terça-feira, 30 de novembro de 2010

'Dia Santo', o melhor disco do ano de 2009



Há meses escrevi um pequeno texto comentando sobre o "universo paralelo na música brasielira" dada a quantidade de jovens talentos despontando a todo tempo de norte a sul do País, apesar das rádios e as TVs insistirem em tocar apenas dois ou três ritmos.

Mas não voltei aqui para lamentar o leite derramado e sim para contar que me deparei com dois novos talentos incríveis da nossa música que acabaram de lançar os seus discos. Falo de Bárbara Eugênia (carioca residente em Sampa) e Jam da Silva (pernambucano residente no Rio de Janeiro).

O interessante é que você entra num círculo virtuoso fantástico. Eu estava fascinado com a interpretação, composições, voz e arranjos da Bárbara Eugênia e, assintindo um vídeo dela, acabei ouvindo a mesma citar que uma de suas gravações, Haru, era autoria de Jam da Silva. Ela fez questão de ressaltar o talento do garoto. Fui logo procurar o disco que ela comentou que ele havia gravado. Encontrei o cd "Dia Santo". Fantástico!!! O cd está postado no blog Discoteca Nacional. Deixo o link logo abaixo pra quem quiser conhecer o trabalho do Jam.

No blog eu pude também ler o belo artigo do Rodrigo Pinto, jornalista de O Globo, tecendo uma crítica super bacana sobre o trabalho do Jam que eu decidi postar aqui pra vocês.

Por Rodrigo Pinto, para O Globo
Em um ano em que Adriana Calcanhotto, Lenine, Roberto & Caetano, Skank, Frejat, Gilberto Gil, Tom Zé lançaram discos, só pra citar alguns entre os mais conhecidos de nossa música, e novatos e menos conhecidos como, Wado, Os Outros e Momo chegaram com ótimos trabalhos, escolho o melhor disco do ano o de estréia do percussionista e compositor Jam da Silva.

Produzido por ele e Chico Neves, "Dia santo" é um trabalho que despreza datas e rótulos, pronto para o mercado universal da música boa. Jam monta letras e arranjos em camadas, aproveitando o que a edição não linear (ou seja, vc desloca blocos de música sem precisar fazer cópias, colocando-os onde quer em sua linha do tempo musical) trouxe de melhor para a produção contemporânea. Assim, soma sons que coleta nas ruas aos que grava em estúdio, sozinho ou acompanhado pelos muitos participantes no CD.

- É um disco que leva meu nome, mas o processo é bem coletivo - ressalva. - Estas pessoas são muito minhas amigas. Não premeditei nada, nem sabia no que ia dar. Estou envolvido com música sempre. E estas pessoas estariam em qualquer churrasco em minha casa no Rio - complementa, referindo-se a colaboradores como Alberto Continentino, Isaar, Junio Barreto, Marcos Lobato, Iky Castilho, Wysa e Simone Soul.
Aberto a múltiplas influências e referências, o disco passa longe da vulgaridade, do previsível, e tem assinatura inconfundível e inimitável.

- Acho legal ser aqui e de qualquer lugar. Logicamente, uso elementos de coco, frevo, forró, mas a raiz está por baixo da terra, e pode ser que não soe para algumas como música de raiz, mas é.

Para quem não conhece Jam, é preciso dizer que este pernambucano radicado (ou enraizado, por que não) no Rio foi gravado por divas como Marisa Monte e Roberta Sá, integrou a orquestra Santa Massa, que por tanto tempo acompanhou o brilhante DJ Dolores, acompanhou gente como a francesa Camille e a banda FURTO, compôs para o cinema... enfim, o cara tem estrada.

Em "Dia santo", desconsidera formatos convencionais da música pop, desmonta a canção brasileira tradicional, extrapola convenções rítmicas para criar novos clássicos, como a música que dá nome ao CD - com auxílio da também pernambucana Isaar em um ótimo registro, em tom apropriado a sua voz - e ainda "Samba devagar", "O pedido", "Mania", "Dub das cavernas"... Vai tudo maravilhosamente bem, da pista à rede na praia ou ao MPB Player plugado nos ouvidos.

