terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O fim da Modern Sound - *1966 +2010

Amigos, hoje se tornou um dia extraordinariamente triste para mim. Recebi uma mensagem do Rio de Janeiro enviada pelo meu amgio Marce Braz dando conta do fechamento da Modern Sound, a mais importante e tradicional loja de discos daquela cidade e, certamente, uma das mais importantes do Brasil.

A loja é linda, super espaçosa, possui um grande acervo de CDs, DVds e discos de vinil, além de comercializar incríveis aparelhos de som que tocam os antigos bolachões.

Como se isso não bastasse, o espaço agrega um chamoso bar com alta gastronomia e shows fantásticos gratuítos. Só para que vocês tenham um idéia do nível dos artistas que lá se apresentam, em agosto passado a casa recebu o grande baterista Wilson das Neves que, como disse Chico Buarque de Holanda: "eu me orgulho de tocar na banda de Wilson das Neves". O mestre da bateria acompanha Chico Buarque nas gravações de seus discos e nos shows.

Postei o link da Modern Sound para que vocês conheçam a loja e vejam a programação mensal de shows da casa, com destaque para SambaJazz Trio com Kiko que traz nomes da nova geração de talentos da música brasileira (outra característica da casa, além de apresentar os grandes nomes da nossa música, abria espaço também para os jovens talentos) e Luiz Alves, um dos mestres da música brasileira. Mauro Senise, espetacular instrumentista nos sopros: flaustista, saxofonista etc. Este era figura cativa da Modern Sound. Tive a oportunidade de assistir várias apresentações dele naquele espaço sagrado.

Embora reconheça que avassalador processo da evolução tecnológica que possibilitou a postagem de discos através da internet tenha contribuido para o fechamento das lojas de discos no Brasil e no mundo, creio que o principal responsável é o alto valor de um CD que gira em torno de 50 reais.

É absolutamente lamentável que um espaço tão tradicional como a Modern Soun feche suas portas. Hoje liguei para o meu jovem amigo Vitor Noah. Ele é músico e tem apenas 17 anos. Eu queria contar pra ele da minha tristeza por esse fato e lamentar que ele não o tenha conhecido. Para minha surpresa ele me disse que já havia estado na Modern Sound. Pois então, o Vitor foi privilegiado, mas a maioria de sua geração só terá oportunidade de conhecer fantástica loja nos livros de história e nos depoimentos dos mais velhos que lá estiveram.

A música brasileira estará de luto no dia 31 de dezembro quando a Modern Soud fechar as suas portas pra sempre.
Postado em 21/12/2010 às 16:58

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Dani Gurgel, amizade, coletânea, blogs, Sampa, Vidadutos, Itamar Assumpção...

http://www.mediafire.com/myfiles.php

"Semana passada passei alguns dias em São Paulo. Trabalhei dois dias e nos demais bati perna sozinha na cidade que, aliás, a cada dia, mais aprecio." Li estas palavras numa mensagem que recebi esta semana da minha amiga Adriana que reside em Goiânia.

Hoje eu assisti no YouTube o vídeo da Dani Gurgel em que ela e amigos músicos, compositores e produtores descrevem as suas participações no processo de criação e produção do DVD Viadutos, idealizado pela cantora e compositora paulistana. O que chama a atenção é que o projeto é, em tese, individual, mas observando o envolvimento de todos eles na sua execução percebe-se que na realidade é uma obra essencialmente coletiva.

Mas voltando a frase da minha amiga sobre São Paulo e tratando de contextualizá-la, o fato é que a Dani Gurgel inicia seu depoimento comentando sobre sua visão e relação com a cidade de São Paulo:

“Eu gosto muita dessa loucura de São Paulo. Dessa gama gigantesca de possibilidades que você tem numa cidade tão grande com tanta gente diferente, com tantas idéias diferentes e tanta coisa diferente acontecendo ao mesmo tempo. A cidade é isso. Se você olha de fora ela é cinza, ela é toda igual, ela é sem graça. Mas se você chega perto, você vê que na verdade são várias cores se completando e o que você vê de longe como cinza é só a mistura”

"E agora, galera, quem poderá me defender?", pois entrei numa grande viagem misturando amigos (no caso Adriana) coletâneas temáticas que gosto de produzir de maneira virtual com o acervo da nossa rádio web Boca Livre (Coletânea Coração Paulista) que também retrata a minha ligação com Sampa, apresentar o trabalho desta garota super talentosa e ligadíssima no movimento do seu tempo e ainda comentar sobre o processo de criação e produção coletiva que tá rolando com essa nova geração de artistas da qual Dani Gurgel faz parte. Ufa!!! Como cantou Titãs: “uma coisa de cada vez, tudo ao mesmo tempo agora”.

Então, vamos lá. Há alguns dias eu li no blog Música Social uma matéria "clonada" da Revista Trip sobre os novos talentos da música produzida em Sampa que eles denominaram de Geração SP. Já da Dani Gurgel eu conheci há uns dois ou três anos dando uma entrevista na TV UOL. Na oportunidade ela deixava claro a sua posição absolutamente favorável à compartilhamento da produção musical através dos diversos blogs e afins. Lembro-me que fiz questão de transcrever o depoimento dela e, claro, em seguida, tratei de buscar o disco para baixar. Encontrei o CD Dani Gurgel Demo de 2007. Fiquei encantado!

Só para efeito de registro quero contar que encontrei esse disco no saudoso e fantástico "Música da Boa", que era super antenado com a produção musical contemporânea e especialista em lançar jovens e talentosas cantoras. Atualmente, quem continua firme na luta em favor da boa música brasileira é o “Fulano Sicrano” do magnífico blog “Um Que Tem” que, inclusive, tem três CDs da Dani Gurgel postados.
http://umquetenha.org/uqt

Em 2009 ela lançou o CD intitulado "Agora: Dani Gurgel e Novos Compositores". Pelo que a gente observa no vídeo sobre a produção do DVD Viadutos e no título desse disco, fica evidente a sintonia da Dani Gurgel com o movimento do seu tempo e, portanto, sua opção de criar e produzir coletivamente e lançar no universo virtual o resultado desse trabalho. Mas ao mesmo tempo, ela grava os pés no mundo real indo apresentar o trabalho nos locais mais inusitados, levando ao pé da letra o conhecido verso de Milton Nascimento: “o artista tem que ir aonde o povo está”, seja nas estações de metrô ou diante dos monitores de computador.

Isso tudo me remeteu a matéria que li no blog “Música Social” “clonada” da Revista Trip http://musicasocial.blogspot.com/search?q=revista+trip que apresenta uma relação de novos artistas na área de música que partiram para o trabalho criativo solidário. Creio que a síntese dessas idéias está neste trecho que retirei da matéria sobre “Os Novos Talentos da Música Brasileira”:

“Nenhum homem é uma ilha, todo de si mesmo; cada homem é um pedaço do continente, uma parte da terra principal”, escreveu em 1624 o poeta inglês John Donne. O verso ilumina nossa busca pelos homens arquipélago dos anos 00, no lugar dos músicos estelares dos anos 60. Hoje, quem se isolar dos aspectos menos artísticos de seu trabalho some. Não funciona ficar no canto criando, à sombra de uma gravadora ou de um produtor. O artista precisa se mover para todos os lados, às vezes se ocupando de tarefas nada musicais – pensar a arte do CD ou do site, cuidar da produção de um show ou da agenda de um evento.

Agora que ficou combinado que o CD é suporte para o trabalho ao vivo, antes meio que fim, ficou mais liberado todo mundo tocar com todo mundo. Seja solidário ou morra: a cena musical deriva concretamente da dinâmica das redes, que se tornaram o novo paradigma da comunicação (online e interativa, da internet e dos videogames), substituindo o de difusão (próximo dos festivais de TV e dos programas de rádio). Faz sentido a aproximação de artistas e bandas de gêneros musicais distantes. Isso não tem nada a ver com movimento: a liga é mais forma que conteúdo, mais modo de trabalho que programa artístico.”


Creio que não poderia terminar sem mencionar o nome de Itamar Assumpção, um dos artistas mais geniais desse País, falecido em 12 de junho de 2003 com apenas 53 anos de idade. Apesar de todo seu talento e genialidade, ou talvez por isso mesmo, ele pautou a sua curta, mas intensa carreira de compositor, intérprete e arranjador, envolvido num amplo processo de criação coletiva. Do seu grupo, denominado de “vanguarda paulistana” despontaram nomes como Arrigo Barnabé, Eliete Negreiros, Vânia Bastos, Grupo Rumo, Na Ozzetti, Tetê Espíndola, Alzira Espíndola, Alice Ruiz e vários outros grandes artistas.

Em 2007 eu “produzi” uma coletânea denominada “Coração Paulista” que, como o próprio nome sugere, coloco apenas canções feitas pra São Paulo. Mas o interessante foi que o “Um Que Tenha” acaba de postar três discos do Itamar Assumpção. O primeiro eu já tenho: Pretobrás: Por Que Eu Não Pensei Nisso Antes? (1998). O segundo: Petrobás II: Maldito Vígula (2010). O terceiro: Petrobrás III: Devia Ser Proibido (2010). Nesse terceiro disco tem uma canção belíssima em homenagem a São Paulo chamada: “Persigo São Paulo” que eu tratei de incluí-la na coletânea. Deixo o link pra quem desejar baixar.

http://www.mediafire.com/myfiles.php

Então, acho que já chega! Como diriam os adolescentes: “Ninguém merece!!!” rsrs
Obrigado

Fiquem na companhia de Dani Gurgel com a música Cinza (Rafa Barreto/Dani Gurgel) que está no DVD Viadutos.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

"O Fim da Canção"

Durante a realização da última edição do FICA – Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental na Cidade de Goiás, eu tive a oportunidade de assistir ao show, ou como foi intitulado o evento: Recital Conferência: A Canção Brasileira: Nas Palavras das Canções, apresentado por José Miguel Wisnik, músico, pensador, crítico literário, professor de Teoria Literária da USP, considerado um dos grandes compositores da atualidade.

A proposta do recital-conferência baseia-se em que, acompanhando-se ao piano, José Miguel Wisnik apresenta canções de sua autoria e de outros compositores, fazendo comentários sobre relações entre letra e música, sobre música e literatura, sobre música e cinema, sobre os múltiplos lugares das canções no Brasil.

