se eleita presidente, prosseguirá na mesma direção.

*Artigo escrito por Frei Beto publicado na coluna "Tendências/Debates" da Folha, em 10/10/2010.

Dois Pesos... O artigo que motivou a demissão de Maria Rita Kehl do Jornal O Estado de S. Paulo


Maria Rita Kehl Artigo que motivou a sua demissão do Estadão

A psicanalista Maria Rita Kehl foi demitida pelo Jornal O Estado de S. Paulo, depois de ter escrito, no último sábado (2), artigo sobre a "desqualificação" dos votos dos pobres. Lembrando que o Jornal manifestou apoio ao candidato do PSDB no mês passado e a mais de um ano protesta contra censura judicial. Entendem que apenas o Jornal pode cesurar!

A psicanalista Maria Rita Kehl foi demitida pelo Jornal O Estado de S. Paulo, depois de ter escrito, no último sábado (2), artigo sobre a "desqualificação" dos votos dos pobres. Lembrando que o Jornal manifestou apoio ao candidato do PSDB no mês passado e a mais de um ano protesta contra censura judicial. Entendem que apenas o Jornal pode cesurar!

Acompanhe o texto censurado pelo o Jornal O Estado de S. Paulo


Dois pesos...

Por Maria Rita Kehl (demitida)

Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.

*Publicado no Jornal O Estado de São Paulo em 2 de outubro, sábado.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Resultado das votações dos candidatos de Jataí para Deputado Estadual em nossa cidade e vizinhos

Informações coletadas no site do TRE de Goiás através do link abaixo. Decidi colocar o nome de Karlos Cabral, candidato eleito pelo PT a Deputado Estadual por Rio Verde.

http://www.tre-go.jus.br/internet/eleicoes/2010/resultado.php

JATAÍ
GENIO EURIPEDES CABRAL DE ASSIS----------------14.053
VICTOR CEZAR PRIORI----------------------------10.421
DANIEL ELIAS CARVALHO VILELA--------------------4.037 Eleito
FRANCISCO ANTONIO DE CARVALHO GEDDA-------------2.763 Eleito
ROMILTON RODRIGUES DE MORAES--------------------2.518
MARIA EUZEBIA DE LIMA-BIA-----------------------1.925
BELTRONIO FERREIRA DE MELO FILHO------------------506
ANDRE LUIZ GONÇALVES-------------------------------71

KARLOS MÁRCIO VIEIRA CABRAL (PT – Rio Verde)-------61

RIO VERDE
VICTOR CEZAR PRIORI-------------------------------110
DANIEL ELIAS CARVALHO VILELA-----------------------59
FRANCISCO ANTONIO DE CARVALHO GEDDA----------------15
ROMILTON RODRIGUES DE MORAES-----------------------19
MARIA EUZEBIA DE LIMA-BIA--------------------------15
GENIO EURIPEDES CABRAL DE ASSIS--------------------13
ANDRE LUIZ GONÇALVES--------------------------------1

KARLOS MÁRCIO VIEIRA CABRAL (PT - Rio Verde)----5.551 Eleito

MINEIROS
VICTOR CEZAR PRIORI-------------------------------460
DANIEL ELIAS CARVALHO VILELA-----------------------76 Eleito
FRANCISCO ANTONIO DE CARVALHO GEDDA----------------61 Eleito
MARIA EUZEBIA DE LIMA-BIA--------------------------36
BELTRONIO FERREIRA DE MELO FILHO-------------------27
GENIO EURIPEDES CABRAL DE ASSIS--------------------26
ROMILTON RODRIGUES DE MORAES-----------------------19
ANDRE LUIZ GONÇALVES-------------------------------12

KARLOS MÁRCIO VIEIRA CABRAL (PT - Rio Verde)-------35 Eleito

SERRANÓPOLIS
DANIEL ELIAS CARVALHO VILELA----------------------628 Eleito
ROMILTON RODRIGUES DE MORAES----------------------467
VICTOR CEZAR PRIORI-------------------------------268
MARIA EUZEBIA DE LIMA-BIA-------------------------173
GENIO EURIPEDES CABRAL DE ASSIS--------------------67
BELTRONIO FERREIRA DE MELO FILHO--------------------1

KARLOS MÁRCIO VIEIRA CABRAL ( PT - Rio Verde)-------3 Eleito

CAIAPÔNIA
ROMILTON RODRIGUES DE MORAES----------------------463
DANIEL ELIAS CARVALHO VILELA----------------------363
VICTOR CEZAR PRIORI-------------------------------251
MARIA EUZEBIA DE LIMA-BIA--------------------------46
FRANCISCO ANTONIO DE CARVALHO GEDDA----------------39
GENIO EURIPEDES CABRAL DE ASSIS--------------------12
BELTRONIO FERREIRA DE MELO FILHO--------------------2