Amigos de Jam têm comentado duas coisas: primeiro, o desejo irrepreensível de que ele não cometa o equívoco que muitos músicos que levam a vida acompanhando outros músicos cometem, o de não dar prioridade à realização dos próprios shows; segundo, a curiosidade sobre como o homem vai tocar essa orquestra de grandes novidades ao vivo. Enquanto não vêm os shows, contente-se em ter "Dia santo". Para mim, o melhor de 2008.

A relação das músicas abaixo então no cd "Dia Santo" de Jam da Silva que você baixar através deste link:
http://discotecanacional.blogspot.com/2009/04/jam-da-silva-2009-dia-santo.html

01. Agô
02. Mania
03. Dia Santo, com Isaar
04. Samba Devagar, com Soba
05. Música Branca
06. O Pedido, com Junio Barreto
07. Macumba
08. Dub das Cavernas, com Moussu T
09. Capoeirando
10. Congachic
11. Chuva de Areia

Já que Xico Sá citou Gainsbourg...


Gainsbourg, artista, cantor, poeta, et.

No post anterior, comentando o disco da Bárbara Eugênia, Xico Sá fez questão de ressaltar que a música da garota tinha algo da sonoridade de Serge Gainsbourg:

"...Música cosmopolita contemporânea, maestro, devidamente matizada nas cores dos trópicos, com a Harley Davidson de Gainsbourg ao fundo, please, muito barulho nessa hora." (Xico Sá)

Então, pra quem não teve a sorte de saber desta figura impar na história da música contemporânea deixo os links abaixo. (Desculpem-me se pareço pretencioso. Não é isso, absolutamente. Apesar de ter ouvido muito este grande sucesso de Gainsbourg no Brasil só fui conhecê-lo de fato já na idade adulta)

Je t'aime... moi non plus
(quem de nós que tiver mais de 40 anos e não chafurdou nessa canção nas ondas das rádios AMs desse brasilzão, certamente vivia no exterior ou tinha problemas auditivos. rsrs)



http://dynamite.terra.com.br/blog/townart/post.cfm/mostra-apresenta-as-diversas-facetas-de-gainsbourg

Nasce mais uma estrela!!!!!

Bárbara Eugênia - Journal de BAD (2010)

Por Xico Sá

Não, amigo(a), para o bem ou para o mal, Bárbara Eugênia não é uma cantora/compositora “fofa” nem fez um disco idem. O mais fácil e confortável dos adjetivos da safra não lhe cabe, murmuro, digo, redundo, aposto, carimbo, cutuco: “Journal de BAD” vai além muito além, é disco grande. Guardemos a tentação ou ideia de fofura no bolso ou no palato. Fichas na jukebox, moedas na radiola, prepare seu espírito flamejante para um trilha passional capaz de reacender, num curto-circuito, todos os corações de néon da cidade, esquinas, fachadas, motéis, lares, cabarés, tudo muito romântico. “Bleeding my heart, oh no”, canta a moça, com a justa noção de que o amor cabe e estoura os gomos da pupila na levada psicodélica dos faróis. No acento do rock ou na chanson, principalmente nesta última, o amor cabe mais apertado ainda. Música cosmopolita contemporânea, maestro, devidamente matizada nas cores dos trópicos, com a Harley Davidson de Gainsbourg ao fundo, please, muito barulho nessa hora. Não obrigatoriamente um(a) cantor(a) se parece mais verdadeiro(a) quando interpreta e masca os seus próprios vocábulos, caso da maioria das faixas deste disco. Bárbara Eugênia, carioca que vive em São Paulo cercada de gente do mundo todo, se parece sim, crença nas suas composições, como quem acorda, pega a trilha de sonhos e submete ao assobio do namoro novo ou afoga tudo na quentura da manteiga que derrete nos cafés das manhãs. Na legítima fuga do amor que trava ou enferruja no calendário (“Agradecimento”) ou no medo do goleiro diante do pênalti (“A chave”), cuidado frágil – este lado para cima!-, aí vem a moça cronista do infortúnio e da ventura amorosa, cotidianos em desabridas letras. “Journal de BAD” é também um disco novo com o melhor dos sintomas modernos da música que se faz hoje no Brasil e em São Paulo: o ajuntamento de artistas como Junior Boca (guitarra, violão, produção e direção musical), Dustan Gallas (baixo, piano, órgão, teclados, mixagem e produção) e Felipe Maia (bateria), só para citar um trio de frente. Porque reparando ainda nos créditos, lá vem uma regravação de Fernando Catatau (“O Tempo”, Cidadão Instigado), uma composição de Junio Barreto, outra de Tatá Aeroplano, colaborações de Pupillo e Sá
Dengue (baixo e batera da Nação Zumbi), Otto na goela, Karina Buhr, Juliana R. Um mar de gente e de histórias. Conheci o “Journal de BAD”, com este mesmo título, ainda como uma espécie de newsletter afetiva distribuída por Bárbara Eugênia aos amigos e conhecidos. Aí está a origem do batismo. É o que este CD reverbera com seus arrastões de epifanias e encantos.

