segunda-feira, 17 de março de 2008

A "Bruxa" Arqueóloga


Vocês já ouviram falar de alguma “Bruxa” que dedicasse seu precioso tempo para atividades ligadas a arqueologia? Pois eu posso dizer que conheço uma exceção à regra. Trata-se da “Bruxa do Vinil”, que pode ser conhecida através do blog “Abracadabra”.

A misteriosa “bruxa” tem feito incríveis “escavações” e tem trazido à luz preciosos “tesouros arqueológicos” da música brasileira que foram soterrados na poeira dos porões das grandes gravadoras. E como uma boa arqueóloga, a nossa querida "Bruxa" não trabalho só. No caso da "escavação" do disco que mencionarei abaixo, ela contou com a grande ajuda do "aprendiz de feiteiçeiro" Marcelo, companheiro do Rio Grande do Sul.

A última novidade que o “Abracadabra” nos apresentou foi o disco “O Filho de José e Maria”, do insofismável Odair José. Eu que sou goiano, conterrâneo do artista, atualmente com quarenta e dois anos de idade e ouvia, nos meus tempos da infância e pré-adolescência, os sucessos de Odair José na rádio AM de minha cidade, nunca tive a oportunidade de conhecer esse disco. Evidente que eu adorava ouvir as canções do intérprete e compositor que conquistou o coração das camadas populares do Brasil durante a década de setenta.

Quando Caetano Veloso gravou em 1973 a canção “Eu Vou Tirar Você desse Lugar” do Odair José, causou reboliço no meio intelectual que considerava a criação do artista algo menor. Agora, quando as novas gerações rendem loas ao compositor e gravaram o disco “Vou Tirar Você Desse Lugar” - Tributo a Odair José (2006), reunindo seus grandes sucessos com roupagem contemporânea, tornou-se impossível ignorá-lo.

Daí, fazendo a minha cotidiana visita ao templo da “Bruxa do Vinil”, o blog - http://abracadabra-br.blogspot.com/ – dei de cara com o disco “O Filho de José e Maria”, gravado em 1977. Mas, além de me deparar com essa “preciosidade arqueológica” da verdadeira “musica popular brasileira”, devo dizer que fiquei absolutamente impressionado com a “cozinha” dessa produção.

Como uma grande arqueóloga, a “bruxa” não deixa escapar nenhum detalhe de sua meticulosa escavação. Lá estão relacionados todos os músicos que fizeram parte da gravação do disco.

Para minha estonteante surpresa, constatei os nomes do baixista Alexandre Malheiros, do tecladista José Roberto Bertrami e do baterista Mamão, o trio responsável pelo lendário Azymuth que, durante os anos setenta e início da década de oitenta, conquistou o mercado “estadunidense” e brasileiro com sua moderna música instrumental com “sotaque” jazz fusion e pulsação brasileira.

Mas uma “cozinha” que se preze não se restringe a um bom “chefe”. Na lista consta também Robson Jorge, músico que deu uma pitada de modernidade nos teclados brasileiros na década de oitenta. Juntamente com Lincoln Olivetti, foram responsáveis por arranjos e produções de sucesso deles próprios e de grandes músicos brasileiros nesse período.

Pra fechar a relação de grandes músicos que eu conheço e que participaram desse disco do Odair José, cito também Hyldon, autor de grandes sucessos da década de setenta, dentre as quais relaciono: “Na Rua, na Chuva, na Fazenda” (Casinha de Sapê) e “Dores do Mundo”. O disco contou ainda com arranjos de Don Charley em parceria com o próprio Odair José e José Lanforge na gaita e Jaime Alem nas guitarras. Os três últimos, músicos que não conheço o trabalho.

Fiz questão de relacionar todos esses músicos que trabalharam com Odair José para enfatizar que, mesmo fazendo um trabalho considerado “brega” pela crítica brasileira, Odair José, um perfeccionista dentro do seu estilo, conseguiu arregimentar um time de primeira para garantir a sonoridade que ele acreditava que sua música necessitava. “O Filho de Maria e José” é uma grata surpresa trazida à luz pela “Bruxa do Vinil”.

Essa é a grande diferença do trabalho de nossa amiga “feiticeira virtual”, que quer nos fazer crer que todo esse seu fantástico trabalho é um passe de mágica, tipo: “abracadabra” e, de repente, temos à nossa disposição registros históricos da produção musical brasileira de todos os estilos e tendências, quando na verdade, a moça vive revirando os discos empoeirados dos sebos, em seguida vai para sua “cozinha virtual”, joga tudo no “caldeirão computadorizado” e, só depois, nos apresenta suas “poções musicais”.

Obrigado, “bruxinha”, nós te amamos!

Marquinho Carvalho