quarta-feira, 22 de junho de 2011

Disco com covers recria canções célebres do precursor do rock



Álbum é um tributo aos hits instantâneos de Buddy Holly, que morreu em 1959, aos 22 anos

Gravações trazem Paul McCartney, Lou Reed, Patti Smith e novatos como Florence and the Machine e Cee Lo Green

Muito se fala sobre os Beatles. Ou sobre os Rolling Stones. Mas, se não fosse por um garoto de óculos e de jeito nerd chamado Buddy Holly, talvez o rock and roll não existisse do jeito como nós o conhecemos.
Em apenas um ano e meio de carreira, Holly deixou um catálogo impressionante de composições.
Embora tenha gravado apenas três discos, deixou gravações suficientes para mais dez anos de material inédito após sua morte, em 3 de fevereiro de 1959, quanto tinha apenas 22 anos.
Tanto que até hoje suas músicas são regravadas ou usadas em comerciais (do celular Blackberry, por exemplo) e trilhas sonoras de filmes (como "Juno", de 2007, premiado com um Oscar).
Seu legado é tão grandioso que vários músicos -além de Beatles e Stones, Bob Dylan e Eric Clapton- já declararam terem sido influenciados por seu estilo único.
Até mesmo a morte de Holly, em um acidente de avião, deu origem a uma lenda. Como, na mesma tragédia, morreram Ritchie Valens e Big Bopper, ainda hoje diz-se que celebridades sempre morrem em trios.
Duvida? No ano passado, foram Gary Coleman, Dennis Hopper e Rue McClanahan; em 2009, foram Michael Jackson, Farrah Fawcett e Ed McMahon e por aí vai.
No dia 7 de setembro de 2011, o cantor completaria 75 anos. E, para relembrar sua importância, o selo Fantasy, da Concord Music Group, lança no próximo dia 28 o disco "Rave On Buddy Holly", com covers das músicas mais célebres de Holly.
Algumas são cantadas por gente estrelada, como Paul McCartney, Lou Reed e Patti Smith. Mas há também nomes que tentam deixar sua marca na história do rock and roll atual, como Julian Casablancas (Strokes), a dupla Black Keys, a cantora Florence and the Machine e o cantor Cee Lo Green.
Desde o dia 19/6, o disco já pode ser ouvido na íntegra no site da rádio "NPR": www.npr.org/music. Destaque para "Dearest" (Black Keys), "Crying, Waiting, Hoping" (Karen Elson, ex-mulher de Jack White) e "Rave On" (Casablancas).

RAVE ON BUDDY HOLLY

ARTISTA Vários
LANÇAMENTO Fantasy Records
QUANTO US$ 10 (cerca de R$ 16), na Amazon.com

CAROL NOGUEIRA
DE SÃO PAULO
Publicado na Folha de São Paulo em 22/06/2011 (quarta-feira)

terça-feira, 21 de junho de 2011

"Chico", novo disco de Chico Buarque



Vazou na Internet a primeira música do novo álbum de Chico Buarque, intitulado apenas "Chico". A faixa "Querido diário" foi disponibilizada no site oficial do cantor para quem tinha comprado o CD pela pré-venda, pagando R$29,90, mas não houve controle e já é possível encontrar o single para download gratuito.

O disco "Chico" será lançado oficialmente apenas no dia 20 de julho e, até o momento, apenas 1250 cópias foram vendidas pela pré-venda da gravadora Biscoito Fino, segundo a assessoria de imprensa.

http://mais.uol.com.br/view/zwuxgmhe6kop/chico-buarque--querido-diario-04020C9A3966C8B91326?types=A&
"Querido diário"

Hoje topei com alguns
conhecidos meus
Me dão bom-dia [bom-dia], cheios de carinho;
dizem para eu ter muita luz
e ficar com Deus
Eles têm pena de eu viver sozinho

Hoje a cidade acordou
toda em contramão
Homens com raiva,
buzinas, sirenes, estardalhaço
De volta à casa, na rua
recolhi um cão
que, de hora em hora, me arranca um pedaço

Hoje pensei em ter religião
De alguma ovelha, talvez,
fazer sacrifício
Por uma estátua ter adoração
Amar uma mulher sem orifício

Hoje, afinal, conheci o amor
E era o amor, uma obscura trama
não bato nela, não bato
nem com uma flor
mas se ela chora, desejo-me em flama

Hoje o inimigo veio,
veio me espreitar
Armou tocaia lá
na curva do rio
Trouxe um porrete, um porrete a "mode" me quebrar
mas eu não quebro não, porque sou macio, viu?!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ser Vasco é preciso

XICO SÁ

Só o time da Colina pode desbravar novamente uma campanha pelo futiba de massa

AMIGO TORCEDOR, amigo secador, a caravela saiu do escudo, do peito do vascaíno, e até agora singra ruas e mares, que festa merecida, depois do triunfo do mais nacional dos campeonatos.

