segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Secos & Molhados: Os Gerrilheiros - Pops X O Dragão da Maldade – I


Procurando na web a data oficial do lançamento do primeiro disco do grupo Secos & Molhados encontrei o site http://jeocaz.wordpress.com/2009/11/26/secos-molhados-o-gato-preto-cruzou-a-mpb que, além informar a data exata, faz um histórico detalhado da carreira desta banda que marcou profundamente a música brasileira. Portanto, deixo o link pra que vocês possam assessá-lo e conhecer mais sobre a história do grupo que contribuiu efetivamente com revolucionou na música tupiniquin.

Introduzindo o artigo do Marcelo Dolabela gostaria apenas de ressaltar a importância do Secos & Molhados a partir do olhar e da audição de um garoto de oito anos que vivia numa cidade com uma população entre vinte e trinta mil habitantes. Esse garoto era eu e a cidade Jataí, sudoeste do estado de Goiás.

O disco foi lançado no dia 6 de agosto de 1973. Eu completei 8 anos no dias 5 de agosto. Até então, a minha introdução no universo musical estava assentanda basicamente na música caipira de raiz (redundância), embora já ouvisse através da rádio Difusora de Jataí (AM) alguns sucessos dos Beatles, Stones, Chico Buarque, Caetano Veloso, Tim Maia, Rita Lee e, claro, os cantores populares Amado Batista, Agnaldo Timóteo dente outros. Mas sem dúvida, o forte ainda era Tonico e Tinoco e as grandes duplas caipiras da época.

Mas foi a partir da audição daquelas canções incríveis que o garoto viu seu universo sonoro virar de cabeça pra baixo. Quando me dei conta estava cantando cotidianamente "O Vira", "Rosa de Hiroshima", "Patrão Nosso de Cada Dia", "Assim Assado" e "Sangue Latino". Mas surpresa mesmo foi assistir ao lado de meu pai em setembro de 73, ao vivo e em "preto e branco", o clip de uma canção do Secos & Molhados no programa Fantástico da Rede Globo. Aquela imagem das cabeças cortadas cantando e servidas numa bandeja, certamente, foi um divisor de águas na minha vida. Posso afirmar categoricamente que a música, o visual e a coregorafia do grupo provomeu uma revolução no meu olhar infantil que me influenciaria por toda minha vida.

Daí a meu encantamento com o Secos & Molhados e o desejo de divulgar sempre a sua trajetória apoteótica! Hoje coleciono discos de vinil e devo ter umas doze edições desse primeiro disco. Já agraciei vários amigos com essa preciosidade e, sempre que encontro o disco em algum sebo, não reluto em adquiri-lo.

Há anos fui presenteado pelo amigo Manoel Napoleão com este artigo sobre o Secos & Molhados que publico abaixo. Por muito tempo ele ficou perdido na minha casa. Sempre que comentava sobre o grupo eu mencionava o texto. Confesso que já havia perdido a esperança de reencontrá-lo. Como não havia guardado o nome do autor, realmente, acreditei que guardaria na memória apenas a idéia geral do autor sobre a trajetória do grupo. Todavia, revirando a minha papelada acabei encontrando o artigo que agora compartilho com vocês. Espero que gostem!
Ah, o autor termina o texto avisando que na próxima semana publicará outro artigo sobre "as 13 canções do disco". Consegui estabelecer contato com ele e estou aguardando a referida publicação. Estou super curioso!!!

