terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O fim da Modern Sound - *1966 +2010

Amigos, hoje se tornou um dia extraordinariamente triste para mim. Recebi uma mensagem do Rio de Janeiro enviada pelo meu amgio Marce Braz dando conta do fechamento da Modern Sound, a mais importante e tradicional loja de discos daquela cidade e, certamente, uma das mais importantes do Brasil.

A loja é linda, super espaçosa, possui um grande acervo de CDs, DVds e discos de vinil, além de comercializar incríveis aparelhos de som que tocam os antigos bolachões.

Como se isso não bastasse, o espaço agrega um chamoso bar com alta gastronomia e shows fantásticos gratuítos. Só para que vocês tenham um idéia do nível dos artistas que lá se apresentam, em agosto passado a casa recebu o grande baterista Wilson das Neves que, como disse Chico Buarque de Holanda: "eu me orgulho de tocar na banda de Wilson das Neves". O mestre da bateria acompanha Chico Buarque nas gravações de seus discos e nos shows.

Postei o link da Modern Sound para que vocês conheçam a loja e vejam a programação mensal de shows da casa, com destaque para SambaJazz Trio com Kiko que traz nomes da nova geração de talentos da música brasileira (outra característica da casa, além de apresentar os grandes nomes da nossa música, abria espaço também para os jovens talentos) e Luiz Alves, um dos mestres da música brasileira. Mauro Senise, espetacular instrumentista nos sopros: flaustista, saxofonista etc. Este era figura cativa da Modern Sound. Tive a oportunidade de assistir várias apresentações dele naquele espaço sagrado.

Embora reconheça que avassalador processo da evolução tecnológica que possibilitou a postagem de discos através da internet tenha contribuido para o fechamento das lojas de discos no Brasil e no mundo, creio que o principal responsável é o alto valor de um CD que gira em torno de 50 reais.

É absolutamente lamentável que um espaço tão tradicional como a Modern Soun feche suas portas. Hoje liguei para o meu jovem amigo Vitor Noah. Ele é músico e tem apenas 17 anos. Eu queria contar pra ele da minha tristeza por esse fato e lamentar que ele não o tenha conhecido. Para minha surpresa ele me disse que já havia estado na Modern Sound. Pois então, o Vitor foi privilegiado, mas a maioria de sua geração só terá oportunidade de conhecer fantástica loja nos livros de história e nos depoimentos dos mais velhos que lá estiveram.

A música brasileira estará de luto no dia 31 de dezembro quando a Modern Soud fechar as suas portas pra sempre.
Postado em 21/12/2010 às 16:58

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Dani Gurgel, amizade, coletânea, blogs, Sampa, Vidadutos, Itamar Assumpção...

http://www.mediafire.com/myfiles.php

"Semana passada passei alguns dias em São Paulo. Trabalhei dois dias e nos demais bati perna sozinha na cidade que, aliás, a cada dia, mais aprecio." Li estas palavras numa mensagem que recebi esta semana da minha amiga Adriana que reside em Goiânia.

Hoje eu assisti no YouTube o vídeo da Dani Gurgel em que ela e amigos músicos, compositores e produtores descrevem as suas participações no processo de criação e produção do DVD Viadutos, idealizado pela cantora e compositora paulistana. O que chama a atenção é que o projeto é, em tese, individual, mas observando o envolvimento de todos eles na sua execução percebe-se que na realidade é uma obra essencialmente coletiva.

Mas voltando a frase da minha amiga sobre São Paulo e tratando de contextualizá-la, o fato é que a Dani Gurgel inicia seu depoimento comentando sobre sua visão e relação com a cidade de São Paulo:

“Eu gosto muita dessa loucura de São Paulo. Dessa gama gigantesca de possibilidades que você tem numa cidade tão grande com tanta gente diferente, com tantas idéias diferentes e tanta coisa diferente acontecendo ao mesmo tempo. A cidade é isso. Se você olha de fora ela é cinza, ela é toda igual, ela é sem graça. Mas se você chega perto, você vê que na verdade são várias cores se completando e o que você vê de longe como cinza é só a mistura”