Eu fiquei especialmente interessado nessa apresentação porque no início do ano passado eu estava no Rio de Janeiro e meu amigo Marcelo, professor da UFRJ, havia comentado comigo que lera uma declaração do Chico Buarque comentando sobre o fim da canção. De imediato manifestei minha perplexidade diante desta constatação.

Apesar de não ter nenhuma formação teórica na área musical, confesso que ousei discordar do mestre Chico Buarque de Holanda. Como já admiti, o fato da minha relação com a música ser apenas intuitiva, não conseguiria fundamentar a minha argumentação contrária à posição do grande músico e poeta. Por isso mesmo, fiquei na expectativa de que outros músicos e teóricos nesta área pudessem ter mesma compreensão que eu tive e contestar, em alto nível, a afirmação do grande Chico Buarque.

Ainda em abril do ano passado eu recebi uma carta do Marcelo contendo o recorte de uma matéria publicada pelo Jornal O Globo. Nela os músicos José Miguel Wisnik, Arthur Nestroviski e Tom Zé, além do filósofo Lorenzo Mammi debatiam “o fim da canção”.

Daí o meu enorme interesse em assistir ao show/palestra do José Miguel Wisnik. Evidentemente que eu não perderia a oportunidade de chamar a discussão sobre o tema do fim da canção. Claro que o que fiz e foi muito legal ouvir as argumentações do Wisnik ao vivo.

Deixo aqui pra vocês o recorte da publicação do Jornal O Globo sobre o tema em questão.

Informação nunca é demais, ou é? Mas de qualquer maneira lá vai: Clique uma vez sobre o recorte que ele se ampliará. Depois clique novamente e o mesmo ficará legível.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

'Dia Santo', o melhor disco do ano de 2009



Há meses escrevi um pequeno texto comentando sobre o "universo paralelo na música brasielira" dada a quantidade de jovens talentos despontando a todo tempo de norte a sul do País, apesar das rádios e as TVs insistirem em tocar apenas dois ou três ritmos.

Mas não voltei aqui para lamentar o leite derramado e sim para contar que me deparei com dois novos talentos incríveis da nossa música que acabaram de lançar os seus discos. Falo de Bárbara Eugênia (carioca residente em Sampa) e Jam da Silva (pernambucano residente no Rio de Janeiro).

O interessante é que você entra num círculo virtuoso fantástico. Eu estava fascinado com a interpretação, composições, voz e arranjos da Bárbara Eugênia e, assintindo um vídeo dela, acabei ouvindo a mesma citar que uma de suas gravações, Haru, era autoria de Jam da Silva. Ela fez questão de ressaltar o talento do garoto. Fui logo procurar o disco que ela comentou que ele havia gravado. Encontrei o cd "Dia Santo". Fantástico!!! O cd está postado no blog Discoteca Nacional. Deixo o link logo abaixo pra quem quiser conhecer o trabalho do Jam.

No blog eu pude também ler o belo artigo do Rodrigo Pinto, jornalista de O Globo, tecendo uma crítica super bacana sobre o trabalho do Jam que eu decidi postar aqui pra vocês.

Por Rodrigo Pinto, para O Globo
Em um ano em que Adriana Calcanhotto, Lenine, Roberto & Caetano, Skank, Frejat, Gilberto Gil, Tom Zé lançaram discos, só pra citar alguns entre os mais conhecidos de nossa música, e novatos e menos conhecidos como, Wado, Os Outros e Momo chegaram com ótimos trabalhos, escolho o melhor disco do ano o de estréia do percussionista e compositor Jam da Silva.

Produzido por ele e Chico Neves, "Dia santo" é um trabalho que despreza datas e rótulos, pronto para o mercado universal da música boa. Jam monta letras e arranjos em camadas, aproveitando o que a edição não linear (ou seja, vc desloca blocos de música sem precisar fazer cópias, colocando-os onde quer em sua linha do tempo musical) trouxe de melhor para a produção contemporânea. Assim, soma sons que coleta nas ruas aos que grava em estúdio, sozinho ou acompanhado pelos muitos participantes no CD.

- É um disco que leva meu nome, mas o processo é bem coletivo - ressalva. - Estas pessoas são muito minhas amigas. Não premeditei nada, nem sabia no que ia dar. Estou envolvido com música sempre. E estas pessoas estariam em qualquer churrasco em minha casa no Rio - complementa, referindo-se a colaboradores como Alberto Continentino, Isaar, Junio Barreto, Marcos Lobato, Iky Castilho, Wysa e Simone Soul.
Aberto a múltiplas influências e referências, o disco passa longe da vulgaridade, do previsível, e tem assinatura inconfundível e inimitável.

- Acho legal ser aqui e de qualquer lugar. Logicamente, uso elementos de coco, frevo, forró, mas a raiz está por baixo da terra, e pode ser que não soe para algumas como música de raiz, mas é.

Para quem não conhece Jam, é preciso dizer que este pernambucano radicado (ou enraizado, por que não) no Rio foi gravado por divas como Marisa Monte e Roberta Sá, integrou a orquestra Santa Massa, que por tanto tempo acompanhou o brilhante DJ Dolores, acompanhou gente como a francesa Camille e a banda FURTO, compôs para o cinema... enfim, o cara tem estrada.

Em "Dia santo", desconsidera formatos convencionais da música pop, desmonta a canção brasileira tradicional, extrapola convenções rítmicas para criar novos clássicos, como a música que dá nome ao CD - com auxílio da também pernambucana Isaar em um ótimo registro, em tom apropriado a sua voz - e ainda "Samba devagar", "O pedido", "Mania", "Dub das cavernas"... Vai tudo maravilhosamente bem, da pista à rede na praia ou ao MPB Player plugado nos ouvidos.

Amigos de Jam têm comentado duas coisas: primeiro, o desejo irrepreensível de que ele não cometa o equívoco que muitos músicos que levam a vida acompanhando outros músicos cometem, o de não dar prioridade à realização dos próprios shows; segundo, a curiosidade sobre como o homem vai tocar essa orquestra de grandes novidades ao vivo. Enquanto não vêm os shows, contente-se em ter "Dia santo". Para mim, o melhor de 2008.

A relação das músicas abaixo então no cd "Dia Santo" de Jam da Silva que você baixar através deste link:
http://discotecanacional.blogspot.com/2009/04/jam-da-silva-2009-dia-santo.html

01. Agô
02. Mania
03. Dia Santo, com Isaar
04. Samba Devagar, com Soba
05. Música Branca
06. O Pedido, com Junio Barreto
07. Macumba
08. Dub das Cavernas, com Moussu T
09. Capoeirando
10. Congachic
11. Chuva de Areia

Já que Xico Sá citou Gainsbourg...


Gainsbourg, artista, cantor, poeta, et.

No post anterior, comentando o disco da Bárbara Eugênia, Xico Sá fez questão de ressaltar que a música da garota tinha algo da sonoridade de Serge Gainsbourg:

"...Música cosmopolita contemporânea, maestro, devidamente matizada nas cores dos trópicos, com a Harley Davidson de Gainsbourg ao fundo, please, muito barulho nessa hora." (Xico Sá)

Então, pra quem não teve a sorte de saber desta figura impar na história da música contemporânea deixo os links abaixo. (Desculpem-me se pareço pretencioso. Não é isso, absolutamente. Apesar de ter ouvido muito este grande sucesso de Gainsbourg no Brasil só fui conhecê-lo de fato já na idade adulta)

Je t'aime... moi non plus
(quem de nós que tiver mais de 40 anos e não chafurdou nessa canção nas ondas das rádios AMs desse brasilzão, certamente vivia no exterior ou tinha problemas auditivos. rsrs)



http://dynamite.terra.com.br/blog/townart/post.cfm/mostra-apresenta-as-diversas-facetas-de-gainsbourg

Nasce mais uma estrela!!!!!

Bárbara Eugênia - Journal de BAD (2010)

Por Xico Sá

Não, amigo(a), para o bem ou para o mal, Bárbara Eugênia não é uma cantora/compositora “fofa” nem fez um disco idem. O mais fácil e confortável dos adjetivos da safra não lhe cabe, murmuro, digo, redundo, aposto, carimbo, cutuco: “Journal de BAD” vai além muito além, é disco grande. Guardemos a tentação ou ideia de fofura no bolso ou no palato. Fichas na jukebox, moedas na radiola, prepare seu espírito flamejante para um trilha passional capaz de reacender, num curto-circuito, todos os corações de néon da cidade, esquinas, fachadas, motéis, lares, cabarés, tudo muito romântico. “Bleeding my heart, oh no”, canta a moça, com a justa noção de que o amor cabe e estoura os gomos da pupila na levada psicodélica dos faróis. No acento do rock ou na chanson, principalmente nesta última, o amor cabe mais apertado ainda. Música cosmopolita contemporânea, maestro, devidamente matizada nas cores dos trópicos, com a Harley Davidson de Gainsbourg ao fundo, please, muito barulho nessa hora. Não obrigatoriamente um(a) cantor(a) se parece mais verdadeiro(a) quando interpreta e masca os seus próprios vocábulos, caso da maioria das faixas deste disco. Bárbara Eugênia, carioca que vive em São Paulo cercada de gente do mundo todo, se parece sim, crença nas suas composições, como quem acorda, pega a trilha de sonhos e submete ao assobio do namoro novo ou afoga tudo na quentura da manteiga que derrete nos cafés das manhãs. Na legítima fuga do amor que trava ou enferruja no calendário (“Agradecimento”) ou no medo do goleiro diante do pênalti (“A chave”), cuidado frágil – este lado para cima!-, aí vem a moça cronista do infortúnio e da ventura amorosa, cotidianos em desabridas letras. “Journal de BAD” é também um disco novo com o melhor dos sintomas modernos da música que se faz hoje no Brasil e em São Paulo: o ajuntamento de artistas como Junior Boca (guitarra, violão, produção e direção musical), Dustan Gallas (baixo, piano, órgão, teclados, mixagem e produção) e Felipe Maia (bateria), só para citar um trio de frente. Porque reparando ainda nos créditos, lá vem uma regravação de Fernando Catatau (“O Tempo”, Cidadão Instigado), uma composição de Junio Barreto, outra de Tatá Aeroplano, colaborações de Pupillo e Sá
Dengue (baixo e batera da Nação Zumbi), Otto na goela, Karina Buhr, Juliana R. Um mar de gente e de histórias. Conheci o “Journal de BAD”, com este mesmo título, ainda como uma espécie de newsletter afetiva distribuída por Bárbara Eugênia aos amigos e conhecidos. Aí está a origem do batismo. É o que este CD reverbera com seus arrastões de epifanias e encantos.

domingo, 7 de novembro de 2010

Civilização ou barbárie

Por Emir Sader

Esse é o lema predominante no capitalismo contemporâneo. Universalizado a partir da Europa ocidental, o capitalismo desqualificou a todas outras civilizações como ‘bárbaras”. A ponto que, como denuncia em um livro fundamental, Orientalismo, Edward Said, o Ocidente forjou uma noção de Oriente, que amalgama tudo o que não é Ocidente: mundo árabe, japonês, chinês, indiano, africano, etc. etc. Fizeram Ocidente sinônimo de civilização e Oriente, o resto, idêntico a barbárie.

