quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Lembrando as mentiras colloridas

Por Wladimir Pomar

A campanha Dilma, mesmo tardiamente, se deu conta de que Serra se parece cada vez mais com Collor na campanha de 1989. Ele está procurando aplicar o mesmo estelionato eleitoral contra o povo brasileiro, combinando uma campanha midiática de promessas com a difusão massiva de mentiras e calúnias contra a candidata do PT.

Promete tudo, mesmo que as contas para realizar o que está prometendo representem dois ou três produtos internos brutos do país. Promete reforçar a Petrobrás, o Banco do Brasil e a CEF, mesmo que seu passado no governo FHC tenha sido o de tentar privatizar essas poucas estatais que sobraram da privataria selvagem daquele governo.

Promete melhorar a educação, embora sua participação no governo FHC tenha contribuído para quase liquidar as universidades e o ensino público no Brasil. Promete implantar o ensino técnico, embora no governo FHC tenha aplicado uma política de desmonte desse ensino e esconda que o governo Lula deu um salto na construção e funcionamento das escolas técnicas federais.

Promete salário mínimo de 600 reais, embora tenha concordado com as políticas de arrocho desse e de outros salários durante o governo FHC. Promete emprego pleno, embora tenha aplicado rigorosamente a política de desemprego pleno e de alastramento da miséria, que caracterizaram o governo FHC.

Promete crescimento econômico e desenvolvimento social, embora tenha contribuído para o desmonte da indústria nacional e para a subordinação do Brasil às ordens do FMI, segundo o qual crescimento causa inflação. Arvora como grande sucesso a implantação do real e do controle da inflação, embora esse sucesso tenha sido obtido à custa da economia nacional, que praticamente quebrou, e à custa do padrão de vida do povo, que desceu a um dos níveis mais baixos de sua história.

O sucesso de uma política anti-inflacionária se mede pelo grau de crescimento econômico e de emprego, como vem fazendo o governo Lula, e não pelo grau de quebradeira industrial e desemprego, como ocorreu no governo FHC. O uso de remédios que fazem o doente morrer "muito melhor", como a política aplicada por FHC-Serra, deveria ser considerado, na melhor das hipóteses, como erro médico ou, na pior, como crime contra o país e o povo.

A campanha suja contra Dilma segue o mesmo padrão de mentiras, lembrando a campanha collorida contra Lula em 1989. Lula seria analfabeto e incompetente, teria casa no Morumbi, possuiria dinheiro em paraísos fiscais, iria acabar com as religiões e fechar as igrejas, liberar o aborto, desapropriar ou dividir as casas, tomar as fábricas e os negócios, implantar o comunismo e dar o calote na poupança. Excetuando o calote aplicado por Collor, a campanha suja contra Dilma acrescentou a essas acusações a de que ela seria terrorista e lésbica, e teria assassinado inocentes.

Tudo isso era esperado por quem acompanhava as ações de PSDB e do DEM no parlamento e na imprensa. No entanto, a coordenação da candidatura Dilma acreditou que a campanha seria de "alto nível", como Serra prometia. Assim, ao invés de utilizar, desde o primeiro minuto do primeiro turno, o antídoto do debate político sobre os temas mais candentes da realidade brasileira, a coordenação da campanha Dilma acreditou que bastava a popularidade de Lula para garantir a vitória já no primeiro turno. Ficou arrogante e fez ouvidos moucos a todos os alertas sobre os perigos de sua política de "salto alto".

Para piorar, achou que a campanha midiática era a principal e desdenhou a experiência anterior do PT e de Lula, de que candidatos do PT só têm chances de vitória se amassarem o barro das ruas sem asfalto, onde ainda mora uma grande parte do povo brasileiro, e se realizarem uma campanha massiva de corpo a corpo com a população, incluindo comícios, carreatas e outras formas de contato direto com o eleitorado.

Em virtude, principalmente, desses dois erros estratégicos, a campanha Dilma permitiu que uma parte da esquerda e da juventude migrasse para Marina, que levantou bandeiras que historicamente eram do PT e da esquerda. O que propiciou a Serra escapar da polarização no primeiro turno, embora em nenhum momento tenha abandonado os dois veios principais de sua estratégia: promessas aos milhares e mentiras e calúnias constantes, neste caso com o apoio explícito de Veja, O Globo e outros jornais da grande imprensa.

Apanhada de surpresa com a ida ao segundo turno, a coordenação da candidatura Dilma, pelo menos na campanha na TV, começou a fazer o que deveria ter feito no primeiro turno. Tem respondido aos ataques de Serra e passou a desmascarar as promessas do candidato tucano, mostrando a incoerência do que fez durante o governo FHC e introduzindo um certo debate político sobre o futuro.