domingo, 7 de novembro de 2010

Civilização ou barbárie

Por Emir Sader

Esse é o lema predominante no capitalismo contemporâneo. Universalizado a partir da Europa ocidental, o capitalismo desqualificou a todas outras civilizações como ‘bárbaras”. A ponto que, como denuncia em um livro fundamental, Orientalismo, Edward Said, o Ocidente forjou uma noção de Oriente, que amalgama tudo o que não é Ocidente: mundo árabe, japonês, chinês, indiano, africano, etc. etc. Fizeram Ocidente sinônimo de civilização e Oriente, o resto, idêntico a barbárie.

No cinema, na literatura, nos discursos, civilização é identificada com a civilização da Europa ocidental – a que se acrescentou a dos EUA posteriormente. Brancos, cristãos, anglo-saxões, protestantes – sinônimo de civilizados. Foram o eixo da colonização da periferia, a quem queriam trazer sua “civilização”. Foram colonizadores e imperialistas.

Emir Sader, sociólogo e cientista, mestre em filosofia política e doutor em ciência política pela USP - Universidade de São Paulo.

Texto completo postado site da Carta maior:
http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=604

Aécio nos embalos da ultradireita: até 'Sual Alteza Imperial' palestra sobre reforma agrária

O Instituto Millenium promove um Fórum em Minas Gerais, com a benção de Aécio Neves, e escolhe para palestrar sobre Reforma Agária... um monarquista, além da Senadora Kátia Abreu (DEMos/TO).Mas o monarquista não é um qualquer, é "Sua Alteza Imperial e Real, o Príncipe" Dom Bertrand de Orléans e Bragança, descendente da família real, membro da TFP, coordenador e porta-voz do movimento Paz no Campo (uma espécie de anti-MST ideológico), cuja sede é no mesmo endereço da Associação dos Fundadores da TFP."Sua alteza" percorre o Brasil fazendo conferências para ruralistas e empresários. Do "alto de sua realeza", considera a Reforma Agrária e os movimentos sociais "nocivos" para os "rumos da civilização cristã", construída na concepção de seus antepassados, onde o lugar que cabia ao trabalhador rural era a senzala.No mesmo Fórum, intitulado "1ª Edição MG – Fórum da Liberdade: Os Valores da Liberdade", Roberto Civita, o dono da revista Veja, recebe (ou entrega, não está claro na programação) o "Prêmio Liberdade".Além de "Sua Alteza Imperial", e além de Aécio Neves (PSDB/MG), o governador Anastasia (PSDB/MG) palestra na abertura, e o ex-presidente FHC encerra o Fórum.