No cinema, na literatura, nos discursos, civilização é identificada com a civilização da Europa ocidental – a que se acrescentou a dos EUA posteriormente. Brancos, cristãos, anglo-saxões, protestantes – sinônimo de civilizados. Foram o eixo da colonização da periferia, a quem queriam trazer sua “civilização”. Foram colonizadores e imperialistas.

Emir Sader, sociólogo e cientista, mestre em filosofia política e doutor em ciência política pela USP - Universidade de São Paulo.

Texto completo postado site da Carta maior:
http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=604

Aécio nos embalos da ultradireita: até 'Sual Alteza Imperial' palestra sobre reforma agrária

O Instituto Millenium promove um Fórum em Minas Gerais, com a benção de Aécio Neves, e escolhe para palestrar sobre Reforma Agária... um monarquista, além da Senadora Kátia Abreu (DEMos/TO).Mas o monarquista não é um qualquer, é "Sua Alteza Imperial e Real, o Príncipe" Dom Bertrand de Orléans e Bragança, descendente da família real, membro da TFP, coordenador e porta-voz do movimento Paz no Campo (uma espécie de anti-MST ideológico), cuja sede é no mesmo endereço da Associação dos Fundadores da TFP."Sua alteza" percorre o Brasil fazendo conferências para ruralistas e empresários. Do "alto de sua realeza", considera a Reforma Agrária e os movimentos sociais "nocivos" para os "rumos da civilização cristã", construída na concepção de seus antepassados, onde o lugar que cabia ao trabalhador rural era a senzala.No mesmo Fórum, intitulado "1ª Edição MG – Fórum da Liberdade: Os Valores da Liberdade", Roberto Civita, o dono da revista Veja, recebe (ou entrega, não está claro na programação) o "Prêmio Liberdade".Além de "Sua Alteza Imperial", e além de Aécio Neves (PSDB/MG), o governador Anastasia (PSDB/MG) palestra na abertura, e o ex-presidente FHC encerra o Fórum.

Publicado no blog Amigos do Presidente:
http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com/2010/11/aecio-nos-embalos-da-ultradireita-ate.html

sábado, 6 de novembro de 2010

Bomba! Bomba! A próxima capa da veja

Qual a capa você gostaria de ver na Veja?





Retirado do blog "Conversa Afiada" de Paulo Henrique Amorim
http://www.conversaafiada.com.br/pig/2010/11/03/bomba-bomba-a-proxima-capa-da-veja/

Serra tenta um terceiro turno em Biarritz e perde de novo

Por Luis Leblon

Na mesma sexta-feira em que o Presidente Lula fez um balanço das eleições, em cadeia nacional, no qual exortou situação e oposição a defenderem seus pontos de vista respeitando-se mutuamente, o candidato derrotado José Serra disparava uma saraivada de críticas ao chefe de Estado brasileiro em palestra proferida em Biarritz, na França.Depois de acusar o governo de se unir a ditaduras e, Lula, de praticar 'populismo de direita' em matéria econômica --numa referencia à valorização do real, que o solerte tucanoa acredita sr um probelma de cunho apenas nacional...-- , o ex-governador de SP foi interrompido pelo grito vindo da platéia: "Por qué no te callas!?". Houve um enorme alvoroço na sala e bate boca entre o conferencista e presentes --detalhes omitidos pela cobretura da mídia democtucana, naturalmente. Inútilmente. O episódio incorpora-se à biografia do candidato derrotado como uma espécie de bolinha de papel sonora que vai marcá-lo definitivamente, tanto quanto o episódio original. Urbi et orbe Serra justifica a fama de personagem arestoso, dotado de conveniente desapego à verdade e um reptilíneo pendor pelo método da calúnia.

Postado por Saul Leblon às 03:05 do dia 6/11/2010 em Carta Maior
http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=606

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Plínio afirma que preferiria governo Serra ao de Dilma


Plínio deixa claro que considera que um eventual novo governo encabeçado pelo PSDB "seria ruim também". Ele avalia que a gestão de Dilma Rousseff, eleita no dia 31, é "um horror", e que ocorrerá uma nova forma de mensalão. "No (eventual governo) Serra, temos a repressão, em Lula a cooptação", qualificou. "Acho mais favorável (para a esquerda) a repressão, que aliás já enfrentei. Mas é melhor porque a repressão unifica, as pessoas se unem, vão para as ruas", especulou.

Fiz questão de negritar o parágrafo acima para que ressaltar alguns depoimentos do senhor Plínio de Arruda Sampaio que eu considero importantíssimos para serem debatidos.
Quando li, sobretudo, a seguinte frase: "Acho mais favorável (para a esquerda) a repressão, que aliás já enfrentei.", confesso, fiquei absolutamente chocado.

Vejam, jamais utilizaria qualquer argumento contrário a este senhor em função da sua idade avançada em razão do enorme respeito e carinho que tenho pelos anciãos. Além do mais, é importante mencionar que os estudos de história, sociologia e antropológia registram em muitas culturas deste planeta a importância fundamental dos mais velhos, onde são considerados os guardiões da sabedoria e respeitados como tal.
Daí, portanto, o meu assombro diante de depoimentos tão escdruxulos e canalhas. Afirmar que o senhor Plínio de Arruda Sampaio está esclerosado eu também não podeira fazê-lo já que não sou médico e muito menos estive com ele para poder fazer qualquer suposição desta natureza. Portanto, só me resta afirmar com bastante convicção: este homem é um grande canhalha!!!

Afirmo isto porque não posso admitir que uma pessoa que tenha vivido e, segundo o próprio, enfrentado "os anos de chumbo" da ditadura imposta no Brasil a partir de 1964, tenha coragem de afirmar que a repressão é mais favorável para a esquerda. Fico pensando numa mãe, numa esposa, num irmão, num pai, num amigo que tenham perdido um ente querido morto pela terrível repressão que se intalou no Brasil durante mais de vinte anos. Não é possível que a mágoa que o senhor Plínio tenha do Partido dos Trabalhadores, partido este que ele ajudou a fundar, justifique esta afirmação bizarra. Portanto, só me resta afirmar categoricamente: Plínio Soares de Arruda Sampaio é um tremendo canalha!!!

Caso alguém queira conhecer o conteúdo integral da entrevista do canalha basta acessar o link abaixo.
Link do Jornal do Brasil

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Mil Palavras


Versátil, roteirista de Ladrões de Bicicleta (1948) Suso D’Amico foi além

Por José Geraldo Couto
Se não tivesse feito mais nada, a romana Suso Cecchi D’Amico (1914-2010), que morreu em 31 de julho, aos 96 anos, mereceria figurar na história do cinema pela pungente sequência final que escreveu para Ladrões de Biclicleta (1948), de Vittorio De Sica: na saída de um jogo de futebol, um trabalhador desempregado é pego roubando uma bicicleta e sofre diante do filho uma humilhação brutal.

Mas Suso, cujo nome de batismo era Giovanna, fez muito mais que isso. Ao longo de seis décadas, participou da escrita de mais de cem filmes, em alguns deles sem receber o devido crédito, caso de A Princesa e o Plebeu, de William Wyler, e Caravaggio, de Derek Jarman.

Sua entrada no mundo do cinema se deu de modo curioso. Filha de um escritor e uma pintora, ela tinha feito traduções e trabalhado como secretária de um ministério até ser chamada pela produção do clássico neorrealista Roma, Cidade Aberta para dar aulas de boas maneiras a Maria Michi e de conversação em inglês a Giovanna Galletti, atrizes do filme.

Criativa, versátil e laboriosa, Suso D’Amico trabalhou com os principais diretores italianos de seu tempo. Escreveu comédias para Monicelli, épicos políticos para Francesco Rosi, dramas existenciais para Antonioni.

Sua parceria mais profícua foi com Luchino Visconti. A partir de Belíssima (1951), participou da escrita de todos os filmes do mestre. Desprovida de vaidade, Suso trabalhava frequentemente em colaboração com outros escritores e dizia que, no cinema, “a palavra está a serviço da imagem”. Poucos entenderam isso. Poucos criaram como ela palavras e imagens tão duradouras.

Acesse o link abaixo e confira as dicas de José Geraldo Couto sobre outros filmes que tiveram a participação de Suso Cecchi D’Amico:

http://www.cartacapital.com.br/cultura/mil-palavras

*José Geraldo Couto publica em CartaCapital todas as semanas uma coluna sobre cinema intitulada "Na Calçada da Memória"

A oposição no divã


Por Lúcia Avelar - professora titular de Ciência Política/Instituto de Ciência Política/Universidade de Brasília. Pesquisadora do CNPq. Membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz

As legendas de centro-direita terão de mudar a forma de recrutamento e de organização e apresentar seu programa de governo com mais clareza

"A vitória de Dilma Rousseff tem bases mais sólidas do que parece à primeira vista. Não se deve apenas à popularidade de Lula e ao bom desempenho da economia. Há um realinhamento eleitoral que vem se desenhando desde 1994, o adensamento da sociedade civil organizada, a percepção de que há governos que fazem diferença – para melhor – na vida das pessoas, a emergência de um sentimento de identificação e solidariedade com a coletividade destituída, e de que é possível governar também para ela."

Leia o texto completo no link abaixo retirando do site da Revista CartaCapital

http://www.cartacapital.com.br/politica/a-oposicao-no-diva/print/

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dilma e a vitória da militância



Por Renato Rovai

Dilma venceu as eleições de ontem com 12 milhões de votos em relação a José Serra. Não é pouco. Mas também não é tanto quanto parece. Não fosse a militância ter assumido a disputa como sua, ao final da primeira semana do segundo turno, e provavelmente a vaca teria ido para o brejo mesmo depois de o PT e partidos aliados terem construído com Lula o governo mais popular da história do país.