"E agora, galera, quem poderá me defender?", pois entrei numa grande viagem misturando amigos (no caso Adriana) coletâneas temáticas que gosto de produzir de maneira virtual com o acervo da nossa rádio web Boca Livre (Coletânea Coração Paulista) que também retrata a minha ligação com Sampa, apresentar o trabalho desta garota super talentosa e ligadíssima no movimento do seu tempo e ainda comentar sobre o processo de criação e produção coletiva que tá rolando com essa nova geração de artistas da qual Dani Gurgel faz parte. Ufa!!! Como cantou Titãs: “uma coisa de cada vez, tudo ao mesmo tempo agora”.

Então, vamos lá. Há alguns dias eu li no blog Música Social uma matéria "clonada" da Revista Trip sobre os novos talentos da música produzida em Sampa que eles denominaram de Geração SP. Já da Dani Gurgel eu conheci há uns dois ou três anos dando uma entrevista na TV UOL. Na oportunidade ela deixava claro a sua posição absolutamente favorável à compartilhamento da produção musical através dos diversos blogs e afins. Lembro-me que fiz questão de transcrever o depoimento dela e, claro, em seguida, tratei de buscar o disco para baixar. Encontrei o CD Dani Gurgel Demo de 2007. Fiquei encantado!

Só para efeito de registro quero contar que encontrei esse disco no saudoso e fantástico "Música da Boa", que era super antenado com a produção musical contemporânea e especialista em lançar jovens e talentosas cantoras. Atualmente, quem continua firme na luta em favor da boa música brasileira é o “Fulano Sicrano” do magnífico blog “Um Que Tem” que, inclusive, tem três CDs da Dani Gurgel postados.
http://umquetenha.org/uqt

Em 2009 ela lançou o CD intitulado "Agora: Dani Gurgel e Novos Compositores". Pelo que a gente observa no vídeo sobre a produção do DVD Viadutos e no título desse disco, fica evidente a sintonia da Dani Gurgel com o movimento do seu tempo e, portanto, sua opção de criar e produzir coletivamente e lançar no universo virtual o resultado desse trabalho. Mas ao mesmo tempo, ela grava os pés no mundo real indo apresentar o trabalho nos locais mais inusitados, levando ao pé da letra o conhecido verso de Milton Nascimento: “o artista tem que ir aonde o povo está”, seja nas estações de metrô ou diante dos monitores de computador.

Isso tudo me remeteu a matéria que li no blog “Música Social” “clonada” da Revista Trip http://musicasocial.blogspot.com/search?q=revista+trip que apresenta uma relação de novos artistas na área de música que partiram para o trabalho criativo solidário. Creio que a síntese dessas idéias está neste trecho que retirei da matéria sobre “Os Novos Talentos da Música Brasileira”:

“Nenhum homem é uma ilha, todo de si mesmo; cada homem é um pedaço do continente, uma parte da terra principal”, escreveu em 1624 o poeta inglês John Donne. O verso ilumina nossa busca pelos homens arquipélago dos anos 00, no lugar dos músicos estelares dos anos 60. Hoje, quem se isolar dos aspectos menos artísticos de seu trabalho some. Não funciona ficar no canto criando, à sombra de uma gravadora ou de um produtor. O artista precisa se mover para todos os lados, às vezes se ocupando de tarefas nada musicais – pensar a arte do CD ou do site, cuidar da produção de um show ou da agenda de um evento.

Agora que ficou combinado que o CD é suporte para o trabalho ao vivo, antes meio que fim, ficou mais liberado todo mundo tocar com todo mundo. Seja solidário ou morra: a cena musical deriva concretamente da dinâmica das redes, que se tornaram o novo paradigma da comunicação (online e interativa, da internet e dos videogames), substituindo o de difusão (próximo dos festivais de TV e dos programas de rádio). Faz sentido a aproximação de artistas e bandas de gêneros musicais distantes. Isso não tem nada a ver com movimento: a liga é mais forma que conteúdo, mais modo de trabalho que programa artístico.”