KARLOS MÁRCIO VIEIRA CABRAL (PT - Rio Verde)-------31 Eleito

CAÇU
VICTOR CEZAR PRIORI-------------------------------520
DANIEL ELIAS CARVALHO VILELA----------------------299 Eleito
ROMILTON RODRIGUES DE MORAES----------------------127
FRANCISCO ANTONIO DE CARVALHO GEDDA----------------78 Eleito
GENIO EURIPEDES CABRAL DE ASSIS--------------------25
MARIA EUZEBIA DE LIMA-BIA--------------------------22
BELTRONIO FERREIRA DE MELO FILHO--------------------9

KARLOS MÁRCIO VIEIRA CABRAL (PT - Rio Verde)-------58 Eleito

Resultado das votações dos candidatos de Jataí para Deputado Estadual em Goiás

Daniel Vilela (PMDB)_______________36.382 - eleito
Victor Priori(PSDB)________________17.962
Gênio Eurípedes (PMDB)_____________14.656
Gedda (PTN)________________________14.730 - eleito
Romilton Moraes (PMDB)______________9.498
Bia (PT)____________________________6.186
Beltrônio Filho – Bió (PRTB)__________662
Donizete (PRTB)_______________________237
André Massamba (DEM)__________________101

domingo, 3 de outubro de 2010

Naire, o ilustre desconhecido

Capa do disco do Naire lançado em 1974 que traz a música "Companheiro", tema da novela Araguaia.


Postagem do YouTube com a versão original da música "Companheiro" na voz do Naire.


Há cinco anos criamos a Rádio Boca Livre (www.radioweb.bocalivre.org). Depois de um ano de atividade ininterrupta tocando sempre o melhor da música brasileira recebi do meu amigo Sidnei (pesquisador de música de raiz residente em Goiânia) um DVD reunindo somente música goiana ligada a MPB. Lá estava o disco do cantor e compositor goiano chamado Naire. Até então eu imaginava que não tinha o menor conhecimento desse artista. Ouvindo disco constatei que na minha tenra infância em Jataí (Goiás) no início da década de setenta eu tinha ouvido algumas músicas na Rádio Difusora de Jataí (AM), dentre elas: 15 Anos, Ave Maria e, claro, Companheiro.

O País vivia uma grande efervescência cultural na virada dos anos setenta e a incipiente MPB revelava mais de uma centena de grandes cantores, compositores,arranjadores e instrumentistas. E não é que o goiano Naire conseguiu emplacar vários sucessos nacionais em seu primeiro e, lamentavelmente, único disco. Ele com certeza marcou a trajetória de muita gente por esse imenso Brasil.

Agora, 36 anos depois do lançamento desse disco o compositor volta a ser lembrado com a sua música "Companheiro" colocada como tema de abertura da nova novela das seis da Rede Globo intitulada Araguaia. O que é absolutamente lamentável é o desprezo da TV Globo pelos cantores e compositores que contribuem com as trilhas sonoras das aberturas de suas novelas. Nesta, pra não fugir à regra, não consta nos créditos o nome da música, nem o nome da cantora e, muito menos, o nome do compositor do tema de abertura. Lamentável!!!

A primeira gravação de "Companheiro" foi feita por Naire num compacto simples lançado pela RGE no início dos anos setenta. Só em 1974 ele conseguiria gravar o seu primeiro e único disco.

Um detalhe curioso no primeiro disco do Naire é a presença ilustre de Paulinho Tapajós na época já consagrado como um grande cantor e compositor no cenário musical brasileiro. O disco reúne oito composições feitas em parceria entre Naire e Paulinho Tapajós e participação vocal de Tapajós nas músicas “15 anos” e “Duas Irmãs”. Destaque para “15 Anos” que fez grande sucesso e “Paz de Penedo”, minha música favorita no disco. Outra curiosidade foi a gravação de “Ave Maria”, parceria do grande Roberto Menescal e Paulinho Tapajós que também fez sucesso na interpretação de Naire.

Quem desejar conhecer um pouco mais da história do Naire deverá recorrer ao livro MPB em Goiás – compositores dos anos 70 (1ª parte) escrito pelo meu amigo Reny Cruvinel (jornalista e músico integrante do Grupo Essência de Goiânia). No lançamento do livro foi realizado um show com participação de vários artistas goianos interpretando as canções que foram levantadas na pesquisa do Reny. Foi a partir do show que surgiu a ideia de produzir um CD com a músicas historicizadas no livro. Inclusive, a gravação de “Companheiro” com Maria Eugênia que está na abertura da novela Araguaia está nesse CD. Caso alguém se interessar na aquisição do livro entre em contato com o autor pelo e-mail: renycruvinel@gmail.com

Há tempos eu encontrei num deses blogs que postam músicas uma crítica super favorável a este disco do Naire publicada no Jornal Estado do Paraná em 05/05/1974. Hoje tive que “navegar” bastante para reencontrá-la. Ela esta postada no site Toque Musical:

http://toquemusical.wordpress.com/2007/10/20/naire-1974

Lá você poderá linkar o “Tablóide Digital” e encontrar a postagem original da crítica que me refiro e que publicarei aqui. Mas fiz questão de publicar também o texto introdutório do responsável pelo site que postou o disco do Naire para ser baixado.