Na segunda-feira dia 11, logo depois do debate da TV Bandeirantes a diferença entre Dilma e Serra bateu em quatro pontos no tracking interno do PT. O sinal amarelo, porém, tanto para a militância quanto para a coordenação de campanha já havia ascendido antes, no meio da semana anterior, quando a diferença começou a cair e a sensação era de que tanto o programa de TV de Serra estava melhor quanto como a pauta do segundo turno era ditada por ele, com relevância especial para o tema do aborto, que havia ganhado uma centralidade sem sentido nos debates públicos.

Foi essa sensação que fez com que nas redes sociais e nos blogues os militantes passassem a exigir de Dilma uma postura mais aguerrida no debate da TV Bandeirantes. No sábado e no domingo do debate a pressão foi imensa.

Blogueiros e tuiteiros queriam que ela não deixasse nada sem resposta e que comparasse a gestão tucana e os governos de Lula principalmente em relação à valorização do Estado e aos investimentos sociais. E pediam que Dilma enfrentasse com coragem a questão do aborto.

Na coordenação de campanha havia dúvidas se essa era a melhor estratégia. Um setor preferia uma Dilminha mais paz e amor, que tocasse a bola de lado contando com a enorme popularidade de Lula para chegar a vitória, como se ela fosse inevitável. Outro grupo defendia uma candidata mais firme. E Dilma também não estava satisfeita no figurino de mulherzinha comportadinha e boazinha. Queria enfrentar Serra. Queria deixar claro que era diferente e melhor do que ele. E foi para o debate com sangue nos olhos.

Dilma não poupou o tucano do primeiro ao último minuto do encontro. Fez o que a militância queria e não só mudou a pauta do debate do segundo turno, que migrou de aborto para privatizações, como também encheu de brios seus apoiadores que foram para a rua enfrentar o debate político.

Após o debate, registrei isso num post. Não tenho dúvida de que aquele foi o turning point da campanha – como gostam de dizer os gringos. Ou seja, o momento da virada do segundo turno. Se Dilma não assumisse tal postura no debate da Band, Serra poderia ter virado o jogo na semana que entrava.

Ao demarcar campos, Dilma deu mostras de que se tratava de uma disputa entre dois projetos distintos e que de alguma forma a esquerda e o movimento social progressista só tinham um lado para ficar. Com algumas exceções, foi isso que aconteceu.

Sindicatos, MST, feministas, defensores da democratização da comunicação, blogueiros progressistas, ecologistas sérios, artistas comprometidos, lutadores de todos os setores tornaram as três semanas que separaram o debate da Band do dia de ontem nas mais intensas de uma disputa política desde a redemocratização.

Dilma foi eleita com 12 milhões de votos de diferença. Não fosse o apoio decisivo desses setores e a história poderia ser diferente.

Isso não é ruim. É ótimo. O governo de Dilma terá de dar especial atenção a esses setores, que não tem reivindicações privadas, mas públicas. E de interesse público.

O segundo turno foi ótimo para a futura presidenta da República. Sua vitória vem com marca de povo, de luta social, de projeto democrático, com a força da esquerda.

Dilma terá de fazer um governo que avance nas conquistas já obtidas nos oito anos de Lula. É isso que vai lhe fazer governar junto com quem lhe garantiu a vitória de ontem, a militância.

PS: Agradeço a todos que ajudaram a construir o 48 horas democracia. Foi uma experiência sensacional e que marcou a história profissional deste blogueiro.

*Renato Rovai é editor da Revista Fórum

Dilma, a vitória da esperança

Por Wladimir Pomar

A eleição de Dilma foi uma vitória contra o tradicional machismo herdado do escravismo colonial e do antigo latifúndio. Foi uma vitória contra o conservadorismo e o reacionarismo de uma direita travestida de social-democrata. Foi uma demonstração de que a grande imprensa já tem dificuldade em manipular as mentes e corações do povo.

Mas foi, sobretudo, uma vitória da esperança e da expectativa das camadas populares do povo brasileiro na continuidade e no aprofundamento das melhorias e reformas que lhe interessam. Foi também uma vitória das militâncias petista, democrática e popular, que voltaram às ruas para disputar, no corpo a corpo, os votos dos indecisos e dos enganados. E uma vitória da campanha, que diante da ameaça de derrota, desceu do salto alto e, mesmo atrasada, decidiu travar a disputa política e enfrentar os ataques e a baixaria.

Mais do que todas as campanhas já realizadas pelo PT, a campanha Dilma terá que ser avaliada em profundidade, em especial pelos cenários com que o novo governo e o partido se defrontarão desde já. É significativo que, ao discurso de Dilma, estendendo as mãos à oposição, Serra tenha respondido apenas com um grito de guerra pela “liberdade, pela democracia e pela nação”. Em outras palavras, ele simplesmente sinalizou que não haverá trégua.

A direita brasileira e internacional não se conforma com mais quatro anos de governo de coalizão, dirigido pelo PT. Assim, embora o governo democrático e popular deva adotar uma tática de abertura para negociar, de modo a obter maiorias significativas e consensos em torno dos projetos de grande interesse do país e do povo, não pode nem deve nutrir ilusões de que o PSDB e seus aliados pretendam a mesma liberdade, a mesma democracia e a mesma nação que interessa à esmagadora maioria do povo brasileiro.

A discussão desses temas, que ficaram totalmente abandonados no primeiro turno, e não puderam ser aprofundados no segundo, terão obrigatoriamente que constar da pauta de trabalho do PT e do governo. Temos defendido que, estar na direção do governo não isenta o PT de fazer política. Ao contrário, exige que ele se empenhe ainda mais em conhecer as reivindicações e expectativas das grandes camadas populares e da classe média, tanto as antigas que não foram satisfeitas, quanto as novas, e responder a elas com propostas concretas e os correspondentes apelos de mobilização.

A melhoria das condições de vida de uma parte considerável da população, tendo por base as ações do governo Lula, não são um fim em si mesmo. A elevação do poder de compra suscita agora, nessas camadas populares, a necessidade de ter moradia, saúde, educação, cultura, saneamento básico, transportes e outros serviços públicos. Além, é claro, de manter a oferta dos produtos básicos de alimentação e vestuário a preços acessíveis.

Tudo isso exige altos investimentos e a democratização das ofertas, com a mobilização de amplas forças econômicas e sociais para garantir sua concretização. Essa é uma disputa real em torno dos conceitos de liberdade, democracia e nação, inclusive no imaginário de uma parte da classe média, que se vê ultrajada pela ascensão, mesmo pequena, das chamadas classes C e D.

Se o PT e seus aliados de esquerda não entrarem nessa disputa, que é tanto econômica e social, quanto política e ideológica, a diferenciação entre a liberdade, a democracia e a nação que queremos, e aquelas defendidas pelo PSDB e pela direita que representa, não serão esclarecidas. Na falta dessa diferenciação, continuarão a replicar-se fenômenos como os do Tiririca, derrotas em regiões onde Dilma venceu, mas seus candidatos a governador e a senador perderam, e a emergência de supostas terceiras vias, para mascarar a disputa de projetos diametralmente opostos.

Em outras palavras, apesar dos avanços dos oito anos de governo Lula e da popularidade imensa do presidente, a correlação entre as principais forças políticas em disputa não tiveram uma mudança decisiva. Serra ainda obteve 44% dos votos do eleitorado, o PSDB conquistou os governos de estados importantes como São Paulo, Minas, Paraná, Goiás e Pará, e sua bancada no Senado e na Câmara continua considerável.

Numa visão realista do Congresso, apesar do avanço dos partidos de esquerda, o centro e a direita ainda são majoritários em suas duas casas. A suposição de que Dilma possui o apoio da maioria dos congressistas pode ser verdadeira para a disputa eleitoral, mas certamente não será verdadeira para projetos que firam interesses patrimonialistas e pretendam substituí-los por interesses nacionais e populares, e ampliar os direitos democráticos e as liberdades. Eles certamente encontrarão resistências de todo tipo.

Portanto, o PT precisará libertar-se da ilusão de que teria conquistado aquilo que, em termos militares, chama-se de batalha decisiva. Conquistou uma vitória importante, mas ela o obrigará a uma verdadeira reviravolta em sua concepção atual de fazer política, se quiser avançar mais do que o governo Lula, que é o que se espera do governo Dilma.

O PT não pode continuar acreditando que o fato do governo democrático e popular aplicar políticas que beneficiem as camadas populares significa, de antemão, uma percepção popular de que a melhora de suas condições de vida, como emprego, salários e aumento da renda, são resultados diretos de tais políticas. Tal percepção fica ainda mais nublada na situação, como a brasileira, em que o foco principal é o desenvolvimento das forças produtivas. O que significa, queira-se ou não, uma melhoria ainda maior da lucratividade das empresas e da burguesia e a manutenção das grandes diferenças de renda.

Por não haver compreendido que essa contradição não pode ser abolida administrativamente, mesmo que tivesse ocorrido uma revolução popular vitoriosa no Brasil, uma parte da esquerda transformou-se em oposição ao governo Lula e o acusa, assim como ao PT, de haverem se tornado “capitalistas”.

De outro lado, grande parte da esquerda que apóia o governo, inclusive o PT, se deitou no berço esplendido da enorme popularidade de Lula. Abandonou o trabalho político árduo de discutir tais questões com as camadas populares e a classe média e de elaborar novas propostas de avanço nas reformas que o Brasil necessita, inclusive numa perspectiva socialista.

Desse modo, deixou inclusive que algumas de suas bandeiras tradicionais fossem levantadas como armas de combate contra ela própria. Para complicar ainda mais, acreditou que a burguesia estava satisfeita com o desenvolvimento da economia e viria em bloco no apoio ao candidato que Lula apontasse. E subestimou a capacidade de articulação política do setor burguês de oposição ao governo democrático e popular.

Ou seja, por um lado alimentou ilusões de que a luta de classes acabara e, por outro, foi arrogante em relação ao inimigo. Tais concepções levaram o PT e essa parte da esquerda a não entenderem que as alianças com uma parte da burguesia não significam apenas unidade em torno do desenvolvimento das forças produtivas, mas também luta, com razão e com limite, pela maior participação na política, por melhores salários e melhores condições de trabalho e de vida, e por outras reivindicações populares.