Publicado no blog Amigos do Presidente:
http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com/2010/11/aecio-nos-embalos-da-ultradireita-ate.html

sábado, 6 de novembro de 2010

Bomba! Bomba! A próxima capa da veja

Qual a capa você gostaria de ver na Veja?





Retirado do blog "Conversa Afiada" de Paulo Henrique Amorim
http://www.conversaafiada.com.br/pig/2010/11/03/bomba-bomba-a-proxima-capa-da-veja/

Serra tenta um terceiro turno em Biarritz e perde de novo

Por Luis Leblon

Na mesma sexta-feira em que o Presidente Lula fez um balanço das eleições, em cadeia nacional, no qual exortou situação e oposição a defenderem seus pontos de vista respeitando-se mutuamente, o candidato derrotado José Serra disparava uma saraivada de críticas ao chefe de Estado brasileiro em palestra proferida em Biarritz, na França.Depois de acusar o governo de se unir a ditaduras e, Lula, de praticar 'populismo de direita' em matéria econômica --numa referencia à valorização do real, que o solerte tucanoa acredita sr um probelma de cunho apenas nacional...-- , o ex-governador de SP foi interrompido pelo grito vindo da platéia: "Por qué no te callas!?". Houve um enorme alvoroço na sala e bate boca entre o conferencista e presentes --detalhes omitidos pela cobretura da mídia democtucana, naturalmente. Inútilmente. O episódio incorpora-se à biografia do candidato derrotado como uma espécie de bolinha de papel sonora que vai marcá-lo definitivamente, tanto quanto o episódio original. Urbi et orbe Serra justifica a fama de personagem arestoso, dotado de conveniente desapego à verdade e um reptilíneo pendor pelo método da calúnia.

Postado por Saul Leblon às 03:05 do dia 6/11/2010 em Carta Maior
http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=606

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Plínio afirma que preferiria governo Serra ao de Dilma


Plínio deixa claro que considera que um eventual novo governo encabeçado pelo PSDB "seria ruim também". Ele avalia que a gestão de Dilma Rousseff, eleita no dia 31, é "um horror", e que ocorrerá uma nova forma de mensalão. "No (eventual governo) Serra, temos a repressão, em Lula a cooptação", qualificou. "Acho mais favorável (para a esquerda) a repressão, que aliás já enfrentei. Mas é melhor porque a repressão unifica, as pessoas se unem, vão para as ruas", especulou.

Fiz questão de negritar o parágrafo acima para que ressaltar alguns depoimentos do senhor Plínio de Arruda Sampaio que eu considero importantíssimos para serem debatidos.
Quando li, sobretudo, a seguinte frase: "Acho mais favorável (para a esquerda) a repressão, que aliás já enfrentei.", confesso, fiquei absolutamente chocado.

Vejam, jamais utilizaria qualquer argumento contrário a este senhor em função da sua idade avançada em razão do enorme respeito e carinho que tenho pelos anciãos. Além do mais, é importante mencionar que os estudos de história, sociologia e antropológia registram em muitas culturas deste planeta a importância fundamental dos mais velhos, onde são considerados os guardiões da sabedoria e respeitados como tal.
Daí, portanto, o meu assombro diante de depoimentos tão escdruxulos e canalhas. Afirmar que o senhor Plínio de Arruda Sampaio está esclerosado eu também não podeira fazê-lo já que não sou médico e muito menos estive com ele para poder fazer qualquer suposição desta natureza. Portanto, só me resta afirmar com bastante convicção: este homem é um grande canhalha!!!