“Não faz muito tempo, logo que surgiu o Orkut, em uma comunidade de vinil raro em que eu fazia parte, recebi de um amigo um arquivo zipado deste disco. Fiquei muito impressionado com o trabalho do artista que até então eu não conhecia. Infelizmente no arquivo não incluía o encarte nem qualquer outra informação. Depois de muito procurar, acabei achando a capa em um blog de um japonês. Como era muito pequena a imagem e de pouca resolução, deixei no comentários o pedido uma cópia da capa. (Se tem uma coisa que acho o fim da picada são esses blogs de música que não incluem a arte, ou quando o fazem é de maneira grosseira. Não dá nem tesão de ouvir o disco.) Depois de alguns meses, recebo um e-mail com a tal capinha (infelizmente não tão boa quanto eu esperava). De qualquer forma, acho que chegou a hora de postá-lo. Não vou indicar o blog do japa porque ele assim o quer. Como se trata de um álbum um tanto obscuro, pouca coisa se tem a seu respeito na rede. Só mesmo visitando o “Tablóide Digital”, um blog que reúne textos publicados do jornalista Aramis Millarch, para conseguir a informação que repasso neste toque para vocês. Segue a baixo o artigo dele, publicado no Jornal Estado do Paraná em 05/05/1974. É nessas horas que a gente entende a diferença entre notícia e informação. Salve o Armis!” (Toque Musical)

Conheçam Naire…. com atenção!
Afinal aconteceu a primeira revelação do ano. Ele se chama Naire, simplesmente, e está chegando num excelente lp da RGE (303.023, março/74), que infelizmente esqueceu de distribuir um press-release para informar quem é o moço, de onde veio, o que pensa. Mas o que afinal não diminui o impacto de sua estréia. Produzido por J. Shapiro, com direção artística de Toninho Paladino e arranjos de Luiz Cláudio Ramos, Naire gravou este seu primeiro disco nos estúdios da CBS, na GB, com a participação de um grupo de bons músicos: Antonio Adolfo, Mamão, Chacal, Chiquinho, Alexandre, Luiz Claudio, Chiquinho do Acordeon, Batô, Laudir, Fernando Leporace, Pascoal e Franklim (flauta).

O repertório não poderia ser melhor: Naire abre com uma das músicas que consideramos das melhores de 73 “15 anos”, que compôs” em parceria com Paulinho Tapajós e que na Phono – 73 foi defendida por Nara Leão. Uma letra sensível e inteligente, que se apropriou perfeitamente a Nara Leão, que dela nos falou de entusiasmo quando aqui esteve no ano passado. Paulinho Tapajós é aliás o grande amigo e parceiro e de Naire, participando inclusive de duas faixas: “Duas Irmãs” e “Quinze Anos”. Juntos fizeram para este lp as faixas “Menestral das Cabras” (com um leve toque de Zé Rodrix e seu rock rural), “Um dia Azul de Abril” e, “Bendito Seja”, “A Donzela”, “Paz de Penedo”, “Duas Irmãs” e “Feliz Feliz”. Com Tiberio Gaspar, Naire compôs “Companheiro”, Chá de Jasmimn” e “Passeio Público”. Exclusivamente sua é “A Vida é Agora”. E o inspirado “Ave Maria” de Roberto Menescal - Paulinho Tapajós é a única faixa que não teve sua participação como autor.

Voz suave, personalíssima, arranjos agradáveis e sobretudo o bom gosto dos arranjos e competência dos músicos escolhidos para acompanhá-lo nas 13 faixas deste lp digno, honesto e sensível. Anotem o nome de NAIRE. Ou melhor: comprem o seu disco. Vale os Cr$ 32,00 que custa. (Aramis Millarch)

Abaixo a relação das músicas contidas no disco:

01 – 15 Anos (Naire - Paulinho Tapajós) – Participação vocal de Paulinho Tapajós
02 – O Menestrel das Cabras (Naire - Paulinho Tapajós)
03 – Um Dia Azul de Abril (Naire - Paulinho Tapajós)
04 – Companheiro (Naire - Tibério Gaspar)
05 – Bendito Seja (Naire - Paulinho Tapajós)
06 – Ave Maria (Roberto Menescal - Paulinho Tapajós)
07 – Chá de Jasmim (Naire - Tibério Gaspar)
08 – Donzela (Naire - Paulinho Tapajós)
09 – Paz de Penedo (Naire - Paulinho Tapajós)
10 – Passeio Público (Naire - Tibério Gaspar)
11 – A Vida é Agora (Naire)
12 – Duas Irmãs (Naire - Paulinho Tapajós) – Participação vocal de Paulinho Tapajós
13 – Feliz Feliz (Naire - Paulinho Tapajós)

"Companheiro" Música tema de Abertura (completa - composição de Naire e Tibério Gaspar na interpretação da cantora goiana Maria Eugência.


Abertura da novela Arguaia da TV Globo (música "Companheiro" interpretada por Maria Eugênia com corte)