Aquelas concepções também contribuíram para que parte do PT e da esquerda não atentassem para a necessidade de aprender a combinar a defesa do governo democrático e popular com a direção prática das lutas dos trabalhadores e das camadas populares, seja para forçar o governo de coalizão a avançar no atendimento das reivindicações populares e democráticas, seja para forçar a burguesia a dividir parte de seus lucros.

Em outras palavras, aquelas concepções obscureceram a necessidade de praticar unidade e luta, tanto dentro do governo, quanto na sociedade. Se o PT e a esquerda que estão no governo houvessem praticado essa combinação política, pelo menos durante o segundo mandato do governo Lula, as condições políticas para a campanha eleitoral seriam diferentes.

Como não o fez, continuou acreditando que estava totalmente certa e, ainda por cima, cometeu uma série de erros estratégicos e táticos durante a campanha Dilma do primeiro turno. É certo que a superação parcial desses erros no segundo turno levou à vitória. Mas achar que isto resolve os problemas que estão pela frente pode ser um erro ainda mais grave. Principalmente após ouvir o brado de Serra de que a “luta continua”.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Foi Bolinha de Papel

Partido Alto Bolinha de Papel - Tantinho da Mangueira e Serginho Procopio

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Galera, eu já narrei aqui no blog a história do cantor e compositor Naire que acaba de ter sua música "Companheiro" na trilha da novela Araguaia da TV Globo. Agora acabo de receber do meu amigo Sidney de Goiânia o link da postagem que ele fez no YouTube com a abertura da novela Araguaia com a trilha original de "Companheiro" com o próprio Naire. Achei super bacana! Ah, só para assegurar os créditos: o Sidney foi a pessoa que me apresentou a música do Naire.

Classe Média - Max Gonzaga e Banda Marginal

O link abaixo apresenta a música "Classe Média" com Max Gonzaga e Banda Marginal. Ele me foi enviado pelo meu amigo Manoel Napoleão que o recebeu do aluno João Victor de Souza Cyrino, aluno dele no Campus Avançado da UFG em Jataí/Goiás. Eu já conhecia a música e achei bastante oportuno postá-la nesse momento da campanha presidencial em que a classe média brasileira está novamente mostrando os seus "medos" e preconceitos dos mais variados. Falando de preconceitos acabei me lembrando da música "Nuna Existiu Pecado" do grupo Barão Vermelho que aborda muito bem esse tema. Então decidi postar também o Barão levando esse rock balada super visceral.

"A rapidez velha do tempo
Revive inquisições fatais
Um novo ciclo de revoltas
E preconceitps sexuais

Por mais liberdade que eu anseie
Esbarro em repressões fascistas
Mas tô a margem disso tudo
Desse mundo escuro e sujo"



Nunca Existiu Pecado
(Roberto Frejat - Guto Goffi)


A rapidez velha do tempo
Revive inquisições fatais
Um novo ciclo de revoltas
E preconceitps sexuais

Por mais liberdade que eu anseie
Esbarro em repressões fascistas
Mas tô a margem disso tudo
Desse mundo escuro e sujo

Não tenho medo de amar
Pra mim nunca existiu pecado
Essa vida é uma só
Nesse buraco negro eu não caio

A esperança é um grande vício
Cuidado com suas traições
E não deixe de cuspir no lixo o gosto amargo das decepções

A humanidade tá um porre amenos
Não aprendeu a respirar
Quebrou pra esquina errada
E avançou os sinais

O dia em que até a Globo vaiou Ali Kamel


O chefe conduz a equipe para a vergonha

Passava das 9 da noite dessa quinta-feira e, como acontece quando o “Jornal Nacional” traz matérias importantes sobre temas políticos, a redação da Globo em São Paulo parou para acompanhar nos monitores a “reportagem” sobre o episódio das “bolinhas” na cabeça de Serra.
A imensa maioria dos jornalistas da Globo-SP (como costuma acontecer em episódios assim) não tinha a menor idéia sobre o teor da reportagem, que tinha sido editada no Rio, com um único objetivo: mostrar que Serra fora, sim, agredido de forma violenta por um grupo de “petistas furiosos” no bairro carioca de Campo Grande.
Na quarta-feira, Globo e Serra tinham sido lançados ao ridículo, porque falaram numa agressão séria – enquanto Record e SBT mostraram que o tucano fora atingido por uma singela bolinha de papel. Aqui, no blog do Azenha. você compara as reportagens das três emissora na quarta-feira. No twitter, Serra virou “Rojas”. Além de Record e SBT, Globo e Serra tiveram o incômodo de ver o presidente Lula dizer que Serra agira feito o Rojas (goleiro chileno que simulou ferimento durante um jogo no Maracanã).
Ali Kamel não podia levar esse desaforo pra casa. Por isso, na quinta-feira, preparou um “VT especial” – um exemplar típico do jornalismo kameliano. Sete minutos no ar, para “provar” que a bolinha de papel era só parte da história. Teria havido outra “agressão”. Faltou só localizar o Lee Osvald de Campo Grande. O “JN” contorceu-se, estrebuchou para provar a tese de Kamel e Serra. Os editores fizeram todo o possível para cumprir a demanda kameliana. mas o telespectador seguiu sem ver claramente o “outro objeto” que teria atingido o tucano. Serra pode até ter sido atingido 2, 3, 4, 50 vezes. Só que a imagem da Globo de Kamel não permite tirar essa conclusão.
Aliás, vários internautas (como Marcelo Zelic, em ótimo vídeo postado aqui no Escrevinhador) mostraram que a sequência de imagens – quadro a quadro – não evidencia a trajetória do “objeto” rumo à careca lustrosa de Serra.
Mas Ali Kamel precisava comprovar sua tese. E foi buscar um velho conhecido (dele), o peritoRicardo Molina.
Quando o perito apresentou sua “tese” no ar, a imensa redação da Globo de São Paulo – que acompanhava a “reportagem” em silêncio – desmanchou-se num enorme uhhhhhhhhhhh! Mistura de vaia e suspiro coletivo de incredulidade.
Boas fontes – que mantenho na Globo – contam-me que o constrangimento foi tão grande que um dos chefes de redação da sucursal paulista preferiu fechar a persiana do “aquário” (aquelas salas envidraçadas típicas de grandes corporações) de onde acompanhou a reação dos jornalistas. O chefe preferiu não ver.
A vaia dos jornalistas, contam-me, não vinha só de eleitores da Dilma. Há muita gente que vota em Serra na Globo, mas que sentiu vergonha diante do contorcionismo do “JN”, a serviço de Serra e de Kamel.
Terminado o telejornal, os editores do “JN” em São Paulo recolheram suas coisas, e abandonaram a redação em silêncio – cabisbaixos alguns deles.
Sexta pela manhã, a operação kameliana ainda causava estragos na Globo de São Paulo. Uma jornalista com muitos anos na casa dizia aos colegas: “sinto vergonha de ser jornalista, sinto vergonha de trabalhar aqui”.
Serra e Kamel não sentiram vergonha.

Acerte a bolinha de papel na cabeça do Serra

Amigos, depois daquela farsa bizzara do Serra indo a uma clínica fazer tomografia da cabeça por causa de uma bolinha de papel só nos resta brincar com a situação. Copie este endereço abaixo e comece a jogar. É o maior barato. Só não gostei da minha primeira perfance atirando as bolinhas de papel pois acertei apenas duas. Mas continuarei jogando. rsrsrs

http://www.gordonerd.com/jogo-acerte-a-bolinha-de-papel-no-serra?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed:+gordonerd+(Gordo+nerd

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Dilma é garantia do processo democrático

É só no governo Dilma que poderemos continuar lutando para transformar o crescimento em um outro tipo de desenvolvimento

Por Giuseppe Cooco


O medíocre desempenho eleitoral de José Serra nesse primeiro turno é consequência do esgotamento do discurso tecnocrático que, durante a breve hegemonia da macroeconomia neoliberal, tinha funestamente reanimado os mornos interesses das elites brasileiras.
Por trás da hipocrisia deslavada (até com a demonização dos direitos das mulheres), só resta a linguagem insensata do fundamentalismo economicista: o Brasil é um "custo" a ser "cortado". É a apologia dos meios (cortes dos custos) contra os fins (todos os brasileiros).
A vitória parcial, mas expressiva, de Dilma Rousseff contém muitos dos elementos inovadores desses oito anos de governo Lula: distribuição de renda, políticas culturais, democratização do ensino superior, formidável criação de empregos formais, demarcação das reservas indígenas e, enfim, uma política externa autônoma.
Contudo, na campanha do PT há também acentos do velho adágio: os fins justificam os meios. O crescimento (os meios) não precisa ser pensado, pois é justificado pelo fim (o desenvolvimento): uma siderúrgica se justifica por si.
A candidatura de Marina Silva foi o fato novo quando ela teve a coragem de dizer que os fins e os meios devem estar juntos. Cultura (desenvolvimento) e natureza não devem se opor, mas qualificar-se reciprocamente, na hibridização que eles são: natureza artificial e artifício natural!
Mas o modo como a "onda verde" juntou os jovens urbanos libertários aos piores fundamentalismos foi dramaticamente paradoxal: os meios e os fins acabaram se opondo entre si, de maneira insustentável.
O segundo turno desenha uma nítida alternativa. Por um lado, uma "coalizão dos meios" se apresenta como novo fundamentalismo abertamente reacionário. Seu regime discursivo é aquele do medo.
Não se sabe o preço social que todos pagaremos pelo leilão de paixões tristes (machismo, sexismo, racismo) atiçado pelos que nada têm a propor, a não ser uma virada protofascista.
Pelo outro lado, a "coalizão dos fins" pode se juntar aos meios e tornar-se sustentável diante dos novos desafios.
Se o capitalismo global inclui (explora) os pobres enquanto pobres fragmentos heterogêneos em competição no mercado, os pobres se organizam cada vez mais enquanto diferenças: favelados, negros, mestiços, mulheres, indígenas, quilombolas, gays, lésbicas, sem terra.
É aqui, nos pobres, que desenvolvimento e natureza estão juntos e o voto ecologista mantém sua potência. Para não ser capturada, a novidade da candidatura Marina deve apostar na democrática hibridização do social ("cultura") e da natureza (meio ambiente), ou seja, na junção da resistência contra a volta da "peste neoliberal" com as políticas dos pobres.
É só no governo de Dilma que poderemos continuar lutando para transformar a quantidade (o crescimento) em qualidade (um outro tipo de desenvolvimento). A sustentabilidade é aquela da mestiçagem das ondas vermelha e verde, para além de e contra os fundamentalismos.