Afirmo isto porque não posso admitir que uma pessoa que tenha vivido e, segundo o próprio, enfrentado "os anos de chumbo" da ditadura imposta no Brasil a partir de 1964, tenha coragem de afirmar que a repressão é mais favorável para a esquerda. Fico pensando numa mãe, numa esposa, num irmão, num pai, num amigo que tenham perdido um ente querido morto pela terrível repressão que se intalou no Brasil durante mais de vinte anos. Não é possível que a mágoa que o senhor Plínio tenha do Partido dos Trabalhadores, partido este que ele ajudou a fundar, justifique esta afirmação bizarra. Portanto, só me resta afirmar categoricamente: Plínio Soares de Arruda Sampaio é um tremendo canalha!!!

Caso alguém queira conhecer o conteúdo integral da entrevista do canalha basta acessar o link abaixo.
Link do Jornal do Brasil

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Mil Palavras


Versátil, roteirista de Ladrões de Bicicleta (1948) Suso D’Amico foi além

Por José Geraldo Couto
Se não tivesse feito mais nada, a romana Suso Cecchi D’Amico (1914-2010), que morreu em 31 de julho, aos 96 anos, mereceria figurar na história do cinema pela pungente sequência final que escreveu para Ladrões de Biclicleta (1948), de Vittorio De Sica: na saída de um jogo de futebol, um trabalhador desempregado é pego roubando uma bicicleta e sofre diante do filho uma humilhação brutal.

Mas Suso, cujo nome de batismo era Giovanna, fez muito mais que isso. Ao longo de seis décadas, participou da escrita de mais de cem filmes, em alguns deles sem receber o devido crédito, caso de A Princesa e o Plebeu, de William Wyler, e Caravaggio, de Derek Jarman.

Sua entrada no mundo do cinema se deu de modo curioso. Filha de um escritor e uma pintora, ela tinha feito traduções e trabalhado como secretária de um ministério até ser chamada pela produção do clássico neorrealista Roma, Cidade Aberta para dar aulas de boas maneiras a Maria Michi e de conversação em inglês a Giovanna Galletti, atrizes do filme.

Criativa, versátil e laboriosa, Suso D’Amico trabalhou com os principais diretores italianos de seu tempo. Escreveu comédias para Monicelli, épicos políticos para Francesco Rosi, dramas existenciais para Antonioni.

Sua parceria mais profícua foi com Luchino Visconti. A partir de Belíssima (1951), participou da escrita de todos os filmes do mestre. Desprovida de vaidade, Suso trabalhava frequentemente em colaboração com outros escritores e dizia que, no cinema, “a palavra está a serviço da imagem”. Poucos entenderam isso. Poucos criaram como ela palavras e imagens tão duradouras.

Acesse o link abaixo e confira as dicas de José Geraldo Couto sobre outros filmes que tiveram a participação de Suso Cecchi D’Amico:

http://www.cartacapital.com.br/cultura/mil-palavras

*José Geraldo Couto publica em CartaCapital todas as semanas uma coluna sobre cinema intitulada "Na Calçada da Memória"

A oposição no divã


Por Lúcia Avelar - professora titular de Ciência Política/Instituto de Ciência Política/Universidade de Brasília. Pesquisadora do CNPq. Membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz

As legendas de centro-direita terão de mudar a forma de recrutamento e de organização e apresentar seu programa de governo com mais clareza

"A vitória de Dilma Rousseff tem bases mais sólidas do que parece à primeira vista. Não se deve apenas à popularidade de Lula e ao bom desempenho da economia. Há um realinhamento eleitoral que vem se desenhando desde 1994, o adensamento da sociedade civil organizada, a percepção de que há governos que fazem diferença – para melhor – na vida das pessoas, a emergência de um sentimento de identificação e solidariedade com a coletividade destituída, e de que é possível governar também para ela."

Leia o texto completo no link abaixo retirando do site da Revista CartaCapital

http://www.cartacapital.com.br/politica/a-oposicao-no-diva/print/

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dilma e a vitória da militância



Por Renato Rovai

Dilma venceu as eleições de ontem com 12 milhões de votos em relação a José Serra. Não é pouco. Mas também não é tanto quanto parece. Não fosse a militância ter assumido a disputa como sua, ao final da primeira semana do segundo turno, e provavelmente a vaca teria ido para o brejo mesmo depois de o PT e partidos aliados terem construído com Lula o governo mais popular da história do país.

