terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Fila Anda

*Neymar: "Just do It"

Por Tostão

Neymar e muitos jovens querem se exibir e mostrar que são ousados. Sempre foi assim. Hoje, mais

É PRECISO SEPARAR as coisas. Neymar tem chances de se tornar outro fenômeno do futebol. Muitos marcadores tentam pará-lo na trombada. Alguns acham ainda que Neymar quer humilhá-los.

Se Messi tentasse, no Brasileirão, driblar como fez nessa semana contra o Panathinaikos, passando a bola algumas vezes por debaixo da perna dos marcadores, receberia muitas pancadas.

Outro fato, que não anula o anterior, é que Neymar está exibicionista. Com quedas teatrais, tenta levar vantagem, chamar a atenção e enganar os árbitros. E ainda desrespeita o companheiro e o técnico do Santos.

René Simões, treinador do Atlético-GO, profissional respeitado, um dos raros que tentam dar um pouco de delicadeza e humanismo ao futebol, disse, ao escutar as palavras de Neymar durante a partida, que nunca viu, esportivamente, um jogador tão mal-educado e que estão criando um monstro.

Quis dizer monstro no sentido de não ter limites. Isso não é novidade na sociedade.
A necessidade de Neymar de mostrar que é ousado é a mesma de muitos jovens. Alguns chegam até a tirar a roupa e espalhar as imagens pela internet.

Neymar foi criado, desde menino, dentro do clube e por empresários, para se tornar um craque e uma celebridade, e não para ser um cidadão.
Precisam também parar de chamar Neymar de criança. Ele já tem 18 anos e é responsável por seus atos.

No passado, muitos atletas famosos eram também deslumbrados e transgressores. Como hoje, havia a transgressão salutar e desejável, a de não repetir a hipocrisia da vida social, e a transgressão inconsequente, como a de Neymar e a de outros jovens. O exibicionismo e a transgressão apenas ficaram mais exagerados.

Antes, as pessoas se sentiam culpadas por desejar o que não era permitido, mesmo se não fizessem nada. Hoje, a culpa é por não fazerem tudo o que desejam, mesmo o que é proibido. É uma sociedade gananciosa e narcisista.

O ex-craque Dirceu Lopes, que pecava por não ter nenhum deslumbramento, afirmava que ninguém estava preparado para a fama. Além disso, a fama empobrece o ser humano.
A sociedade do espetáculo, expressão criada por Guy Debord, em 1967, tem pressa. Neymar se tornou uma celebridade antes de se tornar um craque habitual da seleção brasileira.
Publicado no Jornal Folha de São Paulo em 19/09/2010 (Domingo)

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