Dias que condesam décadas

O ódio deles tem razão de ser. E seus métodos, é lamentável dizer, tinham de ser esperados por nós. Era previsível que agissem assim. Esperamos uma direita civilizada, ao contrário de tudo que nos diz nossa história. Se tivéssemos compreendido isso no primeiro turno, deveríamos ter nos mobilizado e nos preparado para a hipótese do 2º turno. Estamos vivendo aqueles dias que condensam décadas. Dias que decidem o destino da Nação e do povo brasileiro. Os militantes têm que ganhar as ruas. As pesquisas têm indicado uma consolidação da preferência do povo brasileiro. Isso, no entanto, não nos autoriza a descansar um minuto que seja.

Por Emiliano José

A ilusão na política é uma péssima companhia. De modo geral, esse pecado é cometido não só pela incapacidade de an alisar a correlação de forças como também da ausência de conhecimento histórico. Há muito que comentar sobre essa campanha. Como o Serra conseguiu, de longe, ultrapassar o Collor no jogo baixo, sujo, próximo do gangsterismo, do banditismo, envolvendo não só o que o professor Giuseppe Cocco chamou de leilão das paixões tristes (machismo, sexismo, racismo), como também a montagem de um impressionante aparato clandestino de comunicação, um esquema nacional de telemarketing destinado a caluniar, mentir, difamar, tudo dirigido contra uma mulher, Dilma Rousseff.

Cito esses poucos exemplos, para não fazer uma longa lista, que não cabe aqui. Depois da volta das eleições diretas, é a campanha em que a direita joga mais sujo, e talvez nossas ilusões não permitissem antecipar essa possibilidade. Quem sabe confiássemos num jogo democrático, quem sabe de alto nível. Quem sabe imaginássemos um Serra ainda envolto por sua herança pré-64, verde presidente da UNE. Quem sabe o quiséssemos pronto para o debate limpo, ele defendendo o projeto de Brasil que de fato advoga, o Brasil neoliberal, livre das amarras da presença do Estado, que deve ser, nesse projeto, cada vez mais mínimo, que me desculpem a expressão pleonástica. Um Estado voltado a reprimir, o Estado do uso da força, aliás uma de suas propostas mais caras e claras.

Nossas ilusões, talvez, incluíssem, sem que o quiséssemos, a abolição da luta de classes. Esquecemo-nos de lições antigas. Aquelas que aprendemos no passado, e que a vida democrática, tão prezada por nós e que devemos prezar sempre, pode nos levar a esquecer. Vem de Marx, o velho e sempre atual Marx, a lição de que toda a história da humanidade é a história da luta de classes. E nós podemos dizer, com tranqüilidade, que ela está mais viva do que nunca. E o Brasil dessas eleições é uma evidência disso. Os campos se definem claramente, e agora o que antes poderia parecer um jogo civilizado, deixou de sê-lo, e isso desde o primeiro turno, sem que acordássemos devidamente para isso. Descambou para o que sem medo de errar podemos chamar, como o fazíamos antes, de ódio de classe. Um ódio que faz questão de mostrar a cara.

A campanha do Serra mergulhou atrás do ódio. Tentou plantar na sociedade brasileira pelos métodos mais sórdidos a semente do ódio. Até o bordão de que comunista come criancinha voltou quase que literalmente, para sacrificar a mulher no altar hediondo de um moralismo medieval, como disse num texto para o Terra Magazine. Não importa que tantas mulheres, milhares delas, morram por ano no País devido à falta de atendimento por conta de abortos feitos em condições miseráveis, aviltantes, que atentam contra a dignidade humana. Não importa que ele mesmo, Serra, tenha, como ministro da Saúde, determinado o atendimento a essas mulheres. Ele mente, ele nega, e ele não cora ao mentir. É só lembrar o caso de Paulo Preto, que ele nega hoje, e amanhã o acolhe, temeroso da ameaça pública que o seu auxiliar lhe fez. O senso comum o compararia a Pedro, que negou Cristo três vezes, ou a Judas, que traiu Cristo, como diz a tradição bíblica. Talvez mais, muito mais Judas, do que Pedro.

Nós não tínhamos o direito de nos iludir. Não tínhamos o direito de ignorar as leis da luta de classes, que aprendemos com tanto rigor anteriormente. Será que ao nos convertermos à democracia, e digo nos convertermos porque durante algum tempo muitos de nós, da esquerda, a víamos como algo tático, será que então pensamos nela como um solene baile de valsa? Como um teatro onde todos se respeitam? Uma democracia onde as regras são aceitas e cumpridas? Onde os projetos são tratados habermasianamente? Todas essas ilusões se firmaram, talvez, porque nem nós mesmos ainda alcançamos a dimensão, o significado do projeto político que estamos encabeçando no Brasil, a importância que ele tem para o povo brasileiro e para o mundo, especialmente para os povos dos países mais pobres, os povos do Sul da humanidade.

Seria possível imaginar que esse projeto era do agrado de todos? Será que não compreendemos que esse era um governo de esquerda para as condições do Brasil e do mundo? E por isso suscetível de gerar tanto ódio? Será que não tínhamos a dimensão de que forças internacionais torcem, e queiramos que seja só torcida, para que esse projeto seja derrotado? Será que não sabíamos que o projeto político que estamos levando à frente criou uma impressionante rede de solidariedade entre nós e a América do Sul, o Caribe, a África, a Ásia? E que isso não pode agradar aos EUA? Será que um projeto que distribui renda como nós o fizemos, a maior distribuição de renda de toda a nossa história, ia ser tratado com punhos de renda pela direita brasileira?

O ódio deles tem razão de ser. E os métodos deles, é lamentável dizer isso, tinham de ser esperados por nós. Era previsto que eles agissem assim. Esperamos uma direita civilizada, ao contrário de tudo o que nos diz a nossa história. E digo isso não para afirmar qualquer coisa na linha de que deveríamos responder na mesma moeda. Se já tivéssemos compreendido isso desde o primeiro turno, deveríamos ter nos mobilizado, estimulado muito mais a nossa militância, deveríamos ter nos preparado para a hipótese do segundo turno, deveríamos também chamar para nós algumas teses caras à nossa juventude, tratado melhor os sonhos de tanta gente, que ainda quer ir além do que estamos fazendo, e ainda bem que há essa gente.

Temos poucos dias. Eles são decisivos. Estamos vivendo aqueles dias que condensam décadas. Aqueles dias que decidem o destino da Nação. O destino do povo brasileiro. Nossa inserção no mundo. Decide-se se o Brasil irá continuar a ser um protagonista central no mundo, um aliado fundamental dos países mais pobres, ou se voltará a ser vassalo dos grandes centros do capitalismo mundial, tal e qual o foi o governo demo-tucano, sob o professor Fernando Henrique Cardoso. Os militantes do PT, com sua vitalidade, seus sonhos de sempre, têm que ganhar as ruas, como estão fazendo mais e mais nas últimas horas. E têm que chamar a todos os que têm compromissos com esse projeto, da esquerda ao centro, para que não descansem até a vitória. As pesquisas têm indicado uma consolidação da preferência do povo brasileiro, que tem amadurecido muito nos últimos anos. Isso, no entanto, não nos autoriza a descansar um minuto que seja. Afirmar a democracia no Brasil é lutar para que esse País continue a distribuir renda e a crescer, e isso só é possível com a vitória de Dilma. O povo brasileiro vencerá.

Emiliano José é jornalista e escritor.
Publicada na Carta Maior.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Lembrando as mentiras colloridas

Por Wladimir Pomar

A campanha Dilma, mesmo tardiamente, se deu conta de que Serra se parece cada vez mais com Collor na campanha de 1989. Ele está procurando aplicar o mesmo estelionato eleitoral contra o povo brasileiro, combinando uma campanha midiática de promessas com a difusão massiva de mentiras e calúnias contra a candidata do PT.

Promete tudo, mesmo que as contas para realizar o que está prometendo representem dois ou três produtos internos brutos do país. Promete reforçar a Petrobrás, o Banco do Brasil e a CEF, mesmo que seu passado no governo FHC tenha sido o de tentar privatizar essas poucas estatais que sobraram da privataria selvagem daquele governo.

Promete melhorar a educação, embora sua participação no governo FHC tenha contribuído para quase liquidar as universidades e o ensino público no Brasil. Promete implantar o ensino técnico, embora no governo FHC tenha aplicado uma política de desmonte desse ensino e esconda que o governo Lula deu um salto na construção e funcionamento das escolas técnicas federais.

Promete salário mínimo de 600 reais, embora tenha concordado com as políticas de arrocho desse e de outros salários durante o governo FHC. Promete emprego pleno, embora tenha aplicado rigorosamente a política de desemprego pleno e de alastramento da miséria, que caracterizaram o governo FHC.

Promete crescimento econômico e desenvolvimento social, embora tenha contribuído para o desmonte da indústria nacional e para a subordinação do Brasil às ordens do FMI, segundo o qual crescimento causa inflação. Arvora como grande sucesso a implantação do real e do controle da inflação, embora esse sucesso tenha sido obtido à custa da economia nacional, que praticamente quebrou, e à custa do padrão de vida do povo, que desceu a um dos níveis mais baixos de sua história.

O sucesso de uma política anti-inflacionária se mede pelo grau de crescimento econômico e de emprego, como vem fazendo o governo Lula, e não pelo grau de quebradeira industrial e desemprego, como ocorreu no governo FHC. O uso de remédios que fazem o doente morrer "muito melhor", como a política aplicada por FHC-Serra, deveria ser considerado, na melhor das hipóteses, como erro médico ou, na pior, como crime contra o país e o povo.

A campanha suja contra Dilma segue o mesmo padrão de mentiras, lembrando a campanha collorida contra Lula em 1989. Lula seria analfabeto e incompetente, teria casa no Morumbi, possuiria dinheiro em paraísos fiscais, iria acabar com as religiões e fechar as igrejas, liberar o aborto, desapropriar ou dividir as casas, tomar as fábricas e os negócios, implantar o comunismo e dar o calote na poupança. Excetuando o calote aplicado por Collor, a campanha suja contra Dilma acrescentou a essas acusações a de que ela seria terrorista e lésbica, e teria assassinado inocentes.