O problema é saber se isso será acompanhado da massificação dos contatos com o povo. Embora o tempo seja curto demais para saldar toda a dívida acumulada nesse terreno da estratégia, tal massificação talvez seja essencial para tirar do marasmo aqueles apoiadores de Dilma que acreditavam na vitória fácil e agora estão deprimidos com a dureza do embate. Sem jogar todas as forças no combate, a candidatura Dilma corre sério risco de assistir às mentiras colloridas vencerem mais uma vez.

Wladimir Pomar é escritor e analista político.
Pubicado em 18-Out-2010

Polícia Federal fecha gráfica do PSDB com panfletos e telemarketing difamatórios montados contra Dilma

18.10.2010

O coordenador jurídico da campanha da coligação Para o Brasil Seguir Mudando, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), anunciou medidas judiciais adotadas contra a distribuição de milhões de panfletos com logomarca da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e que orientam os católicos a não votar em Dilma Rousseff.
Segundo ele, a Polícia Federal vai investigar a origem dos panfletos, mas pelos nomes das pessoas envolvidas há fortes indícios de que a campanha adversária, de José Serra, esteja envolvida com a confecção dos impressos.
“Embora não possamos fazer acusações definitivas, há indícios veementes que esse panfleto pode ter sido produzido pelo nosso adversário. A gráfica tem como sócia Arlety Kobayashi, irmã de Sérgio Kobayashi, que é o coordenador de infraestrutura da campanha do candidato José Serra. É indiscutível a relação da proprietária da gráfica com o PSDB e com o candidato José Serra. Sendo assim, é evidente que não poderíamos deixar de ter postura pública e pedir explicação sobre esses fatos”, analisou Cardozo.
O que a campanha quer, segundo ele, é apontar quem encomendou, quem pagou e quem distribuiu os panfletos. “Não se pode achar que seria feito por amadores. É um custo altíssimo, e a distribuição é difícil. Se fosse o PT, por exemplo, para distribuir esses 20 milhões de panfletos, teria que convocar toda sua militância”, analisou.
Polícia Federal
Ontem, a pedido da coligação, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que a Polícia Federal apreendesse 1,2 milhão de panfletos na gráfica Pana, na região do Cambuci, em São Paulo. Mas, segundo o PT, o dono da gráfica afirmou que o pedido inicial seria de 20 milhões, que ele não teve como atender.
Até agora, ninguém assumiu a autoria dos panfletos. A CNBB divulgou nota dizendo que desautoriza a publicação e que não tinha conhecimento da distribuição dos panfletos. A campanha tucana também se manifestou dizendo que tem não relação com a história.
O presidente estadual do PT, deputado Edinho Silva, contou como o partido descobriu os milhões de panfletos. Segundo ele, um cidadão foi encomendar um serviço da gráfica, viu os panfletos e resolveu denunciar. Ele telefonou no sábado para o secretário de comunicação do partido e, como o diretório estadual estava reunido, foi possível fazer a mobilização.
“Quero dar os parabéns porque a denúncia partiu de cidadão que se revoltou e avisou o PT. E reconhecer a determinação da nossa militância, pois da denúncia até a apreensão teve uma vigília na gráfica para evitar que o material fosse retirado”, disse Silva.
Telemarketing
Cardozo informou também que ainda hoje a campanha ingressará com um pedido de investigação junto ao TSE contra uma campanha de telemarketing que está sendo realizada pelo candidato adversário.
“Há relatos em matérias dos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas de pessoas em todo Brasil que estão recebendo ligações de uma central de telemarketing. Pedem se há algum eleitor de Marina Silva na casa e daí se faz propaganda contra Dilma Rousseff, com calúnias e difamações. Essa é uma prática ilegal. Há que se perguntar quem tem recursos para pagar esse tipo de campanha, que é caro. Estamos diante de uma eleição dura e disputada, mas há regras. Quem faz críticas não pode fazer no subterrâneo. Ética não pode ser usada de forma retórica, quem age com ética faz crítica à luz do dia”, disse o coordenador da campanha.
Ele fez um apelo aos eleitores e cidadãos para desmontar a central de boatos. “Pedimos que se as pessoas receberem telefonemas de telemarketing desse tipo gravem e nos passem, para nós denunciarmos os autores. Estamos criando e-mail em defesa do comportamento ético das eleições (denuncie@btadvogados.com.br). Aquele que receber informações indevidas nos avise para chamarmos os policiais e acionarmos o TSE. Queremos chegar aos autores dessa questão”, pediu.

Professores denuncial bonapartismo de Serra

*Manifesto em Defesa da Educação Pública

Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.
Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das Universidades federais.
Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política de sucateamento da Rede Pública. São Paulo foi o único Estado que não apresentou, desde 2007, crescimento no exame do Ideb, índice que avalia o aprendizado desses dois níveis educacionais.
Os salários da Rede Pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores qualificados e a desestimular quem decide se manter na Rede Pública. Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.
Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se. As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas. Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados.
No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais. Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor.

*Este manifesto foi assinado por várias centenas de professores de univerdidades públicas do Brasil.