Creio que não poderia terminar sem mencionar o nome de Itamar Assumpção, um dos artistas mais geniais desse País, falecido em 12 de junho de 2003 com apenas 53 anos de idade. Apesar de todo seu talento e genialidade, ou talvez por isso mesmo, ele pautou a sua curta, mas intensa carreira de compositor, intérprete e arranjador, envolvido num amplo processo de criação coletiva. Do seu grupo, denominado de “vanguarda paulistana” despontaram nomes como Arrigo Barnabé, Eliete Negreiros, Vânia Bastos, Grupo Rumo, Na Ozzetti, Tetê Espíndola, Alzira Espíndola, Alice Ruiz e vários outros grandes artistas.

Em 2007 eu “produzi” uma coletânea denominada “Coração Paulista” que, como o próprio nome sugere, coloco apenas canções feitas pra São Paulo. Mas o interessante foi que o “Um Que Tenha” acaba de postar três discos do Itamar Assumpção. O primeiro eu já tenho: Pretobrás: Por Que Eu Não Pensei Nisso Antes? (1998). O segundo: Petrobás II: Maldito Vígula (2010). O terceiro: Petrobrás III: Devia Ser Proibido (2010). Nesse terceiro disco tem uma canção belíssima em homenagem a São Paulo chamada: “Persigo São Paulo” que eu tratei de incluí-la na coletânea. Deixo o link pra quem desejar baixar.

http://www.mediafire.com/myfiles.php

Então, acho que já chega! Como diriam os adolescentes: “Ninguém merece!!!” rsrs
Obrigado

Fiquem na companhia de Dani Gurgel com a música Cinza (Rafa Barreto/Dani Gurgel) que está no DVD Viadutos.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

"O Fim da Canção"

Durante a realização da última edição do FICA – Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental na Cidade de Goiás, eu tive a oportunidade de assistir ao show, ou como foi intitulado o evento: Recital Conferência: A Canção Brasileira: Nas Palavras das Canções, apresentado por José Miguel Wisnik, músico, pensador, crítico literário, professor de Teoria Literária da USP, considerado um dos grandes compositores da atualidade.

A proposta do recital-conferência baseia-se em que, acompanhando-se ao piano, José Miguel Wisnik apresenta canções de sua autoria e de outros compositores, fazendo comentários sobre relações entre letra e música, sobre música e literatura, sobre música e cinema, sobre os múltiplos lugares das canções no Brasil.

Eu fiquei especialmente interessado nessa apresentação porque no início do ano passado eu estava no Rio de Janeiro e meu amigo Marcelo, professor da UFRJ, havia comentado comigo que lera uma declaração do Chico Buarque comentando sobre o fim da canção. De imediato manifestei minha perplexidade diante desta constatação.

Apesar de não ter nenhuma formação teórica na área musical, confesso que ousei discordar do mestre Chico Buarque de Holanda. Como já admiti, o fato da minha relação com a música ser apenas intuitiva, não conseguiria fundamentar a minha argumentação contrária à posição do grande músico e poeta. Por isso mesmo, fiquei na expectativa de que outros músicos e teóricos nesta área pudessem ter mesma compreensão que eu tive e contestar, em alto nível, a afirmação do grande Chico Buarque.

Ainda em abril do ano passado eu recebi uma carta do Marcelo contendo o recorte de uma matéria publicada pelo Jornal O Globo. Nela os músicos José Miguel Wisnik, Arthur Nestroviski e Tom Zé, além do filósofo Lorenzo Mammi debatiam “o fim da canção”.

Daí o meu enorme interesse em assistir ao show/palestra do José Miguel Wisnik. Evidentemente que eu não perderia a oportunidade de chamar a discussão sobre o tema do fim da canção. Claro que o que fiz e foi muito legal ouvir as argumentações do Wisnik ao vivo.

Deixo aqui pra vocês o recorte da publicação do Jornal O Globo sobre o tema em questão.

Informação nunca é demais, ou é? Mas de qualquer maneira lá vai: Clique uma vez sobre o recorte que ele se ampliará. Depois clique novamente e o mesmo ficará legível.