Tudo isso era esperado por quem acompanhava as ações de PSDB e do DEM no parlamento e na imprensa. No entanto, a coordenação da candidatura Dilma acreditou que a campanha seria de "alto nível", como Serra prometia. Assim, ao invés de utilizar, desde o primeiro minuto do primeiro turno, o antídoto do debate político sobre os temas mais candentes da realidade brasileira, a coordenação da campanha Dilma acreditou que bastava a popularidade de Lula para garantir a vitória já no primeiro turno. Ficou arrogante e fez ouvidos moucos a todos os alertas sobre os perigos de sua política de "salto alto".

Para piorar, achou que a campanha midiática era a principal e desdenhou a experiência anterior do PT e de Lula, de que candidatos do PT só têm chances de vitória se amassarem o barro das ruas sem asfalto, onde ainda mora uma grande parte do povo brasileiro, e se realizarem uma campanha massiva de corpo a corpo com a população, incluindo comícios, carreatas e outras formas de contato direto com o eleitorado.

Em virtude, principalmente, desses dois erros estratégicos, a campanha Dilma permitiu que uma parte da esquerda e da juventude migrasse para Marina, que levantou bandeiras que historicamente eram do PT e da esquerda. O que propiciou a Serra escapar da polarização no primeiro turno, embora em nenhum momento tenha abandonado os dois veios principais de sua estratégia: promessas aos milhares e mentiras e calúnias constantes, neste caso com o apoio explícito de Veja, O Globo e outros jornais da grande imprensa.

Apanhada de surpresa com a ida ao segundo turno, a coordenação da candidatura Dilma, pelo menos na campanha na TV, começou a fazer o que deveria ter feito no primeiro turno. Tem respondido aos ataques de Serra e passou a desmascarar as promessas do candidato tucano, mostrando a incoerência do que fez durante o governo FHC e introduzindo um certo debate político sobre o futuro.

O problema é saber se isso será acompanhado da massificação dos contatos com o povo. Embora o tempo seja curto demais para saldar toda a dívida acumulada nesse terreno da estratégia, tal massificação talvez seja essencial para tirar do marasmo aqueles apoiadores de Dilma que acreditavam na vitória fácil e agora estão deprimidos com a dureza do embate. Sem jogar todas as forças no combate, a candidatura Dilma corre sério risco de assistir às mentiras colloridas vencerem mais uma vez.

Wladimir Pomar é escritor e analista político.
Pubicado em 18-Out-2010

Polícia Federal fecha gráfica do PSDB com panfletos e telemarketing difamatórios montados contra Dilma

18.10.2010

O coordenador jurídico da campanha da coligação Para o Brasil Seguir Mudando, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), anunciou medidas judiciais adotadas contra a distribuição de milhões de panfletos com logomarca da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e que orientam os católicos a não votar em Dilma Rousseff.
Segundo ele, a Polícia Federal vai investigar a origem dos panfletos, mas pelos nomes das pessoas envolvidas há fortes indícios de que a campanha adversária, de José Serra, esteja envolvida com a confecção dos impressos.
“Embora não possamos fazer acusações definitivas, há indícios veementes que esse panfleto pode ter sido produzido pelo nosso adversário. A gráfica tem como sócia Arlety Kobayashi, irmã de Sérgio Kobayashi, que é o coordenador de infraestrutura da campanha do candidato José Serra. É indiscutível a relação da proprietária da gráfica com o PSDB e com o candidato José Serra. Sendo assim, é evidente que não poderíamos deixar de ter postura pública e pedir explicação sobre esses fatos”, analisou Cardozo.
O que a campanha quer, segundo ele, é apontar quem encomendou, quem pagou e quem distribuiu os panfletos. “Não se pode achar que seria feito por amadores. É um custo altíssimo, e a distribuição é difícil. Se fosse o PT, por exemplo, para distribuir esses 20 milhões de panfletos, teria que convocar toda sua militância”, analisou.
Polícia Federal
Ontem, a pedido da coligação, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que a Polícia Federal apreendesse 1,2 milhão de panfletos na gráfica Pana, na região do Cambuci, em São Paulo. Mas, segundo o PT, o dono da gráfica afirmou que o pedido inicial seria de 20 milhões, que ele não teve como atender.
Até agora, ninguém assumiu a autoria dos panfletos. A CNBB divulgou nota dizendo que desautoriza a publicação e que não tinha conhecimento da distribuição dos panfletos. A campanha tucana também se manifestou dizendo que tem não relação com a história.
O presidente estadual do PT, deputado Edinho Silva, contou como o partido descobriu os milhões de panfletos. Segundo ele, um cidadão foi encomendar um serviço da gráfica, viu os panfletos e resolveu denunciar. Ele telefonou no sábado para o secretário de comunicação do partido e, como o diretório estadual estava reunido, foi possível fazer a mobilização.
“Quero dar os parabéns porque a denúncia partiu de cidadão que se revoltou e avisou o PT. E reconhecer a determinação da nossa militância, pois da denúncia até a apreensão teve uma vigília na gráfica para evitar que o material fosse retirado”, disse Silva.
Telemarketing
Cardozo informou também que ainda hoje a campanha ingressará com um pedido de investigação junto ao TSE contra uma campanha de telemarketing que está sendo realizada pelo candidato adversário.
“Há relatos em matérias dos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas de pessoas em todo Brasil que estão recebendo ligações de uma central de telemarketing. Pedem se há algum eleitor de Marina Silva na casa e daí se faz propaganda contra Dilma Rousseff, com calúnias e difamações. Essa é uma prática ilegal. Há que se perguntar quem tem recursos para pagar esse tipo de campanha, que é caro. Estamos diante de uma eleição dura e disputada, mas há regras. Quem faz críticas não pode fazer no subterrâneo. Ética não pode ser usada de forma retórica, quem age com ética faz crítica à luz do dia”, disse o coordenador da campanha.
Ele fez um apelo aos eleitores e cidadãos para desmontar a central de boatos. “Pedimos que se as pessoas receberem telefonemas de telemarketing desse tipo gravem e nos passem, para nós denunciarmos os autores. Estamos criando e-mail em defesa do comportamento ético das eleições (denuncie@btadvogados.com.br). Aquele que receber informações indevidas nos avise para chamarmos os policiais e acionarmos o TSE. Queremos chegar aos autores dessa questão”, pediu.

Professores denuncial bonapartismo de Serra

*Manifesto em Defesa da Educação Pública

Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.
Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das Universidades federais.
Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política de sucateamento da Rede Pública. São Paulo foi o único Estado que não apresentou, desde 2007, crescimento no exame do Ideb, índice que avalia o aprendizado desses dois níveis educacionais.
Os salários da Rede Pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores qualificados e a desestimular quem decide se manter na Rede Pública. Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.
Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se. As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas. Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados.
No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais. Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor.

*Este manifesto foi assinado por várias centenas de professores de univerdidades públicas do Brasil.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Flagrante: Panfletos Falsos da CNBB - Apreensão em SP

A Hora da Escolha

Por Silvio Caccia Bava - Le Monde Diplmatique

A campanha eleitoral do PSDB e das elites conservadoras neste ano traz características surpreendentes, porque consideradas superadas há muito tempo. É um renascer conservador que usa de todos os métodos, manipula, distorce, falseia, na tentativa de seduzir o eleitor sem dizer a que veio sem apresentar sequer um programa de governo.
Temas como a crença em Deus, o aborto, a liberdade de imprensa, a corrupção, dominam a agenda eleitoral e, em si, já demonstram que não é o futuro do Brasil que os preocupa, mas desclassificar e derrotar seus adversários por quaisquer meios. E é tal a manipulação que, neste momento eleitoral, apresentam estes temas como se fossem da alçada de decisões da Presidência da República, o que não é verdade.
A separação entre a Igreja e o Estado é um dos princípios que funda o Estado moderno, que também é assegurada na Constituição de 1988 e em todos os países ocidentais. Crer ou não em Deus, ter ou não uma religião, são temas da vida privada, de foro pessoal, e assim devem continuar para garantir o respeito à diversidade e pluralidade culturais, fundamentos da democracia e da paz, ou voltaremos aos tempos das inquisições e da fogueira para sacrificar os hereges.
A descriminalização do aborto não é uma “política para matar criancinhas”, como declara solertemente a oposição. É uma questão de saúde pública que se propõe para evitar a morte de milhares de mulheres, condenadas a enormes riscos ao realizarem seus abortos de forma precária e clandestina, sem qualquer apoio do poder público. E é importante frisar que também aqui, neste caso, a decisão por adotar estas políticas não é da Presidência da República, mas sim do Congresso Nacional.
A questão da corrupção, ela sempre esteve presente na política brasileira, na democracia das elites, que se servem deste expediente na defesa de interesses privados, afrontando a dimensão pública e o interesse coletivo. Se é verdade que os expedientes do “dá lá, toma cá”, estão presentes também no atual governo, o que é lamentável e demanda uma reforma política para instituir controles democráticos efetivos sobre Executivo, Legislativo e Judiciário, não dá para o PSDB posar de vestal, basta lembrar as denúncias da compra de votos que permitiram a FHC modificar a Constituição e ter seu segundo mandato.
Esta agenda eleitoral, fundamentalista e despolitizada, que não trata das questões que importam para o futuro do país, só ganhou importância pelo destaque que a mídia lhe deu – TVs e jornais – que atuaram de maneira articulada, impondo sua versão dos fatos e tentando transformá-la em realidade. Nunca é demais lembrar que uma das questões centrais da democratização de nosso país é retirar do controle de apenas 9 famílias estes meios de comunicação. A tão propalada ameaça à liberdade de imprensa nada mais é que a defesa deste oligopólio, que por sua vez representa o conservadorismo, agora mais radical neste fim de campanha eleitoral.
Assistimos a um deslocamento ideológico onde o PSDB passa a ocupar o lugar do DEM, e o PT o lugar do PSDB. Esta situação abriu um espaço à esquerda no espectro político. Se Marina tivesse se aliado aos pequenos partidos à esquerda, que nasceram como dissidências do PT, poderíamos ter tido uma opção eleitoral à esquerda, mas este não foi o caso, como se pode ver com o alinhamento informal do PV à candidatura do PSDB. Marina paga agora o preço de sua ingenuidade.
A expressiva votação de Tiririca para deputado federal combina com a despolitização desta campanha e com um sentimento de rejeição pela política e pelos políticos de importantes setores da população, que desconfiam da falsidade das campanhas eleitorais e desta manipulação midiática. Afinal, como as candidaturas à presidência prometem mais creches, escolas, saúde, se estes equipamentos e serviços são responsabilidade dos governos municipais? Por que não falam de cambio, política externa, integração regional, projeto de desenvolvimento?
A verdade é que as candidaturas se dobraram à lógica das pesquisas eleitorais e das estratégias de marketing. Falam o que o eleitor quer ouvir. Prometem como sempre prometeram, a cada eleição. O importante nas condições atuais é construir critérios para avaliar as opções. E um deles pode ser o de comparar os governos que estes dois partidos realizaram e avaliar não só o quanto cumprem de suas promessas, mas o que fizeram pelo povo brasileiro.
Embora eles não estejam enunciados com clareza, existem dois projetos para o Brasil em disputa. O do PT é a continuidade de um processo de crescer favorecendo as grandes empresas nacionais e redistribuindo alguma (pouca) riqueza, permitindo a inclusão dos mais pobres. É a isso que se chama social democracia, uma antiga bandeira do PSDB. Já o projeto do PSDB é radical no sentido de favorecer o livre mercado, como se estivéssemos nos anos 90... E o livre mercado não tem nenhum projeto de desenvolvimento autônomo para o Brasil e nem se preocupa com o interesse público. Não é preciso dizer que esta opção só favorece as elites tradicionais, que se transformam em sócias menores do capital internac ional, quando o fazem. Nesse caso, nossas riquezas irão beneficiar outros senhores e a desigualdade aumentará.
Mas, mesmo com estas condições que deixam tanto a desejar, temos que fazer uma escolha. Para muitos não será uma escolha pela sua identidade pessoal com um projeto político. Terá de ser uma avaliação em função das opções concretas. Falo especialmente para os que votaram em Marina no primeiro turno, para os que anularam o voto, para os que se abstiveram.