Marquinho

Secos & Molhados: Os Gerrilheiros - Pops X O Dragão da Maldade – I

Por Marcelo Dolabela

Assim como Deus e o Diabo estão nos detalhes, a História – que é o embate dialético entre essas duas forças (a divina & a diabólica), também está nos detalhes.
Entender os detalhes, que, às vezes, não são tão desprezíveis assim, como já faz a “escola” surgida a partir dos pressupostos de Walter Benjamin, dá uma nova dimensão aos grandes fatos.
No ano passado, comemoramos o trigésimo aniversário de um desses “detalhes” que, de forma nova e inusitada, nos permite ler e entender um pouco mais as etapas e as fases da ditadura militar.
Falo do ano de 1973, apogeu do “milagre brasileiro”, antevéspera da primeira “crise do petróleo”, na penumbra do governo do General Emílio Garrastazu Médici (1905-1985); e do primeiro álbum do grupo Secos e Molhados, o “detalhe” exuberante da “grande história”.
Em tudo, o álbum é surpreendente. Da capa às canções. Dos integrantes ao sucesso.
O Secos & Molhados foi criado em novembro de 1971, em São Paulo. A partir de uma mistura, bem ao feitio tropicalista, de estilos: rock, pop, glitter/glam rock, MPB, música latina, música portuguesa, e muita & boa poesia (Vinícius de Moraes, Cassiano Ricardo, Fernando Pessoa, Júlio Cortazar, João Apolinário – pai de João Ricardo -, Oswald de Andrade, Solano Trindade e Manoel Bandeira).
O núcleo central, em sua primeira fase (11/71 – 08/74), trazia o dublê de cantor ator Ney Matogrosso (Ney de Souza Pereira – Bela Vista – Mato Grosso, 01/08/41); o instrumentista, compositor, vocalista e cérebro do grupo, o português, radicado no Brasil, João Ricardo (João Ricardo Carneiro Teixeira Pinto. Ponte do Lima – Portugal, 21/11/1949) e o instrumentista, compositor e vocalista Gérson Conrad (São Paulo – SP, 15/05/1952).
No acompanhamento, os músicos: Zé Rodrix (teclados e sopros); John Flavi (guitarra); Emílio Carrera (piano, órgão, percussão e gaita); Willy Verdaguer (contra-baixo); Marcelo Frias (bateria); Norival D’Ângelo (bateria) e Sérgio Rosadas (flauta e ocarina).
O Grupo foi o encontro feliz entre idéias e canções de João Ricardo com a postura, a misèen-scene e a voz de Ney Matogrosso, mais a contraforma da contribuição fundamental de Gerson Conrad e os olhos e mente de Moraci do Val, o descobridor e empresário.
O álbum foi lançado, originalmente, no formato de long playing.
A capa do disco foi eleita, pela Folha de São Paulo, em 2001, como a mais importante da história da MPB. Com lay-out de Antonio Duarte Ambrósio, sobre fotografia de Antônio Carlos Rodrigues, a capa traz as cabeças-caras cortadas e maquiadas de Ney, João Ricardo, Gerson Conrad e do baixista Marcelo Frias servidas em pratos de papel-alumínio, entre cebolas, pães, feijão, defumados, tablete de manteiga e garrafas de vinho. Como se, antropofagicamentte, o grupo fosse servido em um banquete pop-popular. A logomarca “Secos e Molhados”, manuscrita e em púrpura, faz o contraste “glitter-underground” com a prosaica mesa de refeição. E remete à dúbia abreviatura do nome. Isto é, S&M também é a abreviatura de “sado-masoquismo”.
A maquiagem do grupo é outro ponto de destaque. Glitter, pré-Kiss e contemporânea de Alice Cooper (inclusive há uma “lenda” que foi a partir do visual do S&M que o grupo Kiss criou suas “personas-máscaras”), amplifica o gesto andrógeno e circense do arquétipo grupo carioca Dzi Croquettes, de Lennie Dalle e Cláudio Tovar.
O figurino potencializa as personas-máscaras. Hippies desnudos – em destaque Ney Matogrosso – reúnem traços de folguedos luso-brasileiros com bijuterias e balangandãs circenses e carmenmirandianos. Amalgamando maquiagem e figurino, a dança erótico-andrógena de Ney.
A parte melódica é de uma simplicidade ímpar. Qualquer aprendiz dos rudimentos de violão é capaz de executar as melodias. Poucos acordes, batida folk-rock com toques lusos, latinos e brasileiros. Base mais do que propícia e sedutora para os excelentes textos das canções. Sem dúvida, uma das seleções mais felizes de toda história da música brasileira.
Treze canções constroem um ópera-pop. Esse número – 13 – não parece ser gratuito, pois nos remete ao universo simbólico e metafórico da “sacis e fadas”, bem ao gosto da ideologia do grupo. Na semana que vem: as 13 canções do álbum.

Marcelo Dolabela, poeta.

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