Na segunda-feira dia 11, logo depois do debate da TV Bandeirantes a diferença entre Dilma e Serra bateu em quatro pontos no tracking interno do PT. O sinal amarelo, porém, tanto para a militância quanto para a coordenação de campanha já havia ascendido antes, no meio da semana anterior, quando a diferença começou a cair e a sensação era de que tanto o programa de TV de Serra estava melhor quanto como a pauta do segundo turno era ditada por ele, com relevância especial para o tema do aborto, que havia ganhado uma centralidade sem sentido nos debates públicos.

Foi essa sensação que fez com que nas redes sociais e nos blogues os militantes passassem a exigir de Dilma uma postura mais aguerrida no debate da TV Bandeirantes. No sábado e no domingo do debate a pressão foi imensa.

Blogueiros e tuiteiros queriam que ela não deixasse nada sem resposta e que comparasse a gestão tucana e os governos de Lula principalmente em relação à valorização do Estado e aos investimentos sociais. E pediam que Dilma enfrentasse com coragem a questão do aborto.

Na coordenação de campanha havia dúvidas se essa era a melhor estratégia. Um setor preferia uma Dilminha mais paz e amor, que tocasse a bola de lado contando com a enorme popularidade de Lula para chegar a vitória, como se ela fosse inevitável. Outro grupo defendia uma candidata mais firme. E Dilma também não estava satisfeita no figurino de mulherzinha comportadinha e boazinha. Queria enfrentar Serra. Queria deixar claro que era diferente e melhor do que ele. E foi para o debate com sangue nos olhos.

Dilma não poupou o tucano do primeiro ao último minuto do encontro. Fez o que a militância queria e não só mudou a pauta do debate do segundo turno, que migrou de aborto para privatizações, como também encheu de brios seus apoiadores que foram para a rua enfrentar o debate político.

Após o debate, registrei isso num post. Não tenho dúvida de que aquele foi o turning point da campanha – como gostam de dizer os gringos. Ou seja, o momento da virada do segundo turno. Se Dilma não assumisse tal postura no debate da Band, Serra poderia ter virado o jogo na semana que entrava.

Ao demarcar campos, Dilma deu mostras de que se tratava de uma disputa entre dois projetos distintos e que de alguma forma a esquerda e o movimento social progressista só tinham um lado para ficar. Com algumas exceções, foi isso que aconteceu.

Sindicatos, MST, feministas, defensores da democratização da comunicação, blogueiros progressistas, ecologistas sérios, artistas comprometidos, lutadores de todos os setores tornaram as três semanas que separaram o debate da Band do dia de ontem nas mais intensas de uma disputa política desde a redemocratização.

Dilma foi eleita com 12 milhões de votos de diferença. Não fosse o apoio decisivo desses setores e a história poderia ser diferente.

Isso não é ruim. É ótimo. O governo de Dilma terá de dar especial atenção a esses setores, que não tem reivindicações privadas, mas públicas. E de interesse público.

O segundo turno foi ótimo para a futura presidenta da República. Sua vitória vem com marca de povo, de luta social, de projeto democrático, com a força da esquerda.

Dilma terá de fazer um governo que avance nas conquistas já obtidas nos oito anos de Lula. É isso que vai lhe fazer governar junto com quem lhe garantiu a vitória de ontem, a militância.

PS: Agradeço a todos que ajudaram a construir o 48 horas democracia. Foi uma experiência sensacional e que marcou a história profissional deste blogueiro.

*Renato Rovai é editor da Revista Fórum

Dilma, a vitória da esperança

Por Wladimir Pomar

A eleição de Dilma foi uma vitória contra o tradicional machismo herdado do escravismo colonial e do antigo latifúndio. Foi uma vitória contra o conservadorismo e o reacionarismo de uma direita travestida de social-democrata. Foi uma demonstração de que a grande imprensa já tem dificuldade em manipular as mentes e corações do povo.