Publicado originalmente no Le Monde Diplmatique
Silvio Caccia Bava
Diretor e Editor Chefe

Manifesto Mulheres com Dilma por um Brasil soberano, justo e igualitário.

Nós formamos uma onda, nós somos um movimento que se espalha pelo país. Nós somos Mulheres com Dilma Para Presidenta do Brasil. Somos negras, somos brancas, somos trabalhadoras, somos indígenas, somos mães, somos lésbicas, somos rurais, somos urbanas, de todas as regiões, com diferentes credos e convicções políticas. E, assim como Dilma, somos mulheres que sempre lutaram pela Democracia e por um país com justiça social.

Nestas eleições, queremos dizer ao mundo que não podemos abrir mão de todas as conquistas sociais e do trabalho, construídas nos oito anos do Governo Lula. Não queremos retrocessos. Queremos avançar na construção de um Estado democrático, com soberania nacional. Queremos um Estado que respeite todas as religiões, mas que não seja controlado por nenhuma delas

Vamos seguir em frente organizadas e decididas a nos manter em movimento permanente pela democracia no país e no mundo. Queremos construir novas formas de organizar a vida social, com paz, com direitos, queremos uma nova economia, justiça ambiental e redistribuição da riqueza produzida. Queremos uma vida sem violência, com liberdade e com autonomia. Queremos partilhar e transformar os espaços públicos de poder e decisão.

Para nós Dilma é parte da heróica geração que cumpriu um papel democrático na luta contra a ditadura militar, é parte das forças que impulsionaram a democracia ativa no nosso país, é parte comprometida com a reconstrução das funções públicas do Estado brasileiro e com a promoção de uma inserção soberana dos países do sul no diálogo internacional.

Estamos com Dilma porque nela reconhecemos coragem, compromisso e ousadia para aprofundar os processos iniciados no Governo LULA.Estamos com Dilma para barrar o retorno ao poder do projeto liberal conservador.Estamos com Dilma por uma educação inclusiva, não-sexista e não-racista, pela garantia da saúde e o pleno exercício dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, por seu compromisso em promover a nossa autonomia econômica. Estamos com Dilma pelo direito a terra, aos recursos econômicos e ao desenvolvimento rural sustentável para as mulheres do campo e pela da ampliação dos investimentos em projetos de infraestrutura, moradia e mobilidade que melhorem a vida das mulheres. Estamos com Dilma pela garantia e compromisso com o enfrentamento a todas as formas de violência contra a mulher, ampliando-se os recursos necessários à implementação do Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres e à adequada aplicação da Lei Maria da Penha. Estamos com Dilma pela garantia do fomento ao desenvolvimento de políticas que viabilizem o compartilhamento das tarefas domésticas e de cuidados, entre homens, mulheres, Estado e sociedade. Sabemos que a eleição de Dilma representa um passo importante na construção da igualdade entre homens e mulheres e que apenas o projeto que ela representa garantirá nosso avanço em direção a uma sociedade mais justa, solidária, igualitária e soberana. Estamos com Dilma porque queremos ser protagonistas das mudanças que farão deste um país mais justo e igualitário.
Nós subescrevemos:

Para assinar clica em emcaminhar, vá ao final da lista coloque o seu nome e enviei para o seu mailing, com cópia para:

manifestomulherescomdilma@gmail.com

DILMA - Oscar Niemeyer, Chico Buarque e Leonardo Boff lideram manifesto de artistas e intelectuais

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Revisitando Maiakovisk. Ou sobre o silêncio pode ser mortal

Por Luiz Mello

Quando adolescente, no final dos anos 70, uma das máximas da resistência ideológica de minha geração era um trecho de poema atribuído ao russo Maiakovski, mas que é de Eduardo Alves da Costa. Intitulado No caminho com Maiakoviski, em um trecho diz assim: “Na primeira noite eles se aproximam / e roubam uma flor / do nosso jardim. / E não dizemos nada. / Na segunda noite, já não se escondem; / pisam as flores, / matam nosso cão, / e não dizemos nada. / Até que um dia, / o mais frágil deles / entra sozinho em nossa casa, / rouba-nos a luz, e, / conhecendo nosso medo, / arranca-nos a voz da garganta. / E já não podemos dizer nada”. Creio que é hora de dizermos:

SOMOS LÉSBICAS, TRAVESTIS, GAYS E TRANSEXUAIS. SOMOS MULHERES E FAZEMOS ABORTOS. REIVINDICAMOS ACESSO IGUALITÁRIO AO CASAMENTO, À UNIÃO ESTÁVEL, AO DIVÓRCIO, À INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL, À BARRIGA DE ALUGUEL, À ADOÇÃO. QUEREMOS TER DOIS PAIS HOMENS OU DUAS MÃES MULHERES. SOMOS CATÓLICOS-AGNÓSTICOS-UMBANDISTAS-EVANGÉLICOS-ATEUS E ESTAMOS EM TODOS OS LUGARES.

Não há nenhuma necessidade real de pertencermos a qualquer desses grupos ou de desejarmos usufruir qualquer dos direitos que lhes são negados. O fundamental é ter a clareza de que não se trata apenas de uma ameaça à cidadania e mesmo à sobrevivência física de pessoas homossexuais, travestis, transexuais e de mulheres heterossexuais, embora a garantia de seus direitos humanos seja um imperativo absoluto. Num nível além das aparências mesquinhas, o que está em jogo é algo precioso para todas as pessoas, por serem princípios fundamentais da vida democrática: a laicidade do Estado, a liberdade e autonomia dos indivíduos, a garantia da igualdade na esfera pública.
Agora são as mulheres e os segmentos LGBT os alvos do desejo de morte física e simbólica dos que se auto-intitulam representantes da única concepção aceitável de vida e de humanidade. Amanhã continuarão a ser eles, concretamente expulsos de seus trabalhos e perseguidos rua afora, por termos feito abortos ou por amarmos um igual... Depois de amanhã, ... poderá ser qualquer um que se torne o o(a)bjeto da ira dos intolerantes seguidores de um deus inventado para justificar uma lógica perversa de manutenção de privilégios, para os de sempre: machos-dominantes-heterossexuais e os que com eles se macomunam. Basta olhar quem são os donos do poder e quem ocupa majoritariamente os espaços de decisão política de nossa sociedade – nos poderes legislativo, judiciário e executivo, nas igrejas, no tráfico de drogas, na estrutura policial, etc.
Não sei se é lenda, mas há alguns anos ouvi uma história incrível: quando os nazistas invadiram a Dinamarca, não conseguiram prender grande número de gays e lésbicas, diferentemente do que ocorreu em muitos outros países durante a segunda guerra mundial. Antes que as prisões se tornassem um fato irremediável, centenas de milhares de dinamarqueses começaram a usar voluntariamente em suas roupas o símbolo do triângulo rosa invertido, empregado por nazistas para identificar homossexuais nos campos de concentração. A solidariedade foi a fonte da resistência. Não é à toda que muitos anos depois a Dinamarca tornou-se o berço dos direitos conjugais de lésbicas e gays na contemporaneidade.
Apenas por muito pouco estamos hoje distantes das mãos dos que se sentem no direito de dizer quem deve e quem não deve viver – e como viver -, seja por razões de Estado, seja por razões religiosas. Isso é inaceitável. Quando um grupo de pessoas se vê na iminência de perder direitos de cidadania e humanos por terem se tornado o bode expiatório da vez, toda a estrutura democrática da convivência humana está ameaçada. Num momento em que o machismo homofóbico é nitroglicerina pura e o combustível ideológico das igrejas nas disputas de poder relacionadas a um projeto de sociedade que nega direitos sexuais e reprodutivos a grupos específicos, um caminho de resistência talvez seja dizermos que somos tod@s ess@ outr@ que querem calar, castrar, excluir e aniquilar. E é urgente fazermos isso agora, desobedientemente, sem medo de assumirmos politicamente a rebeldia do oprimido que se revolta e não aceita as bases da vida desumanizada que lhe está sendo imposta. Se nos calarmos neste momento, talvez amanhã não possamos dizer mais nada.

Prof. Luiz Mello é pesquisador do Ser-Tão e professor da Universidade Federal de Goiás no curso de Ciências Sociais