O mais nacional e o menos elitista, o torneio da gente diferenciada, como diriam em Higienópolis. Nenhum time mais que o Vasco da Gama, o nome do heroico português, merecia o título nessa hora.

Nessa grave hora, amigo, em que o futebol, assim como na sua chegada à nossa pátria, embranquece de novo, caminha para uma elitização medonha, com ingressos ao alcance de poucos. Navegar é preciso, ser Vasco agora é mais preciso ainda.

O Vasco, o primeiro clube a aceitar negros, mulatos e brancos pobres na sua equipe, quando o esporte ainda era exclusividade dos barões, ganha a Copa do Brasil, essa espécie de Coluna Prestes ludopédica, que abarca o sertão e o cais. Que o título vire símbolo. Só o time da Colina pode desbravar de novo uma campanha, na contramão da história, por um futiba de massa, que não caia no conto elitista de sequestrar a geral dos estádios. Só o Vasco, prezado Dinamite, pode sair na frente.

O Flamengo e o Corinthians, também de origens proletárias, só pensam em luxo e riqueza. Quem sabe uma aliança com o Internacional, outro pioneiro no embate de classes. Quem sabe o Santa lá no Recife, com seu bravo lumpesinato, também abrace a causa.

O mundo gira e a lusitana roda, a história carecia de um Vasco forte exatamente agora. O Vasco de Almir Pernambuquinho e de Juninho Pernambucano. O Vasco dos patrícios, da padaria e de todas as adegas, do trabalho e da bagaceira, do português que sai da piada para entrar na história, reescrevendo, com a Bic que escorre atrás da orelha, um novo Lusíadas.

Cesse toda a obviedade que a resenha esportiva canta. Sem essa de achar que Copa do Brasil vale pela vaga na Libertadores. Tudo bem, dá acesso, o futuro a Deus e a dom Sebastião pertencem. O que vale, porém, é a mais nacional das pelejas, não esse Sonolentão-2011 apenas com 20 clubes da elite.

Agora, rumo ao Santos Dumont, vejo uma imagem inesquecível, a multidão vascaína arrastando o ônibus do clube como se fosse uma caravela gigante, uma arca de Noé que desliza no seco como se no oceano dos grandes conquistadores.
"Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar." Eis a trilha sonora, do vascaíno Paulinho da Viola, ecoando sobre a velha Guanabara.

Publicado na Folha de São Paulo em 10/06/2011, sexta-feira

Em novo álbum, Romulo Fróes se distancia dos ícones da MPB


Romulo Fróes

ROGÉRIO SKYLAB
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando ouvi "No Chão Sem o Chão", disco de Romulo Fróes de 2009, achei que ele havia chegado onde almejara. "No Chão..." dependia dos discos anteriores: "Calado" e "Cão". E essa duplicidade o engrandecia.

O que distingue o artista da nova leva de compositores não é apenas o fato de ele ser o arauto da nova música.

Ele dramatiza essa música. E "No Chão Sem o Chão" era a maior prova disso: a canção expandida, segundo Luiz Tatit, ou a "estética do longe", como tentei defini-la.
Esse é o terceiro ciclo da nossa música. O primeiro começa com a bossa nova e chega até os anos 80. A vanguarda paulistana e o rock-Brasil compõem o segundo.

A partir de Marisa Montes e Los Hermanos, entramos no terceiro. Aqui não há mais confrontação. A intenção perdeu a força e a voz. É solitária e vazia. O que era expressivo passa a ser neutro.

Em "No Chão sem o Chão", estamos num museu natural. Há Chico, Caetano, Djavan... Empalhados, mas presentes.

"Um Labirinto em Cada Pé", no entanto, aumenta a distância dos ícones. Eles estão esmaecidos, invisíveis.

Personagens concretos perdem a nitidez. Fróes parte para o esvaziamento. Cheguei a pensar no efeito de duplicidade na "estética do longe", que mais amortiza do que intensifica os objetos.

Ledo engano. "Ditado" diz: "A vida às vezes tem um lado/ A vida às vezes tem dois lados/ A vida até tem três ou quatro/ Anota bem o meu ditado/ Às vezes fica até quadrada/ Mas bem lá dentro você sabe/ A vida é círculo e é elipse/ Quando ela é sol ela é eclipse/ Quando ela morre é que ela vive".
"Um Labirinto em Cada Pé" leva essa nova música mais longe. O círculo ultrapassa a duplicidade.

ROGÉRIO SKYLAB é músico
Publicado na Folha de São Paulo em 13/06/2011, segunda-feira.