Mas foi, sobretudo, uma vitória da esperança e da expectativa das camadas populares do povo brasileiro na continuidade e no aprofundamento das melhorias e reformas que lhe interessam. Foi também uma vitória das militâncias petista, democrática e popular, que voltaram às ruas para disputar, no corpo a corpo, os votos dos indecisos e dos enganados. E uma vitória da campanha, que diante da ameaça de derrota, desceu do salto alto e, mesmo atrasada, decidiu travar a disputa política e enfrentar os ataques e a baixaria.

Mais do que todas as campanhas já realizadas pelo PT, a campanha Dilma terá que ser avaliada em profundidade, em especial pelos cenários com que o novo governo e o partido se defrontarão desde já. É significativo que, ao discurso de Dilma, estendendo as mãos à oposição, Serra tenha respondido apenas com um grito de guerra pela “liberdade, pela democracia e pela nação”. Em outras palavras, ele simplesmente sinalizou que não haverá trégua.

A direita brasileira e internacional não se conforma com mais quatro anos de governo de coalizão, dirigido pelo PT. Assim, embora o governo democrático e popular deva adotar uma tática de abertura para negociar, de modo a obter maiorias significativas e consensos em torno dos projetos de grande interesse do país e do povo, não pode nem deve nutrir ilusões de que o PSDB e seus aliados pretendam a mesma liberdade, a mesma democracia e a mesma nação que interessa à esmagadora maioria do povo brasileiro.

A discussão desses temas, que ficaram totalmente abandonados no primeiro turno, e não puderam ser aprofundados no segundo, terão obrigatoriamente que constar da pauta de trabalho do PT e do governo. Temos defendido que, estar na direção do governo não isenta o PT de fazer política. Ao contrário, exige que ele se empenhe ainda mais em conhecer as reivindicações e expectativas das grandes camadas populares e da classe média, tanto as antigas que não foram satisfeitas, quanto as novas, e responder a elas com propostas concretas e os correspondentes apelos de mobilização.

A melhoria das condições de vida de uma parte considerável da população, tendo por base as ações do governo Lula, não são um fim em si mesmo. A elevação do poder de compra suscita agora, nessas camadas populares, a necessidade de ter moradia, saúde, educação, cultura, saneamento básico, transportes e outros serviços públicos. Além, é claro, de manter a oferta dos produtos básicos de alimentação e vestuário a preços acessíveis.

Tudo isso exige altos investimentos e a democratização das ofertas, com a mobilização de amplas forças econômicas e sociais para garantir sua concretização. Essa é uma disputa real em torno dos conceitos de liberdade, democracia e nação, inclusive no imaginário de uma parte da classe média, que se vê ultrajada pela ascensão, mesmo pequena, das chamadas classes C e D.

Se o PT e seus aliados de esquerda não entrarem nessa disputa, que é tanto econômica e social, quanto política e ideológica, a diferenciação entre a liberdade, a democracia e a nação que queremos, e aquelas defendidas pelo PSDB e pela direita que representa, não serão esclarecidas. Na falta dessa diferenciação, continuarão a replicar-se fenômenos como os do Tiririca, derrotas em regiões onde Dilma venceu, mas seus candidatos a governador e a senador perderam, e a emergência de supostas terceiras vias, para mascarar a disputa de projetos diametralmente opostos.

Em outras palavras, apesar dos avanços dos oito anos de governo Lula e da popularidade imensa do presidente, a correlação entre as principais forças políticas em disputa não tiveram uma mudança decisiva. Serra ainda obteve 44% dos votos do eleitorado, o PSDB conquistou os governos de estados importantes como São Paulo, Minas, Paraná, Goiás e Pará, e sua bancada no Senado e na Câmara continua considerável.

Numa visão realista do Congresso, apesar do avanço dos partidos de esquerda, o centro e a direita ainda são majoritários em suas duas casas. A suposição de que Dilma possui o apoio da maioria dos congressistas pode ser verdadeira para a disputa eleitoral, mas certamente não será verdadeira para projetos que firam interesses patrimonialistas e pretendam substituí-los por interesses nacionais e populares, e ampliar os direitos democráticos e as liberdades. Eles certamente encontrarão resistências de todo tipo.

Portanto, o PT precisará libertar-se da ilusão de que teria conquistado aquilo que, em termos militares, chama-se de batalha decisiva. Conquistou uma vitória importante, mas ela o obrigará a uma verdadeira reviravolta em sua concepção atual de fazer política, se quiser avançar mais do que o governo Lula, que é o que se espera do governo Dilma.

O PT não pode continuar acreditando que o fato do governo democrático e popular aplicar políticas que beneficiem as camadas populares significa, de antemão, uma percepção popular de que a melhora de suas condições de vida, como emprego, salários e aumento da renda, são resultados diretos de tais políticas. Tal percepção fica ainda mais nublada na situação, como a brasileira, em que o foco principal é o desenvolvimento das forças produtivas. O que significa, queira-se ou não, uma melhoria ainda maior da lucratividade das empresas e da burguesia e a manutenção das grandes diferenças de renda.

Por não haver compreendido que essa contradição não pode ser abolida administrativamente, mesmo que tivesse ocorrido uma revolução popular vitoriosa no Brasil, uma parte da esquerda transformou-se em oposição ao governo Lula e o acusa, assim como ao PT, de haverem se tornado “capitalistas”.

De outro lado, grande parte da esquerda que apóia o governo, inclusive o PT, se deitou no berço esplendido da enorme popularidade de Lula. Abandonou o trabalho político árduo de discutir tais questões com as camadas populares e a classe média e de elaborar novas propostas de avanço nas reformas que o Brasil necessita, inclusive numa perspectiva socialista.

Desse modo, deixou inclusive que algumas de suas bandeiras tradicionais fossem levantadas como armas de combate contra ela própria. Para complicar ainda mais, acreditou que a burguesia estava satisfeita com o desenvolvimento da economia e viria em bloco no apoio ao candidato que Lula apontasse. E subestimou a capacidade de articulação política do setor burguês de oposição ao governo democrático e popular.

Ou seja, por um lado alimentou ilusões de que a luta de classes acabara e, por outro, foi arrogante em relação ao inimigo. Tais concepções levaram o PT e essa parte da esquerda a não entenderem que as alianças com uma parte da burguesia não significam apenas unidade em torno do desenvolvimento das forças produtivas, mas também luta, com razão e com limite, pela maior participação na política, por melhores salários e melhores condições de trabalho e de vida, e por outras reivindicações populares.

Aquelas concepções também contribuíram para que parte do PT e da esquerda não atentassem para a necessidade de aprender a combinar a defesa do governo democrático e popular com a direção prática das lutas dos trabalhadores e das camadas populares, seja para forçar o governo de coalizão a avançar no atendimento das reivindicações populares e democráticas, seja para forçar a burguesia a dividir parte de seus lucros.

Em outras palavras, aquelas concepções obscureceram a necessidade de praticar unidade e luta, tanto dentro do governo, quanto na sociedade. Se o PT e a esquerda que estão no governo houvessem praticado essa combinação política, pelo menos durante o segundo mandato do governo Lula, as condições políticas para a campanha eleitoral seriam diferentes.

Como não o fez, continuou acreditando que estava totalmente certa e, ainda por cima, cometeu uma série de erros estratégicos e táticos durante a campanha Dilma do primeiro turno. É certo que a superação parcial desses erros no segundo turno levou à vitória. Mas achar que isto resolve os problemas que estão pela frente pode ser um erro ainda mais grave. Principalmente após ouvir o brado de Serra de que a “luta continua”.